No sábado à tarde uma final, no domingo de manhã mais uma final. Aos 18 anos, Coco Gauff nunca tinha sequer passado de forma consistente para a segunda semana de um Grand Slam no quadro de singulares mas, de forma sempre discreta, conseguiu passar ronda após ronda até à grande decisão de Roland Garros, a que juntou a segunda final de pares com Jessica Pegula após a derrota no US Open em 2021. Porquê? Por várias razões. Mas com uma acima de todas, numa espécie de retrospetiva do caminho feito no WTA.
“Quando entrei no circuito, até quando tinha oito ou nove anos, muitos disseram que ia ser a próxima Serena e coisas assim. Caí na armadilha por acreditar nisso. É importante que tenhas grandes expectativas em relação a ti mesma mas ao mesmo tempo tens de ser fiel à realidade e saber onde estás. Agora estou a desfrutar cada momento. Lembro-me que outras vitória que me levaram à segunda semana de um Grand Slam, como contra a Naomi [Osaka] no Open da Austrália, deixaram-me feliz mas não tão feliz. Agora aprecio cada vitória e cada derrota”, comentou após a qualificação para as meias-finais, a que se seguiria novo triunfo frente à transalpina Martina Trevisan, uma das revelações do torneio, por 6-3 e 6-1.
Roland Garros: Coco Gauff garante primeira final de um “Grand Slam”
Cori, ou Coco como também é conhecida, surgiu muito nova no circuito feminino de ténis apresentando um estilo de jogo “anormal” para a idade. E nunca perdeu a humildade, como se viu após aquele triunfo em Wimbledon frente a Venus Williams quando se aproximou da rede e agradeceu à compatriota o facto de ser uma inspiração para tantas raparigas e para tantas pessoas. “A Serena sempre foi a minha referências, ela e a Venus. Elas são a razão para eu querer agarrar numa raquete de ténis”, assumira. No entanto, essa quase “necessidade” de sucesso rápido para encontrar um novo ícone foi atrapalhando o caminho de Gauff até ao estrelato. Agora, como referia o The Guardian, existia um “prodígio equilibrado” que andava no flirt com o seu primeiro Grand Slam. Problema? Era a número 1 do mundo que estava do outro lado…
Swiatek vence Kasatkina e regressa à final de Roland Garros depois do triunfo em 2020
Depois das derrotas nas meias-finais com Ashleigh Barty (Adelaide) e Danielle Collins (Open da Austrália), a que se seguiu uma eliminação precoce nas rondas iniciais do Open do Dubai com Jelena Ostapenko, a polaca iniciou uma impressionante série de 34 jogos consecutivos a ganhar que lhe valeram títulos no Qatar, Indian Wells, Miami, Estugarda e Roma, sempre a defrontar entre uma a três jogadoras do top 10 do ranking mundial ou antigas líderes da hierarquia do WTA. O registo permitiu igualar Serena Williams como o melhor do século, ainda que longe das séries de Martina Navratilova, Steffi Graf, Chris Evert ou Margaret Court nas décadas de 70 e 80, e uma nova vitória valeria assim mais do que a conquista do segundo Grand Slam da carreira, de novo em Paris onde se mostrou ao mundo com o triunfo de 2020.
“Sinto que o meu jogo está cada vez mais sólido. Jogo com mais liberdade quando fico em vantagem e estou a jogar cada vez melhor a cada encontro. Não sabia como ia chegar aqui depois de tantos torneios, era óbvio que a série ia acabar rapidamente, então fui seguindo passo a passo, sem objetivos específicos”, destacara a tenista de 21 anos, que colocava como grande razão da série vitoriosa a forma como foi lidando melhor com aquilo que esperava, com as expetativas e com as emoções. Ainda mais numa final, era aí que estava a chave do triunfo e da sucessão a Barbora Krejcikova, vencedora o torneio no ano passado. E se antes Swiatek era ainda a desconhecida de 19 anos que não gostava de treinar, aprendeu pela PlayStation, tinha Nadal como referência ou era apaixonada por música rock e livros históricos, agora era… a número 1.
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Iga Świątek claims the women's French Open! ????
That's her 35th consecutive win, tying Venus Williams for the longest win streak on the WTA Tour since 2000 ???? pic.twitter.com/v5TPNmHLZF
— ESPN (@espn) June 4, 2022
Foi esse estatuto que imperou no primeiro set, que começou com Cori Gauff demasiado “presa”, a ver logo o seu serviço quebrado, a levar o primeiro serviço de Swiatek às vantagens e a não conseguir fechar o terceiro jogo com dois pontos antes de sofrer novo break para o 3-0. Só mesmo no 4-1 a norte-americana conseguiu segurar o seu serviço, sendo que a polaca, que esteve quase perfeita, fechou o set inicial em 6-1 com apenas 32 minutos – e Gauff ainda não tinha perdido qualquer parcial em Roland Garros este ano… Com 81% de primeiro serviço e 75% de pontos no segundo serviço, entre oito winners e menos erros não forçados do que a adversária, a número 1 mundial tinha retirado qualquer história que poderia existir.
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A norte-americana começava a mostrar mais do jogo que a tinha conduzido até à final, mesmo caindo de forma pesada no set inicial. E essas melhorias tiveram resultados práticos logo a abrir o segundo parcial, com o primeiro break à polaca antes de segurar o seu serviço. No entanto, seria sol de pouca dura: Swiatek fez o 2-1, aproveitou três erros não forçados para empatar, chegou ao 3-2 com o primeiro jogo de serviço em branco onde iniciou mais uma série de winners e mudou em definitivo o rumo da partida, que fechou com 6-3 para o segundo triunfo em Roland Garros com apenas 21 anos e para a maior série de triunfos consecutivos deste século (35 e a contar), igualando o registo de Venus Williams (e superando Serena).
Together again ????#RolandGarros | @iga_swiatek pic.twitter.com/KEgxf2pr45
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World number #1 Iga Swiatek wins her 2nd Grand Slam title at 21yo, beating 18yo Coco Gauff 6-1, 6-3 in the #RolandGarros final.
— 35 consecutive wins, ties Venus Williams with the best streak in the 2000s
— 9-0 in finals (18-0 in sets…)
It's just incredible. pic.twitter.com/301NvOI66D
— José Morgado (@josemorgado) June 4, 2022