É mais uma eleita do PS a ser nomeada para um cargo público que terá de acumular com as funções de vereadora sem pelouro. Depois de o ex-líder da bancada do PS, João Paulo Saraiva, ter sido nomeado para administrador do Metro de Lisboa, agora é a vez da sua sucessora, a vereadora Inês Drummond, integrar a direção da Movijovem, composta unicamente por figuras com ligações ao PS/Lisboa. A vereadora e antiga assessora de Fernando Medina vai receber um vencimento ilíquido de 3.212,12 euros mensais naquela cooperativa do Estado.
Como o PS não venceu as eleições, os eleitos socialistas ficaram sem pelouro, logo não recebem vencimento. Por isso, tiveram de procurar outros empregos onde pudessem ter um salário. A opção tem sido pública, sendo indicados por outros socialistas. João Paulo Saraiva saiu para administrador do Metro e, na sequência dessa opção, manteve-se vereador — mas abandonou o cargo de líder bancada do PS na CML, dando esse lugar a Inês Drummond. Agora, a vereadora, apesar de já estar em funções na Movijovem desde meados de julho, não abdica das funções na autarquia.
Se João Paulo Saraiva tinha sido nomeado pelo seu antecessor na autarquia (o agora ministro Duarte Cordeiro), Inês Drummond foi formalmente indicada pelo cooperador IPDJ (Instituto Português do Desporto e Juventude), que tem como presidente Vítor Pataco, que foi assessor para o desporto de António Costa precisamente na câmara de Lisboa e é também presidente do Conselho Estratégico da Movijovem. O nome foi votado em assembleia geral, uma formalidade.
Inês Drummond, após ser contactada pelo Observador, confirmou que ocupa o cargo na Movijovem e reconheceu que “os vereadores sem pelouro são co-responsaveis em todas as decisões que a câmara toma, nos mesmos moldes em que o são os vereadores com pelouro”, acrescentando que exercem, “no entanto, o cargo de modo de não permanência, logo não remunerado“.
Sobre eventuais incompatibilidades, diz apenas que as que podem existir “são aquelas que a lei define”. A vereadora do PS garante, nas mesmas declarações ao Observador: “Caso se verifique alguma situação de impedimento [por ser vereadora e dirigente da Movijovem], pedirei escusa, como aliás é prerrogativa de todos os vereadores (com ou sem pelouro) quando consideram existir algum tipo de incompatibilidade pessoal ou profissional no momento de discussão e votação de propostas (como aliás já aconteceu neste e em mandatos anteriores quer na CML, quer na AML)”.
A direção da Movijovem é composta apenas por membros com ligações ao PS/Lisboa. O presidente é Miguel Perestrello, irmão de Marcos Perestrello, antigo presidente da FAUL (federação distrital do PS/Lisboa) e ex-secretário de Estado e atual presidente da comissão política dessa mesma FAUL.
O outro vogal da direção é o antigo presidente da Gebalis, Pedro Pinto Jesus, também membro do Secretariado da federação distrital do PS/Lisboa. Dentro do PS Lisboa, Pedro Pinto Jesus sempre foi mais próximo do agora presidente da FAUL, Duarte Cordeiro, de quem é amigo. Esteve no centro de uma polémica em 2016, quando a empresa municipal que liderava nomeou a sobrinha do presidente do PS, Carlos César. Já Inês Drummond — com quem agora partilha a direção — sempre foi mais medinista e, após ter sido durante três mandatos presidente da junta de Benfica, chegou a ser assessora do agora ministro das Finanças.
Sobre a área de atuação da Movijovem, a cooperativa é a entidade gestora das Pousadas da Juventude, do Cartão Jovem, sendo também corresponsável pelo programa Intra-Rail.
O que fazem os outros vereadores do PS além de serem vereadores
Os vereadores que integraram a lista de Fernando Medina têm de acumular o cargo na Câmara com outras funções, já que o facto de estarem na oposição não lhes permite serem remunerados. Inês Drummond está na Movijovem, João Paulo Saraiva na Metro, SA, e Pedro Anastácio, já após as autárquicas, foi candidato e eleito deputado. Os três acumulam essas funções com as de vereador. Há ainda Miguel Gaspar, que foi para o privado, assumindo um cargo de assessor da direção da SIBS.
Além disso, há os que saíram mesmo do executivo para procurar outras paragens. O próprio Fernando Medina abandonou o cargo de vereador para meses depois ser candidato a deputado e mais tarde nomeado ministro das Finanças. Inês Ucha também renunciou ao cargo e saiu da empresa municipal Lisboa Ocidental SRU para ingressar na Pinto Ribeiro Advogados, escritório que tem como principal sócio o antigo ministro da Cultura do segundo Governo PS liderado de José Sócrates. Inês Lobo regressou à sua atividade profissional de arquiteta.
A derrota do PS obrigou também vários membros dos gabinetes a procurar alternativas, através de outros cargos de nomeação política de eleitos do PS. Em março, a revista Sábado fez um levantamento do êxodo forçado da estrutura socialista para outros cargos de nomeação partidária. Só a câmara de Almada, liderada também pelo PS, absorveu nove adjuntos e assessores (Ana Santiago, António Furtado, Duarte Mata, Carina Vieira, Carla Matos, Duarte Mata, Hélio Anjos, Luís Filipe Catarino, Paulo Tavares e Raquel Antunes).
Houve ainda outros assessores que foram para cargos nos gabinetes do Governos ou outras autarquias vizinhas lideradas pelo PS, como a câmara de Loures.