Os comunistas que integram o Comité Central do PCP estiveram reunidos durante este fim de semana e, além das fortes críticas ao Governo e da exigência do fim de sanções, chegaram a outra conclusão — esta menos publicitada: está a desenrolar-se uma “operação global” contra o PCP.

A tese não foi referida por Jerónimo de Sousa quando explicou aos jornalistas, nesta terça-feira, as conclusões da reunião. Mas é detalhada na versão longa do comunicado sobre o encontro dos dirigentes comunistas, e explica que a “ofensiva anticomunista” que o PCP costuma assegurar existir está a acentuar-se e é cada vez mais alargada, traçando um quadro dramático para o partido.

“Mais do que uma sucessão de campanhas” — que “se verifica” e que piorou nos últimos anos, garante o texto — “o que é dirigido contra o partido é uma operação global”. Em vários planos, dizem os comunistas: “Uma operação que incorpora o desenvolvimento de instrumentos de dominação que massificam a informação através de poderosos meios de propagação, e que conta com a multiplicação de centros de produção ideológica cada vez mais concentrados, que invadem todos os planos da vida, visando isolar o partido e enfraquecer a sua influência”.

Jerónimo: aumento da luta nas ruas é “lógico” e “inevitável”. Governo deve retirar apoio a todas as sanções da UE

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Este plano para o enfraquecimento do partido acontece por o PCP ser o “obstáculo e inimigo principal” e “alvo preferencial a abater” do “sistema de dominação capitalista”, prossegue o texto. Daí que anote as últimas “campanhas” contra o partido: para o PCP, a tal ofensiva “ganhou nova dimensão em torno da epidemia de Covid-19“.

Depois, garante o partido, foram as “calúnias contra dirigentes do PCP”, piorando ainda mais com a alegada “desinformação e mentira sobre a oposição do PCP ao Orçamento do Estado para 2022″. Nessa altura, o partido chegou, de resto, a criar uma página no seu site dedicada especificamente a desmontar os supostos “mitos e mentiras” que se diziam e escreviam sobre o facto de ter decidido chumbar o último OE, garantindo sempre que a crise política que se seguiu foi provocada propositadamente pelo PS e que o PCP não queria fazer cair o Governo.

Mas as campanhas contra o PCP continuam, diz o partido: “Agora, com expressão mais odiosa, em torno da guerra na Ucrânia“, para o partido há uma “meticulosa articulação entre os objetivos definidos pelo grande capital e os seus instrumentos de dominação políticos e ideológicos postos ao serviço dessa estratégia, visando afastar o PCP de uma intervenção mais decisiva no plano nacional, denegrir o seu projeto, objetivos e ideal”.

Ou seja, o PCP considera, por um lado, que as sanções contra a Rússia estão a prejudicar os trabalhadores portugueses (dado o impacto que têm na economia e na inflação dos preços) e a ser aproveitadas pelos grandes grupos económicos para obterem mais lucro; e, por outro, que a redução da influência do PCP — que já vem desde que perdeu quase metade da bancada nas legislativas de janeiro — também é conseguida através do retrato que se tem feito da posição do partido quanto à guerra na Ucrânia (uma posição que o PS acredita, precisamente, que pode enfraquecer o partido junto dos trabalhadores e prejudicar a mobilização da contestação social nas ruas).

Para o PCP, isto resume-se a uma ofensiva de “pendor anticomunista” com “objetivos e projetos antidemocráticos mais amplos”, a que o partido quer agora responder com a ligação aos trabalhadores e às massas — “buscando aí não só o apoio como os elementos de confiança e força que se projetarão na sua ação e luta”.

Esquerda quer voltar às ruas em força e faz comparações com troika. PS confia na fragilidade dos antigos parceiros

Com menos espaço no Parlamento, há “novas exigências” para o partido, reconhecem os dirigentes, e “um quadro mais negativo para a evolução da situação económica e social”. Mas também há mais “possibilidades reais” de “intervenção, de iniciativa política e alargamento da luta” que a curto prazo se vão concretizar, garantem. Ou, como dizia Jerónimo esta terça-feira de manhã aos jornalistas, “inevitavelmente” vai haver mais protestos e contestação social, dado o quadro de dificuldades, sobretudo económicas, que a guerra ajudou a criar.

Por agora, o PCP faz um pedido no comunicado dirigido aos seus militantes: tendo em conta o contexto de perda de influência política e, para o partido, de ataque “global” aos comunistas, é preciso reforçar o PCP, os seus “meios e recursos”, os seus militantes e a sua influência social. Cada vez com mais independência de meios, mas também com mais mobilização de trabalhadores e povo “para a luta”.