O presidente da Agros, Idalino Leão, afirma que o risco do desaparecimento do setor leiteiro em Portugal e, consequentemente, do leite nacional nas prateleiras dos supermercados, é real. Para que tal não aconteça, defende que só há uma solução: os preços têm de subir, incluindo para os consumidores.
Leão revelou que atualmente é “mais caro em cerca de 50% produzir um litro de leite”, comparativamente com o período antes do início da guerra na Ucrânia (em fevereiro deste ano). Já o preço do leite “subiu à volta de 18 a 20%” para os consumidores.
O preço do litro de leite, que dá para alimentar uma família média de quatro pessoas por dia, é mais barato do que um café. E, em média, os portugueses tomam dois ou três cafés por dia. Eu acho que isso nos devia fazer pensar a todos”, criticou Leão em entrevista à rádio Renascença, publicada esta quarta-feira.
Leão destaca que, além da inflação, a produção do leite em Portugal tem sido prejudicada, nos últimos dois anos, pela seca, especulação associada com o aumento geral dos fatores de produção e a guerra na Ucrânia. Como consequência, a Agros “perdeu próximo de 300 das 1200 explorações” e nas próximas semanas o ciclo vai-se repetir.
Questionado sobre os aumentos de três cêntimos, em média, que foram anunciados, na segunda-feira, aos produtores, disse que “têm de ser acompanhados no consumidor final”. Caso contrário, “seria impensável para a sustentabilidade de toda a fileira”. Refutou ainda a distribuição como” amortecedor” da subida porque “estaria a desvirtuar todo o negócio”.
“Setor do leite vive maior crise dos últimos 20 anos”
Idalino Leão sente a preocupação do Governo com esta matéria, mas insta o executivo a “olhar para a agricultura como um setor estratégico de soberania alimentar“, desafiando a que sejam tomadas medidas de apoio.
“Há ações que o Governo pode e deve fazer, nomeadamente nos custos de energias fixos associados ao nosso setor. Os preços da eletricidade e do gasóleo estão incomportáveis. Em Espanha, por exemplo, há uma diferença de 30 cêntimos no gasóleo. Se não houver essa equidade, pelo menos, na Península Ibérica, será impossível os agricultores portugueses competirem no mercado ibérico”, alertou o líder da Agros.
O responsável lembrou, também, a questão de seca, partilhando que “há já agricultores que não têm alimento nos pastos para os animais, e precisam de ser ajudados“.
Produtores das Beiras e Serra da Estrela vendem animais por falta de alimento, devido à seca
“A agricultura tem aportado muito para o PIB nacional, é uma atividade que fixa as pessoas nos territórios menos povoados. Mas, para que essa sustentabilidade social e ambiental continue a existir, é preciso que a atividade tenha, também, sustentabilidade económica“, acrescentou.
Todos estes temas serão alvo de debate na iniciativa Agrosemana, a Feira Agrícola do Norte, que depois de dois anos de interregno, devido à pandemia de Covid-19, regressa esta quinta-feira, para quatro dias de atividades, no Espaço Agros, na Póvoa de Varzim.
O evento tem o objetivo de promover e valorizar o setor agropecuário em Portugal e aproximar o público urbano ao mundo agrícola, dando-lhe a conhecer algumas as melhores práticas do setor.
Nas últimas edições, o espaço, que comporta atividades didáticas, pedagógicas e lúdicas, teve visita de quase 100 mil pessoas, e este ano, no âmbito da responsabilidade social do evento, apoia a Operação Nariz Vermelho, instituição particular de solidariedade social que desenvolve atividades com crianças e familiares hospitalizados.
A AGROS, que tem como atividade a recolha, o transporte e a comercialização de leite a granel nas regiões de Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes, e também tem uma vertente industrial através da participação na Lactogal, é uma união de cooperativas do setor que reúne aproximadamente 1000 produtores de Leite.