Um dia depois de o Conselho Europeu ter confirmado a atribuição do estatuto oficial de país candidato à Ucrânia, multiplicam-se as reações e o sentimento de satisfação sobretudo entre a população ucraniana. Em Portugal, não é exceção — a embaixadora ucraniana, Inna Ohnivets, aplaude prontamente a decisão anunciada esta quinta-feira pelos líderes europeus.

“É uma decisão histórica, tendo também um significado simbólico”, defende Inna Ohnivets, em entrevista à Rádio Observador. “Leva a Ucrânia a um caminho direto para a adesão à União Europeia (UE). Quanto tempo esse caminho levará, dependerá das duas partes. Da Ucrânia e da UE, mas principalmente da Ucrânia”. A embaixadora ucraniana em Portugal diz agora que é preciso focar nas reformas necessárias no país para que o processo de negociações, e com vista à adesão ao bloco comunitário, decorra de forma célere.

Ucrânia candidata à UE. “Tem sobretudo um significado simbólico”

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[Ouça aqui a entrevista na íntegra na Rádio Observador]

A decisão do Conselho Europeu foi muito festejada em território ucraniano, conta Inna Ohnivets, que revela que a população está “muito feliz e satisfeita”. “Depois desta decisão, não vamos parar. Pelo contrário, vamos trabalhar ainda mais para obter um resultado positivo sobre a adesão da Ucrânia à UE o mais rapidamente possível”.

A diplomata deixa ainda agradecimentos a Portugal e à posição que foi sendo tomada pelo Governo português em Bruxelas relativamente à atribuição do estatuto de país candidato. “Estamos sinceramente gratos à liderança portuguesa pela sua vontade de ajudar a Ucrânia no caminho de adesão”, sublinha. “Agradecemos todo o apoio às inspirações da Ucrânia”.

Contudo, questionada sobre o aviso deixado esta quinta-feira pelo primeiro-ministro, António Costa, que alertou para a “gestão de expetativas” em todo o processo, Inna Ohnivets não se deixa abalar: “Percebemos muito bem que precisamos de fazer o nosso trabalho de casa”. A embaixadora em Portugal reconhece que a realização de reformas e o próprio processo de negociações entre UE e Ucrânia “vai ser um caminho bastante longo”, mas “na situação da guerra com a Rússia, claro que a Ucrânia vai intensificar todos os processos para transformar o país e fazer com que se torne mais curto o período de adesão”.

Embaixada espera pelas conclusões de caso polémico em Setúbal

Cerca de dois meses depois de ter estalado a polémica sobre um grupo de refugiados ucranianos, que terá sido recebido na Câmara Municipal de Setúbal por uma associação com ligações pró-Rússia, a embaixadora diz apenas que espera pelas conclusões da investigação.

O caso está a correr no Ministério Público, estando sob investigação eventuais “crimes de utilização de dados de forma incompatível com a finalidade da recolha, acesso indevido e desvio de dados”. Inna Ohnivets não adianta em que pé está este caso, dizendo apenas que está a aguardar. “Estamos à espera dos resultados da investigação conduzida pelas autoridades portuguesas. Ainda não temos novidades, mas claro que precisamos de conhecer as conclusões.”

A embaixadora ucraniana em Portugal adianta que se mantém em cooperação com o Governo, “mas também com o Alto-Comissariado para as Migrações”. “Esperamos que sejam conhecidas as conclusões num futuro próximo”, aponta em entrevista à Rádio Observador.

De acordo com os mais recentes dados, mais de 43 mil ucranianos chegaram a Portugal desde o início da guerra. “Estão muito bem integrados em Portugal”, garante Inna Ohnivets, não esquecendo o acolhimento que tem sido feito também por parte das autarquias portuguesas, “que criaram todas as condições para os refugiados ucranianos”.

A diplomata reconhece no entanto que há casos de cidadãos que quiseram regressar à Ucrânia: “Explicaram que precisam de regressar à sua pátria porque têm as suas casas destruídas e querem restaurá-las. E as mulheres ucranianas, por exemplo, têm lá também os seus maridos e filhos e querem estar mais perto deles”.