Morreu o magnata italiano Leonardo Del Vecchio, o segundo homem mais rico de Itália e o fundador do grupo EssilorLuxottica, que controla marcas de ótica como a Ray Ban ou a Oakley. O anúncio da morte do empresário italiano, de 87 anos, foi feito pela própria empresa, esta segunda-feira.

“A EssilorLuxottica anuncia com tristeza que hoje o seu chairman morreu”, é possível ler no comunicado da companhia, que explica que irá agora reunir o conselho de administração para “determinar” quais os próximos passos.

Del Vecchio nasceu numa família pobre, passando a infância num orfanato. O pai, um vendedor de vegetais, morreu quando Leonardo Del Vecchio era uma criança, levando a mãe a entregá-lo a um orfanato em Milão, por não ter condições financeiras para criar o filho.

Del Vecchio trabalhou na área da metalurgia antes de criar um pequeno negócio de componentes para óculos. Anos depois, em 1961, fundou a Luxottica, que conseguiu tornar num império e num dos grupos óticos mais conhecidos do mundo, dono de marcas de luxo do setor. O magnata italiano consolidou o grupo através de parcerias de licenciamento de sucesso com marcas da indústria da moda, começando em 1988 com a Giorgio Armani e, mais tarde, com a Bulgari, Chanel, Valentino ou a Prada.

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Além destes acordos, a estratégia de sucesso de Del Vecchio também passou pelas aquisições. Só no final do milénio, em 1999, é que a empresa de Del Vecchio avançaria para a compra de uma das marcas de óculos mais conhecida do mundo, a Ray Ban. Mais tarde, comprou também a californiana Oakley, além de cadeias de retalho na América do Norte e no mercado australiano.

Em 2018, Del Vecchio fechou a fusão entre a Luxottica e o grupo de ótica francês Essilor, nascendo assim a EssilorLuxottica. Depois de abandonar a liderança do grupo, passando a ocupar o cargo de chairman, Del Vecchio não se afastou do mundo dos negócios. Conseguiu também entrar na área dos serviços financeiros, através do Mediobanca. No mundo dos seguros, era ainda dono de uma participação relevante na seguradora Generali, abaixo de 10%. Del Vecchio tinha ainda uma participação de 27% na companhia de imobiliário Covivio.

No final do ano passado, era o segundo homem mais rico de Itália, apenas ultrapassado Giovanni Ferrero, do grupo Ferrero, a companhia responsável por marcas como a Nutella ou a Ferrero-Rocher. De acordo com o índice de multimilionários da Bloomberg, Del Vecchio era o 54.º homem mais rico do mundo, com uma fortuna estimada de 24,1 mil milhões de dólares (22,79 mil milhões de euros). Ainda assim, no espaço de um ano, a fortuna do magnata italiano terá encolhido em 10,4 mil milhões de dólares.

A morte de Del Vecchio terá surpreendido os italianos. As ações da EssilorLuxottica estão a reagir em baixa à notícia da morte do chairman, estando nesta altura a recuar 1,84% para 143,9 euros.

Principais figuras italianas já reagiram à morte de Del Vecchio

Algumas das principais figuras italianas, desde o mundo dos negócios até ao setor da moda, reagiram com pesar à morte de Leonardo Del Vecchio, destacando o seu trabalho empresarial.

“Uma figura importante do mundo empresarial italiano ao longo de mais de 60 anos, Del Vecchio criou uma das maiores empresas do país a partir de origens humildes (…) Sempre combinou a abertura internacional com um foco nas questões sociais e locais”, afirmou Mario Draghi, o primeiro-ministro italiano. O governante destaca que o empresário “era um grande italiano”, destacando que colocou a “comunidade de Agordo e o país inteiro no centro do mundo da inovação”.

Do mundo da moda, o designer Giorgio Armani refere que “perdeu um amigo, com quem tinha partilhado uma longa e pioneira aventura profissional”. “Em conjunto, inventámos um fenómeno que não existia: percebemos imediatamente que os óculos, de um simples objeto funcional, podiam tornar-se num indispensável acessório de moda”, cita a agência Reuters.

Já o Comissário Europeu para a Economia, Paolo Gentiloni, também destaca o “grande italiano” que era Leonardo Del Vecchio. “A sua história, do orfanato até à liderança de um império empresarial, parece uma ideia de outro tempo. Mas é um exemplo hoje e amanhã.”

Andrea Guerra, antigo CEO da Luxottica, deixou agradecimentos pelo trabalho desenvolvido na empresa e pelo “o exemplo constante”.