O número de alterações não era assim tão diferente, as razões para essas alterações eram diametralmente opostas. O Manchester United, ou a caricatura possível que resiste de um grande que se foi fazendo pequeno num ciclo vicioso de erros internos que parece não parar, mudava quatro unidades em relação ao onze que foi humilhado pelo Brentford em 35 minutos por questões estratégicas – e essas mexidas também chegaram a Cristiano Ronaldo, que voltava ao banco. O Liverpool, ou a equipa possível dentro de todas as lesões e castigos que assolavam a equipa, alterava três elementos em comparação com a equipa que não foi além do empate com o Crystal Palace por questões mais físicas – e o indiscutível Fabinho ficou de fora.

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“Todos os jogos são bons para mostrar a nossa paixão pelo jogo, é uma forma de estar. Mas, jogando contra o Liverpool, tem um significado extra. É óbvio que tivemos contratempos mas acredito na minha filosofia para a equipa porque sei as razões para isso acontecer e temos de trabalhar isso. Vamos corrigir isso mas manteremos a mesma ideia e o mesmo plano. No último sábado falhámos em coisas básicas que temos de fazer em termos individuais e coletivos. Já vi coisas boas desta equipa até ao particular com o Atl. Madrid mas a partir daí caímos. Temos de dar a volta rapidamente mas é um processo normal. Às vezes podemos crescer e ter uma queda mas devemos manter o foco”, tinha apontado Erik ten Hag, técnico do Manchester United, que, coincidência ou não, apontou para uma fase boa… até à chegada de Ronaldo.

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“Não foi uma boa semana para o United depois do jogo contra o Brentford mas também parece que nos esquecemos de como o Brentford pode ser bom. Assisti à primeira parte desse jogo e fui para casa a ouvir o TalkSport, estava a falar o Gabby Agbonlahor [ex-avançado do Aston Villa]… Ele perdeu 6-0 no meu primeiro ano aqui no Liverpool e não me consigo lembrar de ver esse monstro da mentalidade em campo… Deviam perguntar-se primeiro o que fariam como jogadores, é óbvio que vão querer reagir e lutar ainda mais contra nós”, comentara Klopp na antecâmara de um jogo marcado pelos protestos dos adeptos do United contra a família Glazer que, na ótica do técnico alemão, deveriam valer três pontos caso levassem a um novo adiamento do clássico como aconteceu na 34.ª jornada da temporada de 2020/21.

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E se o Liverpool esteve ainda pior em alguns aspetos de jogo do que tinha acontecido no jogo frente ao Crystal Palace, o Manchester United mudou de forma completa. A noite estava a ser marcada pelo protesto contra a família Glazer, pela apresentação de Casemiro no relvado dez minutos antes do apito inicial e pela opção de Ronaldo como suplente mas foi a atitude dos jogadores da casa e a forma como jogaram sempre no limite como se fosse o último jogo das suas vidas que mais se destacou num primeiro triunfo da época que passou, nem que seja por uma semana, o rótulo da “crise” para o rival Liverpool.

O início do jogo trouxe a melhor versão do Manchester United. Melhor, trouxe uma versão nunca antes vista do Manchester United, nem mesmo nos tais encontros de preparação que a equipa realizou na pré-temporada entre Ásia e Austrália. A parte tática fez muita diferença, com Ten Hag a ganhar a aposta da mobilidade na frente de ataque, mas a forma como os jogadores disputaram cada bola como se fosse a última de uma qualquer final da Champions foi o grande dínamo para a superioridade no arranque diante de um Liverpool sem a mesma capacidade de defender de forma contacta e sair de forma vertical.

Bruno Fernandes, jogando numa posição mais próxima do 10 tendo atrás de si um médio mais recuperador (McTominay) e um médio mais construtor (Eriksen), deu o mote com uma série de passes a procurar bem a profundidade antes de assistir Elanga de carrinho para o remate ao poste do sueco (10′). A bola não entrou aí, entraria pouco depois: combinação na esquerda entre Eriksen e Elanga, cruzamento rasteiro para a área onde apareceu Sancho, trabalho a deixar Milner no chão (e quem ouviu das boas depois foi Van Dijk, por não ter saído na ajuda…) e remate para o lado contrário de Allison a fazer o 1-0 e a quebrar um período de mais de seis horas e meia na Premier sem golos de jogadores dos red devils (15′).

Marcus Rashford ainda teve duas bolas com cortes limite na hora do remate de Van Dijk e Joe Goméz mas a partida começava a mudar de características, com o Liverpool a ter períodos de 70%-75% de posse ainda que sem golos. Também houve momentos que a sorte acabou por proteger os audazes jogadores do United, como num canto em que Milner cabeceou, Bruno Fernandes desviou de forma inadvertida para a própria baliza e Lisandro Martínez cortou com o peito em cima da linha (41′) mas a equipa da casa como que procurou também essa fortuna pela forma como se entregou à partida celebrando cortes e alívios como no futsal de punho cerrado. Em paralelo com essa vontade extra, os próprios reds (que jogaram com o equipamento alternativo) tentaram forçar mas sem a qualidade ofensiva que costumam apresentar.

O segundo tempo recomeçou com o Liverpool em cima do Manchester United mesmo que sem conseguir criar oportunidades, mas bastou uma saída rápida com a aposta de Ten Hag para a etapa complementar, Martial (e vez de Elanga), para Rashford surgir isolado frente a Alisson e fazer o 2-0 (53′). E os números da vitória poderiam não ter ficado por aí, com Alisson a fazer uma defesa fantástica sem ver a bola a partir num remate de Rashford e Bruno Fernandes a ficar também muito perto de um golo de bandeira. Ronaldo, de fora, ia aplaudindo, mas o grande interesse dos adeptos era mesmo Casemiro, num camarote.

Klopp não tinha propriamente muitas soluções no banco mas os jogadores que estavam em campo ficavam a anos luz do que costumam fazer. Alguns exemplos: as perdas de bola de Henderson a meio-campo (uma delas originou o segundo golo), a falta de ligação entre Salah e Firmino, os constantes duelos que Diogo Dalot foi ganhando a Luis Díaz, a anormal quantidade de vezes que Alexander-Arnold foi ultrapassado. Se ainda existiam esperanças numa recuperação, o passar dos minutos foi acabando de vez com as mesmas. Só Fabinho, de cabeça após canto, obrigou De Gea a uma defesa (67′) até ao 2-1 de Salah numa recarga a remate do português Fábio Carvalho (81′). Ronaldo entrou aos 86′ para o lugar de Rashford, tendo ainda uma tentativa muito por cima entre o forcing sem resultados dos reds.