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Uma equipa que escreve o próprio nome com R: de reforços e de Rafa (a crónica do Benfica-Arouca)

Este artigo tem mais de 2 anos

No arranque da Liga, os encarnados golearam o Arouca na Luz e carimbaram os primeiros três pontos da época (4-0). Gilberto marcou, Enzo Fernández também (com direito a exibição de luxo) e Rafa bisou.

SL Benfica v FC Arouca - Liga Portugal Bwin
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O avançado português foi dos melhores da equipa de Roger Schmidt e marcou dois golos

Getty Images

O avançado português foi dos melhores da equipa de Roger Schmidt e marcou dois golos

Getty Images

Em 1992, antes de escrever os êxitos “High Fidelity” e “About a Boy”, Nick Hornby escreveu “Fever Pitch”. O livro, obrigatório para todos aqueles que gostam de futebol, descreve a paixão do próprio autor pela modalidade, no geral, e pelo Arsenal, em particular: ao longo das várias fases da vida, entre infância, adolescência e idade adulta, Hornby é capaz de incluir o quanto o futebol impactou cada decisão que tomou. Uma lógica resumida por uma das passagens mais conhecidas: “De vez em quando, não muitas vezes, temos um vislumbre de um mundo que não acaba em maio e começa em agosto”.

Ora, para todos aqueles cujo mundo acaba em maio e começa em agosto, o mundo recomeçava esta sexta-feira, no Estádio da Luz, com a primeira jornada da Primeira Liga. Em casa, o Benfica recebia o Arouca e dava início a uma temporada em que deposita enormes expectativas — por vários motivos. À partida, pelo simples facto de não conquistar qualquer título há três épocas, algo raro ou quase inédito nas últimas décadas dos encarnados; depois, pelo facto adicional de ter um treinador novo, uma filosofia nova e um projeto novo, muito assente na ótica de um presidente que só este ano irá colocar em prática aquilo que realmente quer para o clube; e, por fim, pelo facto óbvio de ter alcançado contratações sonantes, entre David Neres e Enzo Fernández.

Ficha de jogo

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Benfica-Arouca, 4-0

1.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Manuel Mota (AF Braga)

Benfica: Vlachodimos, Gilberto (Alexander Bah, 63′), Otamendi, Morato, Grimaldo, Florentino (Weigl, 63′), Enzo Fernández, David Neres (Yaremchuk, 72′), João Mário (Chiquinho, 34′), Rafa, Gonçalo Ramos (Henrique Araújo, 72′)

Suplentes não utilizados: Helton Leite, Vertonghen, Musa, António Silva

Treinador: Roger Schmidt

Arouca: Arruabarrena, Tiago Esgaio, João Basso, Opoku, Mateus Quaresma, Busquets (Soro, 69′), Yaw Moses, Antony (Bruno Marques, 79′), Alan Ruiz (Rafael Fernandes, 45′), Arsénio (Bukia, 45′), Rafa Mújica (Milovanov, 45′)

Suplentes não utilizados: Zubas, Morlaye Sylla, Bruno Marques, Kizza, Vitinho

Treinador: Armando Evangelista

Golos: Gilberto (8′), Rafa (42′ e 86′), Enzo Fernández (45+6′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Opoku (1′), a Florentino (54′), a Weigl (82′), a Rafa (83′); cartão vermelho direto a Mateus Quaresma (45+2′)

Roger Schmidt, alemão que trocou os Países Baixos e o PSV por Portugal e pelo Benfica, tinha esta sexta-feira o primeiro teste no futebol português — depois de, na terça-feira, já ter deixado boas indicações no obstáculo inicial, na primeira mão da terceira pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões, onde os encarnados golearam o Midtjylland. Era precisamente a meio do duelo contra os dinamarqueses, já que o Benfica vai a Herning na próxima semana para selar o apuramento para o playoff, que a equipa de Schmidt iniciava uma caminhada que tem como objetivo óbvio voltar a conquistar o Campeonato.

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“Vamos jogar em casa. O jogo de terça-feira foi uma boa preparação. Quando jogamos em casa queremos controlar o jogo e pressionar o adversário. O desafio é estar atento ao posicionamento tático e estar preparado para as transições e para os contra-ataques. Estamos preparados para isto, falamos muito sobre estes temas, porque são cruciais. Se queremos ser proativos no jogo temos de ter atenção ao controlar os espaços na defesa. É sempre um tópico nos treinos. É o primeiro de 34 passos e queremos dar um bom primeiro passo. Queremos jogar um futebol de ataque desde o início, ganhar o jogo. Esperamos marcar muitos golos, ganhar muitos jogos para alcançar muitos pontos e vencer troféus. A jogar em casa, o objetivo tem sempre de ser ganhar”, explicou o técnico alemão na antevisão da partida.

Assim, contra o Arouca, o Benfica apresentava-se com o mesmo onze que tinha sido titular frente ao Newcastle, na apresentação, e também com o Midtjylland: ou seja, com Vlachodimos na baliza, Gilberto e Grimaldo nas laterais e a dupla Otamendi/Morato no eixo defensivo, Florentino e Enzo no meio-campo e Neres, João Mário e Rafa no apoio mais direto a Gonçalo Ramos. Do outro lado, numa equipa que terminou apenas dois pontos acima da linha de água na época passada, Armando Evangelista não podia contar com os lesionados Galovic e David Simão e lançava os reforços Arruabarrena, Opoku, Busquets e Mújica no onze inicial.

