As forças armadas ucranianas confirmaram esta quinta-feira que a sua operação para tentar retomar a ilha da Serpente prossegue e que um sistema de lançamento de mísseis russos colocado na ilha foi atingido.
“Boas notícias”, disse Serhii Bratchuk, porta-voz da administração militar de Odessa no Telegram. “A nossa unidade militar atingiu outro sistema de mísseis Pantsir.”
Foi a ação mais recente de uma operação que o exército ucraniano começou a levar a cabo esta semana e que parece estar focada na recuperação da ilha no Mar Negro. Na terça-feira, as forças ucranianas anunciaram que conseguiram pela primeira vez perpetrar um ataque bem sucedido com mísseis anti-navio Harpoon, doados pelo Ocidente, contra a Rússia. O alvo terá sido o rebocador naval russo Spasatel Vasily Bekh, que estava a deixar armas e soldados na ilha.
No dia seguinte, o comando operacional ucraniano do sul anunciou que causou “perdas significativas” na ilha através de ataques aéreos. As forças armadas do país anunciaram “um golpe concentrado com o uso de várias forças e métodos de destruição”, que incluiu drones e mísseis.
A Rússia reagiu, confirmando que houve uma “tentativa louca” por parte da Ucrânia para reconquistar a Ilha da Serpente, mas disse que esta não foi bem sucedida.“Esta é outra falsa ‘vitória’ dos militares ucranianos”, diz uma publicação do ministério da Defesa russo no Telegram. Imagens de satélite da Maxar Technologies de 21 de junho, porém, mostram danos provocados pelo ataque ucraniano na ilha — uma torre destruída no extremo sul e áreas queimadas no extremo norte.
Uma frase emblemática e um poderoso navio de guerra destruído
A Ilha da Serpente ganhou um estatuto quase mítico de símbolo da resistência ucraniana. Tudo aconteceu nos primeiros dias da invasão russa, quando surgiram notícias de que, perante a chegada das tropas de Moscovo, 13 militares ucranianos tinham reagido de forma corajosa, recusando render-se. “Sugiro que entreguem as vossa armas e se rendam ou abrirei fogo“, avisou na altura o navio de guerra das forças russas que se aproximou do local. Os militares terão respondido: “Navio de guerra russo, vai-te f****”, frase que passou a estar visível em cartazes espalhados por toda a Ucrânia. Todos teriam sido mortos.
Poucos dias depois, a marinha ucraniana confirmou que, afinal, os soldados estavam vivos e tinham sido capturados pelas forças russas. “Estamos bastante felizes por saber que os nossos camaradas estão vivos e bem”, afirmou o comunicado.
Apesar disso, o episódio não perdeu a sua dimensão simbólica. Depois de ser estampada em camisolas, a frase “Navio de guerra russo, vai-te f****” foi incluída num novo selo emitido pela Ucrânia, acompanhada por uma ilustração do artista Boris Groh, que foi a mais votado num concurso realizado pelos correios ucranianos.
“Navio de guerra russo, vão-se f****.” O grito de guerra da Ucrânia colocado em selo postal
Em abril, novo episódio simbólico na Ilha da Serpente: a Ucrânia destruiu o navio de guerra Moskva, que comandava precisamente toda a frota do Mar Negro russa. A informação foi inicialmente avançada, com humor, pelo chefe da administração militar regional de Odessa, Maksym Marchenko, no Telegram. “Confirma-se que o cruzador ‘Moskva’ foi hoje exatamente para onde tinha sido mandado pelos nossos guardas fronteiriços na Ilha das Serpentes. Os mísseis ‘Neptune’ que guardam o Mar Negro causaram danos muito graves no navio russo”, escreveu Marchenko.
Rússia perdeu um dos seus maiores navios de guerra. O que se sabe sobre o ataque ao Moskva?
Para além da sua dimensão emblemática, a Ilha da Serpente é um importante ativo militar. Como o especialista ucraniano Oleh Zhdanov explicou à BBC, “se as tropas russas forem bem sucedidas na ocupação da Ilha da Serpente e estabelecerem os seus sistemas de defesa aérea de longo alcance, vão passar a controlar o mar, terra e ar na zona noroeste do Mar Negro e do sul da Ucrânia”.