“Uma operação destinada à deteção de métodos proibidos e substâncias ilícitas suscetíveis de adulterar a verdade desportiva em provas do ciclismo profissional” que levou à apreensão de “diversas substâncias e instrumentos clínicos, usados no treino dos atletas e com impacto no seu rendimento desportivo”. Na véspera de um 25 de abril, o ciclismo nacional dava início a uma autêntica revolução no âmbito da operação Prova Limpa, que levou então à detenção de dois diretores desportivos, Nuno Ribeiro (W52 FC Porto) e José Rodrigues (Fortuna Maia mas também com ligação aos azuis e brancos). No entanto, esse seria apenas o primeiro capítulo de uma investigação da Polícia Judiciária que continua três meses depois.

Após o afastamento de Nuno Ribeiro de qualquer função desportiva na modalidade (além de apresentações periódicas às autoridades), oito corredores e mais dois elementos do staff da W52 FC Porto foram também constituídos arguidos e mais tarde suspensos pela Autoridade Antidopagem de Portugal quando decorria o Grande Prémio Douro Internacional, que deixou apenas José Neves na estrada em representação da equipa até à vitória na competição ao fim de quatro etapas. Mais tarde, e apesar dos esforços para garantir o número mínimo de corredores que chegariam de Sub-23 espanhóis, a União de Ciclismo Internacional decidiu dar seguimento ao processo e suspendeu também a equipa na antecâmara da Volta a Portugal, decisão que fez com que a Direção dos dragões suspendesse o acordo feito para o ciclismo.

À partida, toda essa parte estava “resolvida” e à espera de uma decisão, entre uma carta aberta de Adriano Quintanilha, patrão da W52 FC Porto, que falava em “tentativa de assassinato de carácter” e deixava uma garantia de defesa intransigente dos corredores “até prova em contrário”. No entanto, a operação Prova Limpa acabou por ter um segundo capítulo na antecâmara do prólogo da Volta a Portugal. “Como objetivo principal a recolha de prova, nomeadamente de documentação e não a detenção de qualquer suspeito”, a Polícia Judiciária levou a cabo várias buscas em “locais ligados a equipas de ciclismo”.

A Efapel foi uma das equipas visadas, sendo que o corredor visado, Francisco Campos, assumiu perante o seu diretor desportivo que tinha sido alvo de buscas antes de ser constituído arguido. “Explicou-me o que é que o levou a isso, que não vou divulgar porque acho que é algo privado e diz-lhe respeito a ele”, disse à Lusa José Azevedo sobre o corredor que representou a W52 FC Porto entre 2019 e 2021 e era um reforço para atacar a Volta a Portugal. “Nesta equipa, há um código interno que desde o início do projeto expliquei aos corredores e do qual não nos movemos, não cedemos, nem admitimos. Por incumprimento dessas regras internas da equipa, foi imediatamente substituído, imediatamente a sua atividade dentro da equipa Efapel foi suspensa, e deixará de fazer parte deste projeto”, destacou o antigo corredor.

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Também a Rádio Popular Boavista esteve ligada à operação por um corredor, Daniel Freitas, que chegou a vestir a camisola amarela na Volta a Portugal e que passou igualmente pela W52 FC Porto, neste caso entre os anos de 2016 e 2018. “Esta tomada de posição vem na sequência de uma busca na sua residência, realizada por elementos da PJ, por suspeita de práticas indiciosas de utilização de substâncias não permitidas. Sem questionar o profissionalismo do atleta, desde que se encontra ao serviço da equipa, é para nós ponto de honra que a mera suspeição de qualquer ato conducente a defraudar a verdade desportiva é merecedor da nossa veemente censura, sublinhando-se que equipa é totalmente alheia a qualquer ato ilícito que o atleta possa ter praticado”, explicou a equipa que decidiu suspender e afastar o corredor da Volta.

A Glassdrive, uma das potenciais candidatas ao triunfo na Volta a Portugal, também foi alvo de buscas de forma isolada a um corredor. “Não à equipa nem a equipa está envolvida em nada disso, foi a um ciclista. Ainda ninguém sabe o real motivo das buscas mas uma coisa garanto: não temos nada a ver com isso enquanto equipa. Da nossa parte, estou de consciência tranquila. A equipa não compactua com esse tipo de situações. Aliás, temos um código interno de conduta desportiva que reprova qualquer tipo de situação dessas”, referiu ao jornal O Jogo o diretor desportivo da equipa, Rúben Pereira. “Não encontraram nada porque não havia nada para encontrar”, acrescentou ainda a esse propósito.

“Estas desagradáveis surpresas das últimas semanas e, em particular, este caso concreto de hoje, e ainda não tenho a noção exata da dimensão do que estamos a falar, tiram a motivação a qualquer um. Quando este ambiente começava a acalmar, cai novamente uma bomba destas… Obviamente que é desmotivante para qualquer um. Vou mandar a toalha ao chão? Claro que não mas estou preocupado. Depois do calvário que foi a notícia da W52-FC Porto, estava longe de pensar que essa péssima mensagem que passou e podia ter alterado a forma de estar, pelos vistos, de algumas pessoas que ainda estavam nesta caravana [não fosse entendida]”, referiu Joaquim Gomes, diretor da Volta a Portugal, à Lusa.