No passado dia 19 de maio, Vadim Shysimarin tornou-se o primeiro soldado russo a sentar-se no banco dos réus de um tribunal ucraniano para ser julgado por alegados crimes de guerra cometidos após a invasão da Rússia à Ucrânia. Ao lado direito do jovem com semblante cabisbaixo estava o advogado de defesa, Viktor Ovsyannikov, o ucraniano que muitos têm descrito como “advogado do diabo”.
A notícia de que ia defender o soldado russo apanhou-o de surpresa, apesar de não ser a primeira vez que defende casos controversos ou difíceis. Naquele dia, em que ainda não conhecia o cliente, criou a imagem de que iria encontrar um “orc“, o nome que os ucranianos usam para apelidar os soldados russos, como uma referência às criaturas monstruosas. Não foi nada disso que encontrou. Vadim Shysimarin tem 21 anos, muitos órgãos de comunicação do mundo não demoraram em sublinhar a sua “cara de bebé”, os 50 quilos de peso e as roupas largas.
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Viktor Ovsyannikov não se arrepende de ter aceitado defender o soldado russo que matou um civil de 62 anos, desarmado, ao disparar para a cabeça quando o homem estava ao telemóvel, mas admite que ficou surpreendido. “Estou a defender uma pessoa, não um crime”, disse ainda antes do início do julgamento, citado pelo The Guardian.
“Estou a tentar provar que as ações do meu cliente foram mal sustentadas. Cabe aos juízes decidir, eu faço apenas o meu trabalho”, explica Viktor Ovsyannikov, que pediu a absolvição do suspeito alegando que os disparos foram a execução de uma ordem.
O advogado de Vadim Shysimarin contou que é apoiado pela família, pelos amigos e pelos colegas, por saberem que “alguém tem de fazer isso”. Contudo, admitiu que já foi “‘convidado’ a ir para Moscovo ou Donbass” após ter aceitado o trabalho.
Não é a primeira vez que Viktor Ovsyannikov se envolve num caso polémico, tendo em conta que, em 2014, defendeu o ex-Presidente ucraniano apoiado pela Rússia, de acordo com o The Guardian. Viktor Yanukovych foi condenado por alta traição pela invasão russa da Crimeia em 2013 e por uso da força para conter os protestos na Praça Maidan, em Kiev, em 2014.
O russo Vadim Shishimarin era comandante de uma unidade militar e terá recebido ordens para disparar contra um civil desarmado, em Chupakhivka, uma aldeia situada na região de Sumy, para que este não denunciasse a presença dos militares inimigos naquele local, a 28 de fevereiro.
Segundo o Ministério Público ucraniano, para escapar às tropas de Kiev, os soldados russos (que se terão perdido da sua coluna depois de um confronto) terão disparado com metralhadoras contra um “carro particular” que roubaram. Depois, já dentro do veículo que ficou em sua posse, Vadim Shishimarin terá disparado vários tiros da janela aberta do carro contra a vítima. O homem estava ao telemóvel, foi atingido na cabeça e teve morte imediata.
Vadim Shishimarin confessou que tinha matado um civil ucraniano: “Sim, totalmente sim”. No julgamento referiu que se sentia em perigo, mas após insistência do magistrado para saber o que o soldado achava da sua atitude, foi perentório: “Inaceitável.”