As férias de verão são, para muitos portugueses, sinónimo de praia e mergulhos no mar ou na piscina. Os mais aventureiros arriscam saltar das rochas ou fazer manobras no ar — quais golfinhos em plena diversão. Mas os humanos não são animais marinhos e o risco de lesão grave (ou morte) é real. Uma equipa norte-americana propôs-se compreender a hidrodinâmica do mergulho para ver que forças entram em conflito com o organismo.
“Sempre que a altura do mergulho é tal que impacto do mergulho excede a força crítica de compressão dos músculos, ligamentos ou ossos, ocorrem lesões”, escreveram os investigadores num artigo publicado na revista científica Science Advances, em julho. Desafios perigosos, como cair de cabeça na água sem qualquer proteção de uma altura de oito metros, podem provocar uma lesão na coluna cervical (as vértebras do pescoço) ou um traumatismo craniano. De certo que também não gostaria de lançar-se contra um porta de cabeça para a abrir (a porta, claro).
Deixamo-nos fascinar pelo voo picado dos gansos-patolas que mergulham para pescar, mas não estamos tão bem adaptados. Mesmo com a cabeça enfiada no meio dos braços esticados e palmas das mão viradas uma para a outra ainda nos arriscamos a fraturar uma clavícula se saltarmos de mais de 12 metros. Os gansos-patolas mergulham a uma velocidade de 24 metros por segundo, mas as penas densas atrás da cabeça transmitem a força do impacto ao longo pescoço que se dobra de seguida. Agora, imagine-se a mergulhar à mesma velocidade: 86 quilómetros por hora.
Sem braços a proteger a cabeça, o risco de lesão grave é ainda maior. Daí que os botos e outros golfinhos tenham vértebras fundidas no pescoço: isso permite absorver o impacto do mergulho. Já no caso das pessoas, mergulhar diretamente de cabeça ou com as mãos à frente faz um “rasgão” na água e as primeiras partes do corpo a entrar na água fazem-no à mesma velocidade do momento do embate — o abrandamento só chega depois quando a água fizer atrito sobre o corpo.
A força é menor quando há uma superfície maior em contacto com a água, como quando mergulhamos de pés. Ainda assim, no momento do impacto, a água é empurrada para baixo e para o lado antes de os pés entrarem efetivamente na água e isto permite abrandar a velocidade. Experimente deixar cair uma pedra afilada numa poça de água e verá como se afunda rapidamente. Mas se largar uma pedra em forma de disco esta vai empurrar a água, provocar a ondulação da água graças a isso e lançar salpicos mais alto.
Este fenómeno físico é o mesmo que ocorre quando o basilisco (também chamado lagarto-jesus-cristo) corre sobre a água. As patas de dedos compridos do lagarto fazem com que haja uma larga superfície de contacto, a água é empurrada para baixo e para o lado e o basilisco segue rapidamente para o próximo passo antes que a pata se afunde.
Ainda assim, o salto de pés pode provocar uma lesão nos joelhos ou a uma fratura na tíbia (o osso da canela) quando este for feito de uma altura de 15 metros, de acordo com os cálculos da equipa de Sunghwan Jung, investigador no departamento de Engenharia Biológica e Ambiental da Universidade de Cornell. Afinal, é preciso lembrar que a água é muito mais densa do que o ar e todos sabemos como dói saltar de um muro alto para o chão.
O nosso estudo indica, em primeiro lugar, que não devemos saltar para a água, se possível. E, em segundo lugar, que os humanos não evoluíram para mergulhar, ao contrário de alguns animais”, disse Sunghwan Jung à Agencia Sinc.
Os investigadores usaram modelos humanos tridimensionais com uma determinada massa que caíram numa posição rígida e vertical. A altura limite para um salto seguro será diferente para quem tem uma estrutura corporal diferente, cai noutro ângulo ou altera a posição do corpo durante o mergulho. Para os mergulhadores profissionais, no entanto, o treino e reforço muscular podem permitir-lhes chegar aos mergulhos de uma altura de 25 metros.
Para os mergulhadores amadores ou que procurem apenas um pouco de diversão, mesmo uma lesão menor pode impedi-los de fazerem as manobras necessárias para voltarem à superfície, aumentando o risco de afogamento.