É a forma mais simples de explicar o fenómeno: “os polos estão para a Ralph Lauren como o rato Mickey está para a Disneyland ou o Empire State Building para Nova Iorque”, lê-se nas páginas de boas vindas da edição com carimbo Rizzoli que celebra 50 anos de um marco na moda casual, entre ubiquidade, aspiração e democracia nos hábitos de consumo.

Desabotoado, com os colarinhos levantados, ou numa versão mais aprumada, sob um casaco, o otimismo do estilo americano veste esta peça cuja história “nunca foi sobre roupa, mas sobre uma forma de vida”. Da Ivy League à foto da graduação, dos fins de semana no mar aos estádios Olímpicos onde desfilam atletas, nos EUA e pelo mundo fora, a história do polo, a peça lançada em 1972 por Ralph Lauren, conta-se ao longo de 544 páginas.

Tem diferentes opções de capa e cores, sempre a 35 euros, no site da marca. Basta escolher a composição © Ralph Lauren

Para o designer que se estreou a vender gravatas na escola, com apenas 12 anos, filho de refugiados bielorrussos que partiram em busca do sonho americano, a ideia era clara: chegado a esses primeiros anos da década de 70 o material e o peso (neste caso leveza) usados na peça eram determinantes para o sucesso, para uma garantia de conforto e leveza. Todos os pormenores, dos botões ao emblema, fazem a diferença — e elevam a fasquia quando enfrentam tentativas de contrafação, naquele que será um dos ícones mais copiados do planeta moda.

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O recurso ao puro algodão era ponto de honra para o criador numa era de consolidação do rival poliéster. E em vez de reciclar a clássica camiseta que deu cartas nos courts de ténis, impôs a sua novidade com o lançamento de 24 cores e um slogan impróprio para materiais menos nobres: “melhora com a idade”. Quanto à famosa insígnia, mais conhecida como The Poney, introduzido por um criador que nunca foi a um jogo de polo na vida, tornou-se uma instituição têxtil, um ano depois de aparecer pela primeira vez no punho de uma camisa feminina da marca, originalmente criado com fins publicitários. São 3.1 centímetros de altura e 900 pontos as referências obrigatórias para obter esta imagem que perdura — em 2006, e para se tornar mais visível aos espectadores que seguiam pela TV eventos como o torneio de Wimbledon ou o US Open, a que a marca se associara, as t’shirts passaram a exibir um “Big Poney”, de maiores dimensões.

Peça fundamental do guarda-roupa masculino, e feminino, …e até dos companheiros de quatro patas, as origens do modelo remontam aos campos de polo do século XIX, com a formalidade inicial a deixar-se vencer pelo rótulo de clássico desportivo. Consta que militares britânicos estacionados em Manipur, na Índia, terão importado esta tradição para o reino, onde se tornou símbolo de riqueza e pedigree. Mas a maior das revoluções neste campeonato coube a um famoso crocodilo.

A verdade é que o polo entretanto popularizado consagrou-se numa outra modalidade, o ténis, com os exemplares em tons de branco a marcarem os primeiros anos de 1900, então ainda em manga comprida. Coube à estrela francesa Jean René Lacoste, vencedor de sete títulos do Grand Slam, e conhecido como Le Crocodile, pela agilidade e shot poderoso, tornar a peça mais prática. Em 1933, já retirado dos campos e em parceria com o fabricante André Gillier, nasceria La Chemise Lacoste.

Em 1951, já fabricantes norte-americanos disputavam a licença para produzir polos Lacoste nos EUA, acessório que em poucos anos ganhava reputação no lifestyle norte-americano, dos campos de golfe à foto de turma, um sucesso consistente que seguiu o seu caminho na década seguinte, beneficiando das inovações tecnológicas, as mesmas que relegaram para segundo plano o piqué de algodão. O novo tecido afirmava-se como mais prático, para uso diário ou em contexto desportivo, e menos propício a ver a sua cor desmaiar ou debotar.

Transformações que não convenceram o então ainda jovem designer Ralph, que procurou o piqué perfeito para emular a patina de uma peça feita para durar e perdurar. Uma criação que ao longo das últimas cinco décadas conheceu as mais variadas encarnações. Cresceu em cores, vestiu cães com o mesmo orgulho com que vestiu os seus donos, adotando o não menos ilustre puppy fit, e abriu o leque de cortes, adaptando-se aos diferentes gostos e exigências, em vez de seguir o one-size-fits-all. Do modelo original, confortável mas não excessivamente baggy, ao Polo big, passando por uma versão mais justa e cropped dirigida ao público feminino. E como o mundo não tem que ser liso, introduziu mais ecletismo com as riscas, as mesmas que recuperou anos depois de aparecer numa foto com uma inspiradora t’shirt listada com suspensórios e calções, corria o ano de 1946.

Com textos a cargo de Ralph Lauren, do seu filho do meio, David Lauren, e ainda do realizador Ken Burns, a obra passa em revista detalhes de produção, reconstitui o trajeto da peça ao longo dos anos, e não esquece os rostos que ao longo dos anos vestiram o famoso polo. Da galeria de celebridades, com nomes bem conhecidos, às histórias de anónimos cujas vidas se cruzaram de forma relevante com uma destas peças.

Ralph Laure’s Polo Shirt, Rizzoli, abril 2022, 35 euros

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