O coordenador da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa, Rogério Nogueira, criticou a alegada falta de empenhamento do Governo português na captação de novos investimentos para produção de veículos elétricos, ao contrário do espanhol.

“Não temos conhecimento, enquanto Comissão de Trabalhadores, de alguma atividade até agora demonstrada pelo Governo português relativamente a este tema, o que, em bom rigor, nada tem a ver com a proatividade demonstrada pelo Governo espanhol, que, como é do conhecimento geral, criou as condições necessárias a nível de investimentos para que a eletrificação fosse uma realidade nas fábricas do grupo [Volkswagen]”, disse à agência Lusa Rogério Nogueira.

O representante dos trabalhadores da Autoeuropa reagia às conclusões do estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgado terça-feira, que alertava para a possibilidade de Portugal perder a produção de novos modelos elétricos e híbridos para outros países.

“Vemos com grande preocupação o resultado do estudo da OIT sobre o futuro do setor automóvel, que, refira-se, foi um pedido do Governo português”, acrescentou Rogério Nogueira, lembrando que se trata de um “setor de atividade com salários baixos, mas que dá emprego, direto e indireto, a mais de 60.000 pessoas”. Relativamente à eletrificação, aquele responsável disse acreditar que, no futuro, “a fábrica da Autoeuropa em Palmela faça também parte desse processo e assim se garanta o futuro da empresa e os seus postos de trabalho”.

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De acordo com as conclusões do estudo “Indústria automóvel em Portugal, desafios para o futuro do trabalho”, realizado pela OIT, a pedido do Governo português, as características do setor automóvel português suscitam preocupações por estar num segmento da cadeia de baixo valor acrescentado, correndo risco de perder para localizações mais centrais com os modelos elétricos e híbridos.

“O setor automóvel português é caracterizado por um controle de custos através da supressão salarial, de baixo investimento na subida na cadeia, de um conteúdo relativamente elevado de elementos importados nas exportações”, salienta a OIT, que sublinha também a elevada dependência em tecnologias assentes em motores de combustão, que podem considerar-se obstáculos a um crescimento maior e mais equitativo.

De acordo com a OIT, outro dos obstáculos ao crescimento do setor está na “elevada proporção de participação estrangeira nas empresas”, pelo que considera necessário haver uma estratégia “coerente de políticas públicas” que apoiem o setor e “vontade, na indústria, de tornar Portugal um local atrativo para a produção de veículos descarbonizados”.

“A dependência portuguesa da supressão de custos está condenada a tornar-se menos relevante, uma vez que o fabrico de veículos elétricos é menos intensivo em mão-de-obra do que o de veículos movidos a tecnologia de motores de combustão interna”, o que “suscita preocupações quanto à forma como as mudanças por parte dos OEM [Fabricantes de Equipamento de Origem] irão afetar o setor em Portugal”, avisa a OIT.