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A primeira missão Artemis, e a respetiva cápsula Orion, deverá partir no final do mês de agosto — ou, no limite, no início de setembro (2 ou 5) —, assim as condições meteorológicas o permitam, ou perde-se a oportunidade de fazer a rota planeada. O regresso está planeado para 10 de outubro.
Não, não é um novo filme. A Ovelha Choné vai mesmo dar a volta à Lua com a missão Artemis I
Esta primeira missão não será comandada a bordo, embora leve como astronauta a Ovelha Choné, e serão os controladores em Terra que levarão a nave além da Lua, mais longe do que alguma vez um homem (ou uma ovelha) foi.
Com a Artemis II, planeada para 2024, já vão viajar tripulantes humanos que podem comandar a nave, ainda que ainda não seja o momento para pousar na Lua. Isso só deverá acontecer com a Artemis III, planeada para 2025, e a partir daí missões anuais e o estabelecimento de uma base lunar que pode manter-se no satélite natural da Terra durante 50 anos.
Para dar a conhecer todos os pormenores desta missão, mais de 50 anos depois de o homem ter pisado pela primeira vez a Lua, a NASA (agência espacial norte-americana) deu uma conferência de imprensa esta tarde, às 16h30, que o Observador lhe reporta aqui.
Live Now: NASA and @ESA experts discuss specific objectives for our uncrewed #Artemis I test flight around the Moon.
Set to launch on Aug. 29, the first @NASAArtemis mission is set to last four to six weeks. Discover more: https://t.co/GtMraRlgtV https://t.co/lYHZM9vZx1
— NASA (@NASA) August 5, 2022
Marque na agenda: 13h33 de 29 de agosto de 2022
A primeira boa oportunidade de lançamento será no dia 29 de agosto, às 8h33 no Centro Espacial Kennedy (mais cinco horas em Lisboa). Poucos minutos após o lançamento, os foguetões que servem para aumentar o impulso desligam-se, separam-se e prevê-se que caiam no oceano Atlântico.
O foguetão principal só se vai separar mais tarde, já numa posição horizontal em relação à superfície da Terra, e acabará por cair no oceano Atlântico. Nessa altura separa-se também o topo, em forma de agulha, que é o módulo de segurança e está preparado para afastar a cápsula do foguetão rapidamente: vai dos zero aos 640 quilómetros por hora em dois segundos.
Hey, how does a spacecraft get to the Moon? Find out as you follow along Orion’s journey on #Artemis I! https://t.co/KDpxNCAe2U (1/3) pic.twitter.com/5RVyF0CUT7
— Orion Spacecraft (@NASA_Orion) June 2, 2022
A partir daí a cápsula Orion vai estar, praticamente, por sua conta e ao fim de 18 minutos após o lançamento abrirá os seus painéis solares, numa operação que vai durar cerca de 12 minutos. Neste momento, Orion estará a cerca de 167 quilómetros de altitude.
Chegar a uma órbita afastada para não cair ao mar
No entanto, alerta Judd Frieling, diretor de subida e descida da Artemis I, é preciso fazer algumas manobras que coloquem a cápsula a uma distância maior da Terra. Caso contrário, ao fim de 51 minutos após o lançamento, em vez de estar a 1.810 quilómetros de altitude, cairia no oceano Pacífico, à semelhança do foguetão principal.
Assim que a cápsula se encontre estável numa órbita mais externa da Terra, serão ligados os motores — numa combustão de cerca de 18 minutos —, que colocará Orion na rota em direção à Lua, acrescentou Judd Frieling. Isto significa mais ou menos três horas após o lançamento.
Para vermos o que acontece a Orion depois de sair da influência da órbita da Terra é preciso fazer zoom out (afastar) — e mudar de equipa na base de comando — até porque a missão chegará aos 450 mil quilómetros de distância da Terra, mais cerca de 50 mil quilómetros do que o máximo alcançado pela missão Apollo 13, em 1970.
Se olhou para o mapa da viagem e estranhou o ponteado que também dá a volta a Lua e depois se afasta, Rick LaBrode, diretor principal de voo da Artemis I, explica do que se trata: o propulsor criogénico que deixou de ser necessário e que, depois de cumprir a sua missão, se separa da Orion, dá a volta à Lua e segue em direção ao Sol — qual Ícaro dos tempos modernos.
Será que os painéis solares aguentam as vibrações?
Orion, por sua vez, começara os testes de combustão e manobrabilidade para ver se tem os mecanismos a postos da aventura que se avizinha e para testar se os painéis solares aguentam a vibração causada por estes “arranques”.
Rick LaBrode lembra que, a dado momento da órbita em torno da Lua, a cápsula estará do lado escuro do satélite natural da Terra, aquele que nunca vemos e com o qual também não será possível comunicar. “Mas estamos confiantes que tudo correrá bem”, diz.
Uma vez na órbita mais afastada da Lua, a cápsula dará duas voltas e meia, no período de cerca de duas semanas [até a Ovelha Choné ficar enjoada de tanto olhar para o poeirento satélite]. Nesse período, a equipa na base de comando vai testar os vários equipamentos a bordo e contar ao mundo como está a correr a missão — a começar pelas selfies da Orion com a Lua.
Enquanto estiver na órbita lunar, a Orion ligará os motores por breves momentos (pequenas combustões) só para garantir que se mantém na trajetória correta. Ao fim das duas voltas e meia ligará os motores com mais potência para ser projetada para perto da Lua, onde dará uma volta e ganhará impulso para voltar à Terra.
