O Banco Central Europeu (BCE) deverá subir as taxas de juro na reunião de quinta-feira, pela primeira vez em 11 anos, tendo surgido rumores nos últimos dias sobre a possibilidade de um aumento inicial mais agressivo.

Em junho, o BCE indicou que tencionava subir as taxas de juro em 25 pontos base na sua próxima reunião, mas desde então alguns membros do Conselho da instituição mostraram-se a favor de uma subida mais agressiva, da ordem dos 50 pontos base.

Segundo a agência Bloomberg, uma subida de 50 pontos base pode agora estar em cima da mesa para travar a inflação, que atingiu 8,6% em junho na zona euro.

O Banco Central Europeu está muito atrasado na normalização da sua política monetária e não pode esperar mais para aumentar as taxas de juro. Christine Lagarde a sua presidente, deve, portanto adotar um tom agressivo e agir finalmente com uma subida inicial de 50 pontos base, contrariando os 25 pontos base antecipados pelos mercados”, refere Franck Dixmier, da Allianz Global Investors, numa nota enviada à Lusa.

“A queda do euro face ao dólar – que aumenta o preço das matérias-primas – é mais um argumento para o BCE demonstrar a sua determinação”, acrescenta.

Nos últimos dois anos, o Banco Central optou por uma política monetária acomodatícia, com taxas de juro muito baixas e elevadas compras de ativos, para ajudar a economia a ultrapassar a crise causada pela pandemia de Covid-19.

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Desde há alguns meses, o BCE começou a preparar o terreno para pôr fim à era do dinheiro barato, tendo começado por reduzir as aquisições de dívida, que acabaram por cessar este mês.

A instituição liderada por Christine Lagarde junta-se assim a outros bancos centrais, como a Reserva Federal norte-americana, que têm estado mais ativos na luta para conter a subida de preços.

Há oito anos que o BCE aplica uma taxa de depósito negativa (-0,50%) aos excessos de liquidez que lhe são confiados pelos bancos. O objetivo era incitar as entidades bancárias a conceder mais crédito para apoiar a atividade e colocar a taxa de inflação, durante muito tempo baixa, em 2%, em linha com o mandato da instituição.

Agora a inflação disparou, com a recuperação pós-pandemia, com a tensão nas cadeias de abastecimento e com a crise energética associada à ofensiva russa na Ucrânia.

“De facto é difícil imaginar passar o verão em território de juros negativos quando a inflação ainda está a subir na zona euro”, segundo Franck Dixmier.

A inflação homóloga avançou em junho para 8,6% na zona euro, quando tinha ficado em 8,1% em maio.

Taxa de inflação da zona euro com novo máximo de 8,6% em junho

Retrospetivamente, “o processo de normalização muito gradual e prudente que o BCE iniciou no fim do ano passado foi demasiado lento e tardio”, considera Carsten Brzeski, economista da ING, citado pela AFP.

Um primeiro aumento das taxas de 25 pontos base parece “uma reação hesitante tendo em conta os níveis de inflação extremamente elevados”, na opinião do economista Ulrike Kastens, da empresa alemã de gestão de ativos DWS.

Para Jörg Krämer, do Commerzbank, justifica-se um aumento de 50 pontos base.

Até agora, alguns “falcões” no Conselho de Governadores também se mostravam a favor de um movimento mais agressivo, mas a maioria apoiava “um primeiro passo proporcional” para não perturbar os mercados.

Embora alguns membros do Conselho do BCE tenham sido favoráveis a um aumento de 50 pontos base, acreditamos que o aumento será de 25 pontos, tal como expresso na reunião de junho passado”, afirmam os analistas do BPI, numa nota enviada à Lusa.

No final desta reunião, espera-se também que o BCE dê mais detalhes sobre a ferramenta anti-fragmentação que anunciou em junho.

Com as finanças públicas nacionais sob forte pressão desde a pandemia de Covid-19 e agora com o impacto da guerra na Ucrânia, os encargos com os juros das dívidas começaram a divergir entre os países da zona euro, com os países mais endividados a serem penalizados.

Para os analistas do BPI, “o sucesso desta medida [anti-fragmentação] será fundamental para que o BCE possa implementar, minimizando os riscos de instabilidade financeira, o ciclo de subidas de taxas que pretende combater a elevada inflação da zona euro e apoiar um euro” que chegou a estar “momentaneamente abaixo da paridade com o dólar”.