— Como e quando acha que esta guerra pode acabar?
— Todos nós sabemos como vai acabar, nas não sabemos quando.
— E como vai acabar?
— Apenas a vitória da Ucrânia é possível, é claro.

Olena Zelenska é a primeira-dama da Ucrânia. Depois de passar meses em local secreto, com os dois filhos, de 17 e 9 anos, que tem com o Presidente ucraniano, regressou a Kiev. E foi lá, numa residência presidencial transformada em bunker, que deu uma entrevista ao jornal espanhol El Pais. Falou dos filhos, do marido, e da guerra. E de como para si, só há um desfecho possível: a vitória da Ucrânia. “Ele [Zelensky] é um homem que se propôs a vencer. E se ele ganhar, o país inteiro vai ganhar.”

No início da guerra, conta, por vezes, ficava baralhada: “Acordava de manhã e pensava: ‘Que pesadelo tive esta noite’. Depois, percebia que não era um pesadelo, mas a realidade. É a nossa vida. Não tivemos filhos para escondê-los em caves de mísseis russos. Queremos que eles vivam. Assumir essa realidade, entender que temos de viver apesar de tudo, deixa-nos ainda mais desesperados. Mas temos de fazer alguma coisa. Não fazer isso seria muito pior.”

Depois de meses a viver longe do marido, regressou à capital do país. Isso não é sinónimo de que se vejam muito. “Ainda estamos separados, porque o meu marido mora onde trabalha e vemos-nos muito pouco. Os meus filhos querem ver o pai, abraçá-lo. Ontem, o meu filho perguntou-me quando acaba a guerra para que possamos jantar ou dormir juntos. Para assistir a um filme ou ler um livro. Temos de superar isso para que não afete a sua saúde mental.”

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Para a filha de Volodymyr Zelensky, adolescente, este está a ser um período complicado. “A minha filha vai entrar na Universidade, mas não pode ver os amigos nem andar pela cidade por questões de segurança. Não sabe se poderá ir estudar”, conta Olena, dizendo esperar conseguir devolver-lhes “a vida e a infância”.

Sobre o marido, diz que não se casou com o futuro presidente, nem com uma estrela da televisão ucraniana. Tudo isso aconteceu depois. “Não esperava nada mais do que encontrar um amigo, um companheiro, um marido para a vida e o pai dos meus filhos. Ele cumpriu todas as minhas expectativas: ser o melhor pai para meus filhos. Ele é a pessoa que nunca me falhou, nunca duvidei dele.”

A guerra, embora se pressentisse no ar, apanhou o país de surpresa, principalmente pela violência a que se tem assistido. “Sentimos um pouco de tensão meses antes da guerra. Todo ucraniano sentiu isso de uma forma ou de outra. Mas ninguém, nem mesmo eu, poderia imaginar que algo de tamanha crueldade pudesse acontecer no século XXI, de uma destruição tão ilógica sem nenhum pretexto.” Dia 24 de fevereiro “foi um teste horrível para nós, algo tão terrível que nem nos lembramos do que aconteceu antes”.

De resto, acredita que a Rússia está a conseguir o contrário do que pretendia. Uma das faces visíveis é que nunca tantos ucranianos falaram ucraniano em vez de russo, num país onde as duas línguas conviviam. “Na cidade onde fomos educados [Olena e Zelensky], falava-se russo, mas nas aldeias vizinhas, o ucraniano era usado. Terminei a escola em russo, mas quando entrei na universidade em 1995 já tinha aulas de ucraniano. Não estamos a viver uma transformação abrupta, somos um país independente desde 1991”, ou seja, com mais de 30 anos de transformação.

“Agora, alguns ucranianos falam ucraniano como uma forma de protesto. Como sempre, a Rússia conseguiu o resultado oposto ao que procurava: ao tentar russificar-nos, ucranianizou-nos. Às vezes, dizem que a mudança é muito difícil para as pessoas mais velhas. Mas a minha mãe, que tem 70 anos e sempre falou russo, está a começar a usar o ucraniano em casa.”