O assombro da última explosão em direção à Terra
Mas a combustão que mais preocupa a equipa de Rick LaBrode é a que colocará a cápsula na rota em direção à Terra. “Se tivermos um problema e não a executarmos, perdemos a Orion.” Não só perdem a Orion como tudo o que estiver na cápsula: desta vez a Ovelha Choné, da próxima astronautas humanos.
Na verdade, a Ovelha Choné não estará sozinha. A bordo irão manequins que mimetizam os tecidos humanos para perceber como reage o organismo à radiação e aceleração durante a viagem, conta Debbie Korth, diretora adjunta do programa Orion. Nas missões tripuladas também haverá maneira de os astronautas se exercitarem e satisfazerem as necessidades fisiológicas básicas.
Já quase a chegar à atmosfera da Terra, o controlo da cápsula volta para a equipa de Judd Frieling. Dá-se a última separação, entre o módulo onde estará a tripulação e o módulo de serviço criado e controlado pela Agência Espacial Europeia (ESA). Por esta altura, o módulo terá cumprido a missão de controlar a rota da cápsula, manter uma temperatura confortável no habitáculo, transportar os consumíveis para a tripulação humana e fixar os painéis solares.
Este módulo também terá um depósito de nitrogénio cujo objetivo é testar se este depósito conseguiria reestabelecer a pressão no habitáculo em caso de despressurização (que colocaria a vida dos astronautas em risco).
“Infelizmente, o módulo de serviço vai arder completamente ao reentrar na atmosfera e cair sobre a forma de pequenos pedaços de poeira no Pacífico do sul”, diz Philippe Deloo, gestor de programa da ESA do módulo se serviço europeu Orion.
11 paraquedas para travar os 40 mil quilómetros por hora
A cápsula ao largo de São Francisco (Califórnia) onde poderá ser recuperada. Enquanto atravessa a atmosfera, serão abertos sequencialmente 11 paraquedas, para travar a descida — cairá na água a 30 quilómetros por hora.
A recuperação da cápsula será coordenada pela equipa de Melissa Jones, diretora da recuperação da Artemis I, e contará com a ajuda da Marinha norte-americana — tal como sempre aconteceu com as missões Apollo. Durante a descida, haverá helicópteros no mar e barcos de borracha e mergulhadores na água para vigiar cada momento da queda.
Nesta primeira missão, a equipa tentará recolher todo o material possível, incluindo paraquedas e outros equipamentos, para poder analisar como resistiram à reentrada na atmosfera terrestre. No total, o processo levará quatro ou cinco horas, para validar se é seguro para transportar uma tripulação humana, mas a partir da Artemis II será mais rápido — 80 minutos ou menos para recuperar a cápsula e retirar os astronautas.
Um escudo que aguenta quase 3.000º C
Neste caso, e porque esta missão serve para testar os procedimentos e equipamentos, depois de a cápsula cair na água, irão ser realizados testes durante cerca de duas horas, incluindo para perceber se a cápsula é capaz de isolar das altas temperaturas provocadas pela reentrada na atmosfera terrestre.
Plasmas Hipersónicos ou como as naves atravessam um “bunker” espacial em Lisboa
A reentrada vai dar-se a uma velocidade de cerca de 40 mil quilómetros por hora, o que faz com que o exterior da cápsula atinja uma temperatura de cerca de 2.760 graus Celsius, equivalente a metade da temperatura da superfície do Sol. Mas o interior tem de manter-se minimamente fresco e seguro para os astronautas.
A cápsula está coberta de 1.300 painéis de sílica, à semelhança do que acontecia com a Space Shuttle (a nave espacial que orbitava a Terra antes de existir Estação Espacial Internacional).
A base da Orion estará ainda protegida pelo maior escudo térmico alguma vez construído — de 50 metros de diâmetro —, composto de um esqueleto de titânio, revestido por uma “pele” de fibra de carbono, por sua vez coberta por blocos capazes de aguentar temperaturas muito mais altas do que a Space Shuttle alguma vez teve de suportar.
Uma piscina e um fato espacial para simular a Lua
A Artemis I é um teste para perceber se os equipamentos conseguem preservar a integridade dos astronautas que deverão seguir a bordo a partir da Artemis II, mas o objetivo final, como destacou o astronauta Reid Weisman, é preparar uma missão com tripulação humana capaz de chegar a Marte.
Just keep rolling!@NASA’s Volatiles Investigating Polar Exploration Rover (VIPER) prototype recently endured the most realistic tests to-date of its ability to drive through the most difficult terrain during its mission to the Moon.
READ MORE >> https://t.co/KNy6ek9tzX pic.twitter.com/6u5pZUKhP5
— NASA_SLS (@NASA_SLS) July 27, 2022
Uma das fases do treino dos astronautas, explica Weisman, é feita com helicópteros para que se habituem a aterrar na vertical, tal como terá de ser feito na superfície da Lua e, eventualmente, na superfície de Marte. Outra passa por estar em ambientes semelhantes aos lunares, mas na Terra, para testar a melhor forma de recolher amostras de rochas, guardá-las e catalogá-las.
O astronauta reforça a importância da realidade virtual para simular, por exemplo, como incidirá a luz solar na Lua. “Haverá momentos em que metade do nosso corpo estará em absoluta escuridão e a outra metade a brilhar de forma ofuscante.”
E termina com tipo de treino que é feito aos astronautas da Estação Espacial Internacional para que se preparem para ter de estar de fato espacial, no exterior da nave, a fazer qualquer reparação. Basta uma piscina, a simulação da superfície lunar e um fato espacial para testar se o astronauta aguenta seis horas em atividade como aconteceria na superfície lunar.
Última atualização às 20h30