Ponto prévio: naquela que será a primeira época verdadeiramente pós-pandemia desde início, o futebol tem a contribuição de 0,3% para o PIB nacional com 550 milhões de euros, paga um total de 192 milhões de impostos e cria 3.729 postos de trabalho diretos. “Além destes dados, somos também a sexta melhor liga na Europa. Quantas atividades podem dizer o mesmo?”, explica Pedro Proença, presidente da Liga, em mais um dado que costuma apresentar nas reuniões que mantém com os mais variantes quadrantes da sociedade, incluindo as partes governativas. “É uma atividade que, até pelo que vem aí no futuro a nível de centralização dos direitos audiovisuais, precisa ser divulgada pelos quatro cantos do mundo. Não temos por exemplo apoios do IAPMEI nesse sentido, a nossa maior marca chama-se Cristiano Ronaldo”, atira.

Na antecâmara do arranque de mais uma edição da Liga Bwin, o órgão fez um ponto de situação do futebol profissional e também o caminho até onde espera chegar em 2027/28 – o último ano em que vai manter-se o atual modelo a nível de venda de jogos, numa data que poderá ainda ser antecipada. Aliás, a nível macro, essa é uma das três datas chave do processo: 1) em 2024/25 haverá um novo modelo da UEFA que aumenta o número de semanas de provas europeias e levará sempre a que exista no mínimo uma reflexão sobre os quadros competitivos perante este enquadramento (e existem cinco propostas equacionadas); 2) em 2025/26 será apresentado o modelo de centralização dos direitos audiovisuais; 3) a partir de 2028, um novo modelo que permite não só juntar mais receitas como minimizar a distribuição dos dividendos.

No entanto, e até esse patamar, há uma condição com tanto de necessário como de obrigatório para chegar ao “produto” desejado: melhorar o que é hoje competição a nível profissional. E foi nesse sentido que a Liga anunciou alguns dos pontos fortes que tem em mente já a pensar na edição que arranca sexta-feira.

Mais pessoas com bilhetes mais baratos a melhores horas e o tempo de jogo

Em termos desportivos, a grande aposta de 2022/23 entronca no aumento do tempo útil de jogo, que se situa nesta fase nos 60 minutos. Como? Fazendo ações de sensibilização junto de todos os agentes entre jogadores, treinadores, dirigentes e árbitros; “provocando” esse objetivo também através da forma como se comunica; e dando prémios às equipas que mais fizerem prevalecer esse ponto. “Ainda assim, tudo isso tem também algo de cultural, de mudança de mentalidades”, admite Proença, que dá como exemplo o que se passa noutras ligas europeias e a diferença de ritmo que se vê entre as equipas nos jogos internacionais.

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Outros pontos importantes para esse regresso dos adeptos aos estádios, com o objetivo de aumentar 5% face à época de 2018/19 antes da pandemia (chegando a um valor de 4.460.000 espectadores), passa pela limitação do teto máximo do valor dos bilhetes – que pode chegar aos 75 euros mais IVA mediante as tipologias em causa mas que tem como meta a redução para metade desse montante – e pela questão da calendarização de jogos a nível de dias e horas. “Há uma gestão que tem de ser feita entre um triângulo que tem nos vértices a parte da gestão desportiva, os operadores que pagaram por esses direitos e o público nos estádios”, explicou o presidente da Liga, que reforçou a vontade de colocar o máximo possível de jogos ao fim de semana e não fechou a porta à possibilidade de partidas de manhã como existe na Segunda Liga.

Uma justiça mais rápida e mais dura para aumentar a credibilidade

Um dos pontos em causa está relacionado com a celeridade da justiça desportiva e, posteriormente, com o que existe até haver o trânsito em julgado. Assim, a Liga anunciou que a Comissão de Inquéritos, que em termos figurativos acaba por ser um Ministério Público que monta o caso para apreciação de quem decide (o Conselho de Disciplina da Federação), vai passar a ser profissional, dedicando-se só aos processos de instrução e com tempo monitorizado para reduzir os prazos. Em paralelo, existe também vontade de fazer ver a necessidade de existir um Tribunal Desportivo que possa acabar com os sucessivos recursos e formas de adiar os processos, algo que está relacionado com “a própria arquitetura existente”.

Em paralelo, a Liga quer colocar como prioridade uma revisão geral dos Regulamentos Disciplinares e de Competições para aumentar o nível das sanções e agilizar os procedimentos que estão relacionados, sempre numa ótica de “maior celeridade vai também contribuir para um aumento de credibilidade”.

A centralização, o bolo de 275/350 milhões e a diferença de um para três no futuro

A centralização dos direitos audiovisuais é o ponto forte que vai nortear os próximos anos, numa espécie de bandeira da revolução do futebol profissional no país. Já existe nesta fase uma empresa dentro do universo Liga com esse pelouro, a Liga Centralização, e um estudo encomendado à EY com relatório final a agosto de 2021 aponta para um bolo total de receitas entre 275 e 350 milhões de euros. A possibilidade de haver uma antecipação da implementação antes de 2028 não é colocada completamente de parte mas será sempre algo complexo tendo em conta os contratos vigentes, não só com operadoras televisivas mas ainda com operadores financeiros. Ainda assim, o foco passa por avançar com uma medida que vai reduzir o fosso de um para 15 atuais para um para três entre quem recebe mais e menos nas ligas profissionais.

Ao mesmo tempo que as bases vão sendo montadas para esse momento, existem duas outras questões que serão alvo de análise à semelhança do que foi feito nas outras ligas: o combate à pirataria, que representa mais de metade de quem vê jogos, e a forma de promover a competição nos mercados internacionais. A nível nacional, a centralização chegará com a criação de um Regulamento de Direitos Audiovisuais e com uma revisão do Regime de Controlo Económico, no sentido de adequar as exigências às receitas geradas.