Milhares de pessoas prestaram este sábado uma última homenagem ao antigo líder soviético Mikhail Gorbachev, numa despedida relativamente discreta, depois de o Kremlin ter recusado um funeral de Estado ao homem que ajudou a acabar com a Guerra Fria.

Gorbachev morreu na terça-feira aos 91 anos de idade e será enterrado hoje no cemitério Novodevichy de Moscovo ao lado da sua mulher, Raísa.

A cerimónia de despedida decorreu no Salão dos Pilares da Casa dos Sindicatos, uma mansão icónica perto do Kremlin que tem servido de local para funerais de estado desde os tempos soviéticos, avança a agência de notícias Associated Press (AP).

Apesar da escolha do local, o Kremlin deixou de lhe chamar funeral de Estado, porque tal obrigaria à presença do Presidente russo, Vladimir Putin, assim como teria exigido a Moscovo convidar líderes estrangeiros.

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O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, explicou que Putin estará ausente devido à sua agenda, mas a cerimónia terá “elementos de um funeral de Estado”, tais como uma “guarda de honra”.

Dmitry Medvedev, vice-chefe do Conselho de Segurança da Rússia, presidido por Putin e presidente da Rússia entre 2008-2012, esteve presente nas cerimónias fúnebres, bem como o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, que muitas vezes criticou as sanções ocidentais contra a Rússia.

Também marcaram presença os embaixadores norte-americanos, britânicos, alemães e outros ocidentais.

Durante a cerimónia, milhares de pessoas tiveram que esperar cerca de duas horas para chegar junto ao caixão de Mikhail Gorbachev, que estava aberto e ladeado por guardas de honra. A filha de Gorbachev, Irina, e as suas duas netas estavam sentadas ao lado do caixão.

Enquanto uma música solene tocava, as pessoas colocaram flores junto ao caixão.

Venerado a nível mundial por ter derrubado a “Cortina de Ferro”, Gorbachev é também mal visto por muitos no seu país que o apontam como responsável pelo colapso económico soviético, após as suas reformas que ajudaram a pôr fim à Guerra Fria e precipitaram o desmembramento da União Soviética.

Putin que chegou a lamentar o colapso da União Soviética como “a maior catástrofe geopolítica do século”, evitou críticas pessoais explícitas a Gorbachev, mas culpou-o repetidamente por não conseguir obter compromissos escritos do Ocidente que excluíssem a expansão da NATO para leste.

A questão tem prejudicado as relações Rússia-Oeste durante décadas e fomentado tensões que explodiram este ano, quando o líder russo enviou tropas para a Ucrânia em 24 de fevereiro.

Numa carta de condolências, Putin descreveu Gorbachev como um homem que deixou “um enorme impacto no curso da história mundial”: “Ele percebeu profundamente que eram necessárias reformas e tentou oferecer as suas soluções para os problemas agudos”, disse Putin citado pela AP.

Na quinta-feira, Putin colocou flores no caixão do último líder da URSS, no hospital de Moscovo onde faleceu.

A cerimónia fúnebre de Gorbachev contrastou com um funeral de Estado de 2007 dado a Boris Ieltsin, o primeiro líder russo pós-soviético e que preparou o palco para Putin ganhar a presidência ao renunciar ao cargo.