“Há dois ou três anos as coisas mudaram muito. Não podemos esquecer e não podemos negar as situações que aconteceram quando cheguei ao país. Antes era mais difícil quando andava na rua, havia muitas polémicas. Depois tudo mudou e as pessoas já falam melhor comigo. Já consigo falar português e percebo melhor também. Tudo tem mudado, agora, mesmo quando vou ao shopping ou supermercado com a minha família, ou ando apenas pela rua, tem sido muito bom”. Falando à margem de uma homenagem da Câmara Municipal de Setúbal (ou mais uma), Pedro Pablo Pichardo mostrava não esquecer os primeiros anos em Portugal antes de uma viagem que aponta para um período na altura de 2019, quando teve a primeira grande prova internacional pela Seleção com um quarto lugar nos Mundiais de Doha.

Pedro Pablo Pichardo termina em quarto e falha medalha na final do Mundial por quatro centímetros

Daí para cá, mudou o contexto, mudaram os resultados. Mais até do que mudar, apareceram os resultados que o atleta tanto procurava, a ponto de se ter tornado num crónico candidato pelo menos ao pódio em todas as provas em que participa: após o período de pandemia, sagrou-se campeão europeu de Pista Coberta em Torun em março de 2021; ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio em agosto de 2021; ficou com a prata nos Mundiais de Pista Coberta em março de 2022 atrás do cubano Lázaro Martínez; e sagrou-se campeão mundial ao Ar Livre em Eugene no último mês. Seguia-se o Europeu.

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Agora a Europa, a seguir o Mundo: Pedro Pablo Pichardo conquista primeira medalha de ouro por Portugal no triplo salto

“É como sempre digo: gosto de competir e ganhar. Na minha cabeça está sempre a vitória. Tenho tido muitas competições e a viagem aos EUA deixou-me fatigado mas já estamos a trabalhar e espero que comecem a sair bons resultados”, referiu então, antes de fazer uma participação modesta mas suficiente no triplo para o Benfica assegurar o 12.º título nacional masculino consecutivo masculino e uma segunda posição no meeting da Silésia apenas superado pelo cubano Andy Díaz com a marca de 17,29. Uma marca que, apesar de ser muito curta para o que vale, poderia ser suficiente nestes Europeus.

Limpou a areia, falou com o pai, rezou e encontrou a fé para voar: o salto de recorde nacional que coroou Pichardo campeão olímpico

Pichardo está em Munique a fazer quase duas competições paralelas: por um lado, pela medalha de ouro e o fecho de um ciclo de sonho; por outro, pela sua luta para ultrapassar os 18 metros, marca que conseguiu fazer ainda como cubano mas que ainda não alcançou como português (17,98 nos Jogos, que ficaram como recorde nacional, e 17,95 nos últimos Mundiais). E, olhando para os possíveis rivais mais diretos como os italianos Andrea Dallavalle e Emmanuel Ihemeje ou os franceses Jean-Marc Pontvianne e Benjamin Compoaré, partia como um claro favorito à vitória na final de quarta-feira. Agora, era altura de colocar em prática os serviços mínimos para a qualificação. E os mesmos chegaram de forma natural.

A melhor marca do ano a abrir, a festa a fechar: Pedro Pablo Pichardo sagra-se campeão mundial do triplo salto

Com uma marca de qualificação de 16,95, que na primeira tentativa conseguiu apenas ser alcançada pelo italiano Emmanuel Ihemeje (17,20, melhor marca pessoal do ano), Pichardo teve um salto inicial muito discreto a 16,89 que, ainda assim, deveria em condições normais ser suficiente para chegar à final pelas repescagens. No entanto, a segunda tentativa acabou com qualquer dúvida que pudesse eventualmente existir, com a marca de 17,36 depois de Jean-Marc Pontvianne ter garantido o apuramento com 16,96.

Em atualização