Um estudo elaborado por investigadores norte-americanos relaciona comportamentos sedentários como estar sentado por longos períodos de tempo, a ver televisão, com o aumento de demência em idosos. No entanto, atividades cognitivamente estimulantes, como usar o computador ou ler, mesmo estando sentados, apresentam menores riscos de contrair a mesma doença.

A ciência tem reunido evidências para conectar a saúde mental à atividade física, em especial com o declínio cognitivo que aparece com a idade. Nesse sentido, também a falta de exercício físico contribui para o aparecimento de doenças coronárias, de acordo com o El País.

No entanto, a conexão entre o estilo de vida mais sedentário e a demência não tinha sido estabelecida de forma categórica até ao estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Os investigadores utilizaram dados de um banco biomédico, o U.K.Biobank, para chegaram aos mais de 145.000 voluntários com 60 anos de idade ou mais que aceitaram participar no estudo – e que não tinham diagnósticos nem indícios de demência no início do estudo. Segundo a Neuroscience News Science Magazine, os voluntários foram sujeitos a questionários de auto-avaliação sobre os níveis de sedentarismo no período entre 2006 a 2010.

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Após uma média de quase doze anos de acompanhamento, avança a mesma fonte, a investigação recorreu aos registos hospitalares de doentes para determinar diagnósticos de demência, havendo um total de 3.507 casos.

A equipa de investigadores ajustou os questionários para características demográficas como idade, sexo, raça ou etnias, histórico de doenças anteriores e profissão, além de também ter em conta o estilo de vida dos participantes. Fatores como a regularidade de exercícios, contacto com tabaco ou bebidas alcoólicas, a duração do sono, e o tempo despendido em convivência social, podem afetar a saúde e os mecanismos do cérebro, recorda a mesma fonte.

Assim, a investigação revelou a existência de uma relação firme entre o sedentarismo e a saúde mental, mas não de qualquer maneira. E este é o ponto chave da pesquisa.

Os questionários eram compostos por perguntas como: “quanto tempo passa em frente à televisão?” ou “quanto tempo perde a usar o computador”. Segundo o El País, os dsdos recolhidos indicam que quanto maior for o tempo perdido em frente à televisão, maior a probabilidade de ficar demente. O estudo realizado com década de supervisão aponta para um aumento do risco de 40%. Já nos computadores, o estudo afere que a probabilidade de se desenvolver demência desce para 20%.

O impacto da atividade física na saúde e bem-estar

David Raichlen, o principal autor do estudo publicado na PNAS e investigador da Universidade do Sul da Califórnia, defende que não se pode condenar o sedentarismo pela doença, visto ser necessário diferenciar as atividades praticados pelos utentes. Em resposta escrita ao El País, o cientista admite não ser fácil entender porque é que estar no computador acaba por ter menos riscos do que ver televisão.

“Sabemos que flexibilidade cognitiva pode trazer benefícios para o funcionamento do cérebro e é possível que o uso do computador como atividade de lazer seja exigente de forma a conseguir neutralizar os riscos de ficar sentado por um longo período de tempo“, diz o investigador.

O professor de psicologia no Evelyn F. McKnight Brain Institute, da Universidade do Arizona, Gene E. Alexander, outro dos autores do estudo, explica que muitas pessoas acredita que, se foram mais ativos durante o dia, são capaz de combater os efeitos negativos do tempo que passam sentados.

“As descobertas da nossa investigação sugerem que os impactos cerebrais durante atividades de lazer não estão relacionados com a nossa atividade física e que ser ‘mentalmente ativo’, como usar o computador, é uma forma de combater os riscos de demência, que está relacionado a comportamentos considerados ‘sendentários’, como ver televisão”, explica o professor à Neuroscience News Science.

A neutralização da televisão

O centro Alemão de Doenças Neurodegenerativas publicou resultados de uma pesquisa parcial do mesmo tema. Na investigação que continua a decorrer, a equipa captou imagens cerebrais de 2.500 pessoas com um aparelho que mede a aceleração, de forma a registar a atividade física. Os testes permitiram descobrir que quem realiza mais exercícios físicos tende a desenvolver um maior volume em áreas mais críticas do cérebro, como o hipocampo, a principal sede da memória. É importante referir que a amostra incluía elementos com menos de 65 anos de idade, mas que “proteção dada pelo desporto” foi mais acentuada nos maiores de 70 anos, detalha o El País.

Tomando como referência o grupo mais ativo e com menos tempo a ver televisão, foi permitido constatar que as pessoas que passam mais tempo junto da TV têm maior risco de demência, mas a prática de desporto de forma intensiva consegue diminuir ligeiramente esse valor.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que o Alzheimer e outras demências afetam cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo, cerca de 5% da população idosa mundial.