Uma última cereja estava guardada para o topo desta Semana de Alta Costura outono/inverno 2022/23. Depois de quatro dias de intensa atividade em Paris, o epicentro da notícia passou, esta sexta-feira, a ser em Roma. A maison Valentino fez um pequeno desvio e montou um desfile espetáculo na Escadaria da Praça de Espanha, na Cidade Eterna onde a marca começou há mais de 60 anos.
A passerelle deste desfile começava no cimo da Escadaria da Praça de Espanha, perto do local onde a marca Valentino teve a sua primeira morada. As modelos desciam depois os mais de 130 degraus e continuavam por uma passadeira branca que se prolongou pela rua, e quase deu a volta ao quarteirão, para acabar no Palazzo Mignanelli, na praça com o mesmo nome, a morada do quartel general da casa Valentino. Com este percurso em mente, Pierpaolo disse que se tratava “do fecho de um ciclo”, mas segundo a Vogue norte-americana rejeitou a ideia de que se tratava de um desfile de celebração ou de homenagem.
A coleção “The Beginning” (“O começo”), composta por mais de 100 looks, foi uma mistura de herança do fundador Valentino com os novos elementos que o atual designer tem introduzido no léxico da marca. Não podia faltar o vermelho Valentino e também o rosa choque, que tem sido a cor estrela de Piccioli nas mais recentes coleções. Juntemos ainda cores inspiradoras, volumes dramáticos, texturas opulentas e uma confeção de excelência. Aliás, no fim do desfile, o designer saudou o público e fez questão de levar consigo as costureiras da casa que tiraram as ilustrações do papel e as tornaram realidade. “As costureiras e os alfaiates que compreendem os meus gestos, como compreendiam os do Sr. Valentino, entrelaçam o enredo de cada vestido com as suas vidas. Na Alta-costura não há moldes em papel, não há mapas nem traços, apenas aqueles deixados no fundo da alma”, segundo o designer. A banda sonora coube ao músico britânico Labrinth que também fez das escadas o seu palco.
Pierpaolo Piccioli trabalha na Valentino há 23 anos. Em 2008 assumiu a direção criativa da casa com a colega de longa data Maria Grazia Chiuri e, quando esta saiu em 2016 para se tornar a primeira mulher a liderar a Dior, ele ficou a segurar sozinho as rédeas criativas da marca italiana. Tem vindo a assumir-se cada vez mais como o senhor da casa e soma coleções que encantam a crítica e uma lista de clientes cada vez mais vasta. Piccioli disse à Vogue que queria “perceber quando de [si] próprio existe hoje na Valentino, e quanto de Valentino existe na [sua] identidade”.
“Eu adoro beleza, a culpa não é minha”, é uma frase tão conhecida de Valentino que a marca fez uma edição especial de sweatshirts com capuz e a frase “I love beauty” estampada à frente e “It’s not my fault” atrás, para celebrar os 90 anos do fundador. Pierpaolo mantém a importância da beleza na tradição da maison, e citado no Instagram da marca pode ler-se: “O poder da beleza faz com que seja possível imaginar um futuro onde as pessoas, o valor intrínseco da nossa humanidade, estão no centro de tudo. Beleza é resiliência.”
Valentino Garavani, a quem a história acabou por dar o cognome de “imperador da moda”, começou a sua marca de moda em 1960, precisamente em Roma e sempre com Giancarlo Giametti, o companheiro da vida e dos negócios, ao seu lado. Valentino completou 90 anos maio e não esteve presente neste desfile, contudo as origens da casa estiveram representadas ao mais alto nível por GG, como os amigos tratam Giametti. Sentou-se na primeira fila e foi o anfitrião das celebridades deste desfile. Ao seu lado estiveram figuras bem conhecidas como Anne Hathaway, Naomi Campbell, Laura Pausini, Anna Wintour, Ashley Park, Kate Hudson, Florence Pugh, Andrew Garfield. Piccioli quis ter também na assistência uma série de estudantes de moda.
Monumento destacado da cidade de Roma (e até de Itália), a Escadaria da Praça de Espanha já foi transformada em passerelle de moda em muitas ocasiões, entre elas um desfile de homenagem a Gianni Versace depois de o designer ter sido assassinado no verão de 1997. Hoje é um local de passagem e selfies obrigatório para os turistas e será também o local onde Pierpaolo Piccioli e colegas vão beber café com frequência quando estão a trabalhar.
Foi uma espécie de regresso a casa. Como se pode ler no site da marca: “Tudo recomeça onde tudo invariavelmente começa: em Roma, no Atelier, o espaço onde criações e invenções ganham vida através das mãos e histórias daqueles que de facto fazem as roupas, daqueles que põem o seu carácter no tecido através do trabalho manual. O modo não mudou. Nem sequer a morada mudou. E, afinal, tudo mudou.”