Os talibãs rejeitaram esta sexta-feira um pedido do Conselho de Segurança da ONU para reverter as restrições impostas às mulheres afegãs, considerando “infundadas” as preocupações expressas pela comunidade internacional.

O Conselho de Segurança pediu, na terça-feira, que os talibãs, no poder no Afeganistão desde agosto de 2021, “revertam de imediato as políticas e práticas que atualmente restringem os direitos humanos e as liberdades fundamentais das mulheres e das meninas afegãs”, numa declaração adotada por unanimidade.

O texto do órgão da ONU, composto por 15 membros, cita “a imposição de restrições que limitam o acesso à educação, ao emprego, à liberdade de movimento e à participação plena, igualitária e significativa das mulheres na vida pública”.

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O Conselho de Segurança apelou, sobretudo, à reabertura das escolas para todas as raparigas, expressando a sua “profunda preocupação” com a obrigação imposta às mulheres de cobrirem o rosto em espaços públicos e quando estiverem a ser gravadas pelas televisões.

Em comunicado divulgado esta sexta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros afegão considera as preocupações do Conselho de Segurança “infundadas” e “irrealistas” e reafirma o seu “compromisso” de garantir os direitos das mulheres afegãs.

“Dado que o povo afegão é predominantemente muçulmano, o Governo afegão considera o respeito pelo uso do hijab islâmico consistente com os valores religiosos e culturais da sociedade e as aspirações da maioria das mulheres afegãs”, acrescenta o comunicado.

No início de maio, o líder supremo dos talibãs emitiu uma ordem para que as mulheres se cubram totalmente em público, incluindo o rosto, de preferência com a burca, um véu que cobre o rosto por inteiro com uma grade de tecido nos olhos.

As restrições impostas às mulheres afegãs “descrevem um modelo de total segregação sexual e visam tornar as mulheres invisíveis na sociedade“, denunciou na quinta-feira, em Cabul, o relator especial da ONU para os direitos humanos no Afeganistão, Richard Bennett.

A comunidade internacional fez do respeito pelos direitos humanos, especialmente das mulheres, um pré-requisito nas negociações de ajuda e reconhecimento do regime islâmico, que regressou ao poder no ano passado, 20 anos depois de ter sido afastado, na sequência da saída de militares norte-americanos e dos seus aliados do país.

As novas restrições impostas às mulheres confirmam a radicalização dos talibãs, que inicialmente tentaram mostrar um lado mais aberto do que durante a sua passagem anterior pelo poder, entre 1996 e 2001.

Na altura, o regime privava as mulheres de quase todos os seus direitos, em particular impondo-lhes o uso da burca.