É como se a Europa se tivesse virado de cabeça para baixo: em Helsínquia, na Finlândia, estão 26 graus (esperam-se quase 28 no sábado), ao passo que em Portugal, a mais de 4 mil quilómetros em direção a sul, os termómetros marcam 21 de máxima. É uma situação atípica: a norte estão mais dez graus e a sul menos dez do que é expectável para esta altura do ano. Porquê?

Em causa está a circulação atmosférica, explica ao Observador Jorge Ponte, meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). “O fenómeno está relacionado com a localização dos centros de ação dos anticiclones e das regiões depressionárias.”

De maneira mais simples, é como se estivéssemos a ceder parte do nosso verão ao países europeus do norte: “O que se tem verificado é que há uma crista anticiclónica muito intensa na Europa de leste até à Escandinávia. Isto faz com que haja o transporte de uma massa de ar mais quente e seca vinda do sul da Europa para essa região.”

Por outro lado, o arranque ameno do verão em Portugal pode justificar-se pela chegada dos ares insulares: na Europa ocidental, onde se incluem os países da Península Ibérica, verifica-se “um fluxo norte”, provocado por um “anticiclone a noroeste dos Açores que transporta uma massa de ar mais marítima e húmida para estas regiões”, tornando o clima mais fresco, acrescenta o meteorologista.

E as alterações climáticas, entram nesta equação? De forma indireta, já que não são a causa do fenómeno, mas agravam-no. “O episódio em si não se explica com as alterações climáticas — é a posição dos centros de ação e o transporte das massas de ar que está a provocar estas temperaturas. Estes fenómenos sempre aconteceram. Mas há evidência científica que mostra que estes fenómenos são hoje mais frequentes e intensos do que eram antes e isso pode explicar-se pelas alterações climáticas.”

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