Algum dia teria de acontecer. A resistência e a capacidade de sofrimento de João Almeida chegou mesmo a merecer alguns memes que se começaram a tornar virais através das redes sociais e foram até partilhados pela própria organização da Volta a Itália. Ideia geral: podiam fazer o que quisessem, podiam meter toda a estratégia que quisessem e podiam arriscar o que quisessem que quando olhavam para trás o português estava sempre lá e de quando em vez com um sorriso nos lábios. Em praticamente todas as etapas de montanha deste Giro foi assim. Uma, duas, três vezes. Depois do esforço despendido na tirada com chegada a Aprica, a 17.ª etapa com nova e mais íngreme subida em Lavarone acabou mesmo por quebrar esse coração do português para se segurar ao pódio, ficando a 49 segundos do terceiro Mikel Landa.

O pior dia de João Almeida no melhor dia da Bahrain: Buitrago ganha etapa, Landa tira terceiro lugar ao português (mas a luta não acabou)

Fazendo uma analogia com o boxe, foi quase como se por cada round João Almeida não conseguisse atacar pela falta de recursos coletivos da UAE Team Emirates em comparação com Ineos, Bora e Bahrain mas ao mesmo tempo, por cada golpe que levasse, olhasse de novo para o adversário e ficasse firme a mostrar que estava pronto para o próximo ataque. E continuando na mesma analogia, a forma como Richard Carapaz e Jai Hindley trabalharam com Landa para descartar o português da luta seria como que o murro decisivo para o corredor de A-dos-Francos atirar a tolha ao chão. Ao invés, e nas palavras, “levantou-se” e quis marcar uma posição perante todos dizendo que a sua Volta a Itália não tinha acabado ainda ali.

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“Desde o início da etapa que não me sentia bem, não estava 100% recuperado de ontem [terça-feira]. Foi uma etapa muito difícil e soube imediatamente que as minhas pernas não estavam em níveis normais. Só não sabia se só eu me sentia assim ou todos os outros também. Aconteceu, fiquei sozinho, mas ainda há três dias difíceis e um contrarrelógio. O Giro ainda não está terminado. O pódio ainda é possível. Não vai ser fácil, mas vamos lutar até o último quilómetro. Vou continuar a lutar e não desistir até ao último quilómetro. O Giro ainda não acabou”, comentou no final da etapa que deixou tudo na mesma em relação aos dois primeiros (que continuam separados por três segundos) mas mexeu com o terceiro lugar.

No entanto, e apesar de toda essa força sem limites que mostrou em qualquer contexto, há coisas que não se controlam e, na ressaca, do dia mais complicado no Giro vieram horas ainda mais complicadas: João Almeida testou positivo à Covid-19 e foi obrigado a desistir da Volta a Itália, perdendo a possibilidade de lutar por um pódio inédito ou de pelo menos igualar a quarta posição de 2020 que era um dado quase líquido perante os cerca de quatro minutos de vantagem que tinha para o quinto, Vincenzo Nibali.

Em paralelo, e num outro ponto menos falado, o português perdeu a oportunidade de ser o primeiro a ganhar a camisola branca da juventude numa grande volta quando já tinha cerca dez minutos de avanço sobre Juanpe López. De recordar em 2020, quando andou duas semanas com a camisola rosa mas ficou em quarto após a passagem pelo Stelvio, João Almeida acabou a classificação da juventude no terceiro posto, atrás de Tao Geoghegan Hart e Jai Hindley (que entretanto deixou de contar para esta categoria).

“Teve sintomas de gripe durante a noite e testou positivo à Covid-19. Estou profundamente transtornado com a notícia porque o João e a equipa que o apoia estavam a fazer uma excelente corrida. Os nossos objetivos eram o pódio do Giro e a camisola branca, de melhor jovem, e estávamos na luta para conseguir ambos. Esta é a realidade com que temos de viver todos os dias há dois anos mas a equipa tem de olhar em frente”, comentou Mauro Gianetti, diretor desportivo da UAE Emirates. O médico da equipa explicou ainda os ligeiros sintomas que o português, nomeadamente as dores de garganta que fizeram soar os alarmes.

Em relação à etapa, Dries de Bondt, da Alpecin, venceu na chegada a Treviso, batendo Edoardo Affini, Magnus Cort e Davide Gabburo numa fuga que ficou reduzida a quatro corredores nos últimos quilómetros do circuito. Em relação aos primeiros classificados, Hugh Carthy entrou no top 10 no lugar de Almeida, ao passo que Jai Hindley, mesmo chegando atrasado em relação a Carapaz, mantém os três segundos para o equatoriano por ter sofrido um problema mecânico já dentro dos três quilómetros finais.

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