Portugal é um dos países da União Europeia (UE) onde os eventos meteorológicos extremos causaram maior impacto económico nos últimos 40 anos, levando o Produto Interno Bruto (PIB) português a cair 5% entre 1980 e 2020.

A conclusão é da Direção-Geral dos Assuntos Económicos e Financeiros da Comissão Europeia, que num relatório hoje publicado sobre o impacto orçamental de eventos climáticos e meteorológicos extremos afirma que “as perdas económicas do passado têm sido mais significativas em alguns países e anos da UE”, sendo que, “durante o período 1980-2020, [estas quedas] variam de quase 8% do PIB em Espanha a 7% do PIB na República Checa e 5% na Roménia e Portugal”.

Bruxelas contextualiza que “as perdas económicas totais estimadas são definidas como o valor de todos os danos à propriedade, colheitas e gado, bem como outras perdas relacionadas com a catástrofe”.

Embora destacando que, no conjunto da UE, ainda existe um “impacto económico médio contido devido a eventos extremos”, a Comissão Europeia realça que “é também muito provável que represente uma subnotificação dos efeitos reais dos riscos naturais”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para além dos desafios de recolha de dados, isto também está relacionado com o objetivo específico das bases de dados globais existentes sobre catástrofes naturais”, justifica.

De acordo com a instituição, “as perdas económicas anuais estão subjacentes a impactos distributivos significativos, com variações importantes ao longo do tempo e do país, dependendo da ocorrência de catástrofes naturais”.

Isto quer dizer que “a contribuição das catástrofes naturais para as perdas económicas globais não é homogénea entre países e entre tempos, uma vez que, muitas vezes, acontecimentos isolados conseguiram causar uma parte significativa das perdas económicas totais comunicadas”, assinala a Comissão Europeia.

Recorrendo a informações da base de dados internacional relativa a catástrofes (EM-DAT), a direção-geral do executivo comunitário aponta que “os eventos climatológicos têm seguido um padrão relativamente regional, uma vez que os incêndios florestais representam a catástrofe mais relevante – ou seja, cerca de 80% do total – nos países do sul da Europa”.

Numa altura em que Portugal ainda enfrenta vários incêndios florestais, Bruxelas aponta que este é um dos países mais “severamente afetado” por este tipo de fenómenos extremos, num total de 10 eventos de maior dimensão entre 2000 e 2020.

Da lista dos países da UE mais afetados, neste período, pelos fogos estão Espanha (11 eventos), Grécia (sete eventos), Croácia (seis eventos), Bulgária e Itália (cinco eventos).

Nestes Estados-membros, como Portugal, registaram-se também situações de seca, com a Comissão Europeia a explicar que esse fenómeno “tem sido ligeiramente mais generalizado, com episódios relatados na Europa Central e do Sul, bem como em alguns países bálticos”.

Recorrendo aos dados do EM-DAT, o executivo comunitário adianta que, “durante o período 1980-2020, as perdas económicas resultantes de fenómenos climáticos e meteorológicos extremos representaram um total de 3% do PIB nos países da UE”, com impactos anuais que representam “menos de 0,1% do PIB” no conjunto da União.

Neste relatório, Portugal faz ainda parte de um grupo de 13 Estados-membros (juntamente com Espanha, Roménia, República Checa, Hungria, Polónia, Grécia, Itália, Áustria, França, Bélgica, Alemanha e Holanda), para o qual foram feitos testes de “stress” sobre os impactos de um aquecimento de 1,5°C ou 2°C no planeta.

Como esperado, ambos os cenários de 1,5°C e 2°C resultam em projeções da dívida para o PIB progressivamente mais elevadas”, ressalva Bruxelas.

Num cenário base, a dívida pública portuguesa seria de 122,7% do PIB em 2023, de 121,8% do PIB em 2024 e de 126,2% do PIB em 2032.

Perante um aquecimento de 1,5ºC, a previsão para 2024 passaria a ser de 124,5% do PIB e para 2032 de 128,6% do PIB, com um agravamento no cenário dos 2ºC para, respetivamente, 124,9% do PIB e 129% do PIB.