Na Luz, a primeira parte trouxe um Benfica com a clara vontade de assumir o jogo e um Arouca que não pretendia ser um mero convidado da primeira jornada dos encarnados. A equipa de Roger Schmidt atuava com as linhas muito subidas no terreno, algo que já tinha sido demonstrado contra o Newcastle e contra o Midtjylland, e explorava toda a largura do terreno ao colocar muitas bolas nas alas. O conjunto de Armando Evangelista defendia com uma linha de cinco, já que Arsénio recuava e Quaresma juntava aos centrais sempre que o adversário tinha a bola, e apostava essencialmente no contra-ataque na hora de causar alguns calafrios à defensiva do Benfica.

Ainda assim, ainda dentro dos 10 minutos iniciais, surgiu o primeiro golo do Campeonato. Num bonito desenho ofensivo, Rafa combinou com Grimaldo na esquerda, o lateral espanhol cruzou atrasado já em cima da linha de fundo e Gilberto, completamente sozinho e muito oportuno, atirou de cabeça para abrir o marcador (8′). Após o golo, e à exceção de um cabeceamento de João Mário que ficou nas mãos de Arruabarrena (14′), o Benfica tirou ligeiramente o pé do acelerador e permitiu que o Arouca respirasse — os encarnados colocam muita gente na frente e apostam tudo nas investidas ofensivas, deixando muito espaço nas costas e boas oportunidades para aproveitar a profundidade. Os arouquenses tentaram fazer isso mesmo, ficando na retina um lance em que Mújica rematou à meia-volta mas Gilberto apareceu a fazer um corte crucial (20′), e a equipa de Roger Schmidt ia gerindo mas sem grande controlo.

Enzo rematou de muito longe mas por cima (23′), João Mário também falhou o alvo de fora de área (25′) e David Neres acertou na malha lateral (30′) e os erros do Benfica apareciam essencialmente no último passe, no critério da derradeira decisão — sendo exemplo disso mesmo o facto de Gonçalo Ramos, a referência ofensiva da equipa, ter tocado apenas duas vezes na bola até à meia-hora e não ter tido qualquer oportunidade de golo na primeira parte. Ainda assim, a superioridade do Benfica era inegável e acabou por ser incontrolável: já perto do intervalo, Rafa acelerou na esquerda, tirou dois adversários da frente, procurou assistir Gonçalo Ramos mas o passe saiu prensado e o cabeceamento do avançado foi à trave, com o mesmo Rafa a encostar de cabeça na recarga para aumentar a vantagem (42′).

Até ao fim do primeiro tempo, João Mário teve de ser substituído por Chiquinho, tendo ficado com problemas físicos na sequência de uma entrada de Arsénio, e Mateus Fernandes viu o cartão vermelho direto após falta sobre Rafa — sendo que Manuel Mota teve de recorrer às imagens do VAR para considerar que o avançado seguia isolado para a baliza e expulsar o defesa do Arouca, já que tinha mostrado o amarelo numa primeira fase. Reduzida a dez elementos e claramente a desesperar pelo intervalo, a equipa de Armando Evangelista ainda sofreu o terceiro golo, com Enzo Fernández a finalizar de primeira após um ressalto na área (45+6′).

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do Benfica-Arouca:]

Com menos um jogador, Armando Evangelista procurou reequilibrar a equipa e evitar um descalabro e fez três substituições ao intervalo, trocando Mújica, Arsénio e Alan Ruiz por Milovanov, Bukia e Rafael Fernandes. De forma expectável, e claramente já a pensar na partida da próxima terça-feira contra o Midtjylland, na Dinamarca, o Benfica quebrou o ritmo e optou por ir controlando a vantagem, aproveitando a superioridade numérica para gerir com bola e sem grande velocidade.

Roger Schmidt fez as primeiras substituições já depois da hora de jogo, trocando Gilberto e Florentino por Alexander Bah e Weigl, e a partida ia prosseguindo com poucos pontos de interesse e sem grande entusiasmo por parte das duas equipas, contando-se apenas um remate de Antony que Vlachodimos encaixou (59′) e um pontapé cruzado de Grimaldo que passou ao lado (69′).

Até ao fim, o treinador alemão ainda deu minutos a Yaremchuk e Henrique Araújo e Rafa ainda foi a tempo de bisar e levar o resultado para a goleada, aproveitando um cruzamento certeiro de Bah na direita para encostar para a baliza (86′). O Benfica goleou o Arouca na primeira jornada do Campeonato e carimbou os primeiros três pontos da temporada num dia em que ficou claro que esta equipa de Roger Schmidt escreve o próprio nome com R: R de reforços, com a brilhante exibição de Enzo Fernández à cabeça; e R de Rafa, que parece ser a derradeira ponte de ligação entre o conjunto da época passada e o conjunto da época atual.

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