Horas depois de ser anunciada a saída de Tiago Guedes do Teatro Municipal do Porto (TMP) para dirigir a La Maison de la Danse de Lyon, a Sala D. Maria, no edifício dos Paços do Concelho, encheu-se de jornalistas e colaboradores da instituição para uma conferência de imprensa.
Tiago Guedes, coreógrafo e programador cultural, levava consigo um discurso escrito, começou por dizer que os oito anos como diretor artístico do TMP “transformaram” a sua vida e aproveitou a ocasião para agradecer ao autarca do Porto, “um chefe”, mas também “um amigo”. “As condições políticas que aqui encontrei e a estratégia para a cultura defendida por Rui Moreira projetaram o Porto à escala mundial (…) as condições que me deu para trabalhar contribuíram para que agora fosse escolhido para dirigir duas grandes instituições europeias”, afirmou, referindo-se não apenas à Maison de la Danse de Lyon como também à Bienalle de la Danse.
Tiago Guedes deixa Teatro Municipal do Porto para dirigir Maison de la Danse em Lyon
Tal como já tinha confessado em entrevista ao Observador, “poucos ou nenhuns” seriam os projetos que fariam Tiago Guedes abandonar o cargo e a cidade, porém, este novo desafio profissional era “irrecusável” e surgiu no tempo certo. “Defendo que os que os diretores artísticos não se devem eternizar nos seus cargos, é saudável para as instituições que isso não aconteça. Esta oportunidade e timing pareceram-me ser os corretos para tentar novos desafios.”
Além de dirigir o TMP, composto pelos teatros Rivoli e Campo Alegre, o coreógrafo e programador cultural era também responsável pelo festival de Dança DDD e pelo Campus Paulo Cunha e Silva, espaço de criação artística. “Estes projetos aguardaram a projetar culturalmente o Porto, que hoje ombreia os seus pares europeus. O Porto neste momento é uma referência para as artes performativas, é um orgulho ter ajudado que tal acontecesse. O terreno está assim bem lavrado para que estes projetos possam seguir o seu rumo”, sublinhou.
Tiago Guedes, natural de Minde, chegou ao Porto em 2014, numa altura em que Rui Moreira presidia a autarquia há apenas um ano e “havia muito para fazer, mas também muito entusiasmo”. “Só agora é que começamos a acalmar um pouco, quando isso acontece também é o momento de dar a energia que ainda tenho a outros sítios. É um descanso saber que é muito bom sair quando as coisas estão muito bem.”
O programador português ficou entre seis candidatos de uma short list e terá convencido o júri com um projeto em três frentes — a Maison de la Danse, a Bienal de Lyon e os Ateliers de la Danse, estruturas-irmãs a que pretende dar “uma identidade comum” – e admite futuras colaborações “intensificadas” entre as instituições francesas que irá agora dirigir e o TMP. “Vamos continuar a trabalhar em conjunto, não irei desaparecer do Porto”, salvaguardou.
Rui Moreira diz não haver uma “vertigem” para nomear nova direção
Foi a vez do presidente da câmara municipal do Porto, e também responsável pelo pelouro da cultura, tomar a palavra para dizer que a decisão de Tiago Guedes em aceitar este novo cargo foi “uma estratégia conjunta”. “O convite que ele acaba de aceitar foi um plano conjunto, diria mesmo que foi uma estratégia conjunta. O Tiago falou comigo no primeiro dia, deu-me nota da sua ambição, eu achei muito bem porque isto é o reconhecimento do trabalho dele e da sua equipa (…) O convite é irrecusável, ele achava que por ser português iria ser uma limitação, mas disse-lhe que não.”
O coreógrafo permanece como diretor artístico do TMP até ao fim do mês de junho, começará a trabalhar no novo projeto francês a partir de 1 de julho e assumirá o cargo integralmente a partir de 1 de setembro. Até lá a autarquia promete nomear “uma ou várias direções artísticas”, mas sem urgência. “Não preciso de nomear um diretor artístico amanhã, neste momento tempo uma equipa capaz de garantir a continuidade do projeto por termo suficiente até que seja encontrada uma ou mais direções artísticas. Não há uma interrupção, a temporada está programada, as coisas estão contratadas, não temos essa vertigem.”
Rui Moreira deixou claro que dará continuidade ao trabalho desenvolvido por Tiago Guedes, frisando que nos próximos dias irá ouvir várias pessoas para tomar uma decisão final sobre o futuro do TMP. “Terei que falar com vereadores, várias forças políticas e com o conselho municipal de cultura. Não seria razoável que hoje vos pudesse dizer alguma coisa sobre isso.”