O que pode desejar receber no seu 40.º aniversário alguém que tem tudo? “Uma manta para a mota”, pede Tamara Falcó ao namorado, o empresário Íñigo Onieva, aparentemente sem grande sucesso. Na ressaca da grande festa digna de “um filme”, enquanto o casal toma o pequeno almoço numa suite do Ritz de Madrid e Falcó partilha abacate com o seu cão, a influencer que em 2019 venceu a quarta edição do Masterchef Celebrity conta os planos para o futuro próximo: abrir um restaurante seu. Cenário? El Rincón. O palácio de família, situado em Aldea del Fresno, nos arredores da capital, foi outrora morada da avó que vivia rodeada dos seus 50 criados, da tia Paloma e do tio Pepito (José Mitjans), antigo colega de escola do rei emérito Juan Carlos, cujas fotos por ali resistem, num cenário que hoje pede uma intervenção digna de um “Querido, Mudei a Casa” em versão Downton Abbey.
Com o selo da Komodo Studio, os mesmos responsáveis de “Soy Georgina”, “A Marquesa” é o reality show que chegou no começo de agosto à plataforma Netflix, um formato em seis episódios de meia hora cada, que segue a miúda da porta do lado — só que a porta do lado é a de um castelo, já que este é também um dos rostos mais populares da elite aristocrática do país vizinho. Falamos da Marquesa de Griñón, filha de Carlos Falcó e da socialite Isabel Preysler, e que se torna assim a primeira celebridade espanhola com dois reality shows em nome próprio, depois de “We Love Tamara”, na Cosmo, em 2013, e da reveladora passagem pelo reality de cozinha. E que no seu aniversário optou por um vestido de princesa que a levou a passar a noite a dizer “pareço um bolo”.
[O trailer oficial e original do formato]
Nada que seja novidade para quem nasceu em berço privilegiado, e cresceu debaixo do interesse das câmaras e da imprensa, uma projeção dividida com os irmãos do lado Inglesas (Chabeli, Enrique e Julio) e Boyer (Ana). “Aquilo que para alguns parece uma vida de filme, para mim não deixa de ser a coisa mais normal do mundo”, admite Falcó, que acabaria por estudar na célebre escola de cozinha Le Cordon Bleu e que pretende agora lançar-se num formato de restaurante pop up, ou uma experiência para saborear no histórico Rincón. Mas, primeiro, é preciso solucionar o problema da humidade nas paredes e a tinta a descamar, a maior dor de cabeça no horizonte para alguém que desconhece os dramas dos remediados. Para essa missão, conta com o amigo e designer Juan Avellaneda.
Para os fãs do género, seguidores inveterados de celebridades ou simples curiosos que se cruzam por puro acaso com o título em destaque entre os mais populares do momento na plataforma de streaming, um pequeno alerta: é possível que o conteúdo se transforme no guilty pleasure por excelência para esta reta final de silly season. E há razões de peso para isso acontecer, a começar pela confluência de temas, episódios e personagens que povoam “A Marquesa”, qual novela da realeza da vida real, numa viciante vertigem rumo ao vazio. Ah, para não falar das tiradas dignas de um argumento com assinatura de Pedro Almodóvar, sublinha o El País.
Por um lado, vemo-la ocupada com tarefas alheias à rotina do comum dos mortais, como empenhar-se na gestão de um castelo ou da herança que o seu pai, Carlos Falcó, que morreu recentemente, vítima de Covid-19, lhe deixou, com o título de marquesa a passar para as suas mãos. Por outro, nas múltiplas e mediáticas aparições públicas não se livra do bombardeamento de perguntas que não serão estranhas a tantas outras mulheres: “Quando é que se casa?”, “E filhos?”, “É verdade que o seu namorado a traiu?”, “Seria capaz de perdoar uma traição?”.
O assédio dos media ao casal subiu de tom depois do escândalo da alegada infidelidade de Onieva, o que terá tornado o embate com os microfones e gravadores ainda mais difícil, mesmo para quem está habituada a figurar ao longo dos anos na capa da Hola! Mas Falcó faz por sorrir e seguir em frente, garantindo confiança absoluta no companheiro.
Há mais momentos glamorosos na calha, como uma viagem a Nova Iorque para assistir ao desfile de Carolina Herrera. Sentadas na primeira fila, a designer venezuelana pergunta-lhe que câmaras são aquelas à frente? “São da Netflix”, explica Tamara, que já no quarto de hotel se reúne com a mãe e o marido desta, o escritor peruano Mario Vargas Llosa, outro par que faz as delícias das páginas do cor de rosa. De resto, é com expectativa que os telespectadores aguardam para ver que peso terá a rainha do social e dos corações, como é conhecida, neste formato. É certo que as aparições de Preysler são escassas mas a referência constante à “Mammi” põem-na em permanência no ecrã, mesmo quando não aparece. Um bom exemplo? O diálogo entre Tamara e Bárbara Pan. “A tua mãe dissimula muito bem“, nota a ceramista. “Sim, porque é asiática”, repara Falcó. “Sempre tive muita inveja das asiáticas, porque eu estou sempre angustiada. Por isso como tanto”. E para que conste, as maiores reservas sobre a viabilidade de um restaurante num palácio fora do centro madrileno vêm precisamente da matriarca.
É do Vaticano, no entanto, que chega um dos momentos mais peculiares, quando a influencer tem uma audiência com o Papa, a quem leva para serem benzidos 87 terços e uma das suas criações para a marca de joalharia Tous, uma medalha com a imagem da Virgem. Tamara ajoelha-se em sinal de reverência mas para a história passa o momento em que Francisco lhe pede para se levantar, gesto interpretado pela protagonista como um raspanete. “Chateou-se comigo!”, dirá Falcó ao telefone, partilhando ainda na série outros detalhes sobre a sua relação com a fé: “Há dez anos, a fé apareceu na minha vida e mudou-a. Cheguei a pensar tornar-me freira”, adianta. “Em vez de querer sair à noite e beber uns sete copos, o que eu queria era ficar em casa a rezar o terço”.