Rolar, aproveitar, soltar pernas. Depois de uma primeira etapa da Volta a Espanha que criou já um fosso em alguns casos perigoso entre os principais candidatos à vitória, a segunda tirada entre ‘s-Hertogenbosch e Utrecht (a primeira cidade a receber as três grandes voltas, depois de já ter organizado etapas do Tour e do Giro) com um total de 175,1 quilómetros era tudo menos um momento para estabelecer diferenças tendo a particularidade de reunir condições para uma chegada ao sprint sem que as principais equipas tenham apostado em elementos com essas características tendo em conta o percurso da edição de 2022.

A Jumbo ganhou e o primeiro líder saiu à casa: João Almeida perde 33 segundos para Gesink (e Roglic) a abrir a Vuelta

Robert Gesink, neerlandês que foi o primeiro a passar a meta no contrarrelógio por equipas ganho pela Jumbo, partia com a camisola vermelha mas era em Primoz Roglic que se centravam as atenções, com o corredor esloveno que ganhou as últimas três edições a partir na frente da concorrência. Para nomes como Richard Carapaz, Carlos Rodríguez ou Remco Evenepoel, a diferença estava abaixo dos 20 segundos; para outras figuras como Jai Hindley, Wilco Kelderman, Mikel Landa, Enric Mas, Alejandro Valverde ou Vincenzo Nibali, eram mais de 40 segundos – o que, não sendo decisivo, já é uma margem que obriga a cuidados redobrados. No meio dos “grupos” estava João Almeida, a 33 segundos da Jumbo.

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“Foi um bom arranque para nós. Estivemos mesmo bem organizados, o ritmo foi bom, por isso acho que fizemos um trabalho perfeito. Os fãs aqui em Utrecht estiveram fantásticos”, comentou o português aos meios da UAE Emirates depois do quinto lugar no contrarrelógio atrás de Jumbo, Ineos, Quickt-Step e BikeExchange de Simon Yates e companhia. Ainda assim, nada de expectativas altas, como assumira antes do arranque da Vuelta. “Não me tenho sentido com super pernas. Não tenho expectativas ou um grande objetivo, como fazer pódio, mas vou dar tudo o que tenho. É a mentalidade que trago. Não tenho sintomas mas estive parado uns bons tempos, por isso a forma não recupera assim tão rápido. Não acho que seja a Covid-19, estou recuperado fisicamente e mentalmente”, destacara no início da competição.

“Os quinze dias de rosa no Giro em 2020 deram-me confiança e fizeram de mim o ciclista que sou hoje. Esta Vuelta é uma prova longa e tudo pode mudar num dia. O aspeto mental é o início de tudo, quero acordar todos os dias e ter vontade de treinar e dar o meu melhor nos treinos. A Volta a Burgos que fiz no início do mês foi muito importante, senti o meu corpo a absorver a competição e o ritmo da corrida. No fundo, isso dá-me grande confiança”, referiu numa entrevista ao Olympics, antes de balizar aquilo que já seria um bom resultado: “Em Espanha vamos ter etapas duras na Serra Nevada, mais no fim. Vamos ver como as pernas vão estar. Conheço bem a zona. Treinei muito lá, adapta-se às minhas características e isso pode dar vantagem. Tendo em conta a situação, se eu fechasse no top 5 seria um bom resultado. Mais do que isso, gostaria de ganhar uma etapa. Seria importante para mim, especial”, acrescentou.

Esses serão os momentos de decisão, agora eram etapas sobretudo de “precaução”, tendo em conta o vento que se costuma fazer sentir naquela zona dos Países Baixos e outros cuidados como se viu depois da chuva ligeira que caiu no início do contrarrelógio por equipas da primeira etapa. E foi isso que marcou esta segunda tirada, que teve uma discussão particularmente acesa numa contagem de montanha de quarta categoria, que contou com o pelotão a anular as fugas que foram aparecendo e que terminou com chegada ao sprint, com o irlandês Sam Bennett a conseguir a primeira vitória para a Bora nesta edição da Vuelta.

Sam Bennett, que antes da etapa tinha referido ao Eurosport que não esperava estar na discussão da vitória na etapa, ganhou na chegada a Utrecht ao dinamarquês Mads Pedersen (Trek), ao belga Tim Merlier (Alpecin), ao neerlandês Mike Teunissen (Jumbo) e ao alemão Pascal Ackermann (UAE Emirates). Apesar de haver uma queda a envolver dois corredores já na reta final, e de uma primeira indicação que dava conta de um corte no pelotão que beneficiava os da frente em quatro segundos, os números foram corrigidos mas a camisola vermelha mudou de neerlandês na Jumbo, passando de Robert Gesink para Teunissen. Ivo Oliveira (34.º na etapa, 25.º na geral) e João Almeida (76.º na etapa, 30.º na geral) ficaram na mesma classificação, mantendo os 33 segundos de distância para o primeiro classificado.