Sérgio Conceição e Diego Simeone cruzaram-se na Lazio. Um homem de sangue português cruzou-se com um homem de sangue argentino num clube de sangue italiano — uma explosão latina que acabou por moldar, formar e construir dois treinadores que, hoje em dia, são muito semelhantes na forma como se apresentam durante o jogo, como comunicam na sala de imprensa e como motivam a equipa. Conceição é o treinador mais parecido com Simeone no panorama europeu e Simeone é o treinador mais parecido com Conceição no panorama europeu — e esta quarta-feira reencontravam-se.

Tal como na época passada, FC Porto e Atl. Madrid davam o pontapé de partida na Liga dos Campeões no Wanda Metropolitano. Há um ano, dragões e colchoneros empataram sem golos em Espanha na jornada inaugural da fase de grupos, sendo que a vitória da equipa de Simeone no Dragão na derradeira partida acabou por atirar o conjunto português para o terceiro lugar e para a Liga Europa. Esta quarta-feira, com Club Brugge e Bayer Leverkusen a defrontarem-se à mesma hora na Bélgica, tanto Conceição como Simeone procuravam um resultado melhor do que o empate de há um ano.

Ficha de jogo

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Atl. Madrid-FC Porto, 2-1

Fase de grupos da Liga dos Campeões

Wanda Metropolitano, em Madrid (Espanha)

Árbitro: Szymon Marciniak (Polónia)

Atl. Madrid: Oblak, Reinildo, Witsel, Giménez, Yannick Carrasco (De Paul, 45′), Molina (Lemar, 45′), Koke, Saúl (Griezmann, 61′), Marcos Llorente, João Félix (Correa, 71′), Morata (Mario Hermoso, 68′)

Suplentes não utilizados: Grbic, Antonio Gomis, Kondogbia, Sergio Díez, Marco Alonso

Treinador: Diego Simeone

FC Porto: Diogo Costa, Pepê (João Mário, 62′), Pepe, David Carmo, Zaidu, Otávio (Bruno Costa, 77′), Uribe, Stephen Eustáquio, Galeno (Gabriel Veron, 88′), Evanilson (Toni Martínez, 77′), Taremi

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, Fábio Cardoso, Marcano, Rodrigo Conceição, Danny Loader, André Franco, Wendell, Gonçalo Borges

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Mario Hermoso (90+1′), Uribe (90+6′, gp), Griezmann (90+11′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Pepê (53′), a Koke (56′), a Uribe (68′), a Taremi (71′ e 82′), a Mario Hermoso (90+5′); cartão vermelho por acumulação a Taremi (82′)

“Acho que o Atl. Madrid é sempre um dos favoritos a ganhar a competição, tem demonstrado nestes anos que chega perto de o conseguir. É um clube, como já disse, liderado por um ex-companheiro meu. Nota-se muito nos princípios da equipa aquilo que pude partilhar nos anos que passei com ele”, disse o treinador do FC Porto na antevisão. “O FC Porto é uma equipa como o seu treinador, com vitalidade, intensa, trabalho coletivo importante de todos os jogadores. E isso torna-os uma equipa competitiva, que compete sempre”, respondeu o treinador do Atl. Madrid.

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Assim, Sérgio Conceição promovia os regressos de Zaidu e Evanilson ao onze inicial, sendo que ambos tinham sido suplentes contra o Gil Vicente, mas ainda deixava João Mário no banco, apostando na solução Pepê para a direita da defesa. David Carmo mantinha a titularidade ao lado de Pepe no eixo defensivo e também Stephen Eustáquio, no meio-campo, voltava a ser o escolhido em detrimento de Bruno Costa e face à lesão de Grujic. Do outro lado, com João Félix junto a Morata no onze, Diego Simeone podia contar com o guarda-redes Oblak, que chegou a estar em dúvida para a partida mas recuperou a tempo de ser o dono da baliza espanhola.

Numa primeira parte que terminou sem golos, os dois treinadores não desiludiram e defrontaram-se ao longo de uma verdadeira batalha tática e estratégica em que as duas equipas foram tentando deixar o adversário desconfortável. Ao fim de 45 minutos, pelo menos nessa luta que ia acontecendo através dos dados estatísticos e da superioridade demonstrada em campo, o FC Porto estava claramente a ganhar. Os dragões começaram por dar a iniciativa ao Atl. Madrid, atuando com as linhas juntas e compactas e potenciando e a velocidade e a profundidade oferecidas por Galeno — que, claramente, não tinha em Molina um oponente à altura.

Com o avançar do relógio e já depois de tanto Otávio (13′) como Uribe (23′) terem rematado por cima da baliza de Oblak, o FC Porto assumiu um ascendente que lhe ia sendo entregue pelo Atl. Madrid e agarrou a dianteira da partida. Os dragões subiram no terreno, esticaram a equipa, afastaram os setores e desligaram por completo as ligações que os espanhóis iam tentando fazer, deixando Morata e João Félix quase abandonados no ataque de Simeone. Ainda que sem oportunidades, porque a equipa de Sérgio Conceição também não estava a conseguir ter o discernimento necessário para desequilibrar no último terço, o FC Porto estava claramente mais confortável no jogo e permitia muito pouco aos colchoneros.

Ainda assim, a melhor oportunidade da primeira parte pertenceu mesmo ao Atl. Madrid, com um remate de fora de área de Koke que Diogo Costa encaixou (37′). Taremi teve um bom lance já nos descontos, chegando perto de Oblak mas sem ninguém para o apoiar na grande área (45+1′), e a superioridade do FC Porto era clara para quem estava a ver o jogo mas não tinha tradução no resultado. Ao intervalo, dragões e colchoneros estavam empatados no Wanda Metropolitano e seria preciso alguém desmontar a estratégia defensiva para que existissem espaços que permitissem alterações no marcador.

Simeone mexeu logo ao intervalo, trocando Carrasco e Molina por De Paul e Lemar, numa clara resposta à escassez de posse de bola e presença no meio-campo ofensivo que o Atl. Madrid tinha demonstrado na primeira parte. E resultou: os colchoneros entraram melhor para o segundo tempo, surpreendendo o FC Porto e colocando mesmo a bola dentro da baliza, por intermédio de Koke, embora o lance tenha sido anulado por um fora de jogo anterior de De Paul (50′). Os dragões precisaram de cerca de 10 minutos para se readaptarem à subida das linhas e o jogo mudou de figura depois do intervalo, tornando-se mais direto e com recurso à profundidade — logo, mais partido e imprevisível.

Eustáquio teve uma boa oportunidade para marcar nesta fase, com um pontapé de fora de área que Oblak afastou com uma enorme intervenção (55′), e Simeone respondeu com mais argumentos no ataque ao lançar Griezmann — que, mais uma vez, voltou a entrar para lá da hora de jogo. A ocasião do médio internacional canadiano, porém, acordou o FC Porto. Os dragões recuperaram o controlo do jogo, elevaram os setores e empurraram o Atl. Madrid para trás, com Oblak a agarrar quase sozinho a igualdade com enormes defesas a lances de João Mário (65′) e Evanilson (69′).

Para desagrado das bancadas do Wanda Metropolitano, Simeone reagiu à nova quebra da equipa com trancas na porta: tirou Morata e João Félix, sendo que o jogador português era o único que ainda procurava desequilibrar, e lançou Mario Hermoso e Correa. Já dentro do último quarto de hora, o jogo acabou por congelar com a lesão grave de Otávio, que ficou no relvado após uma entrada mais dura de Hermoso e teve de sair de maca, sendo que Taremi foi expulso por acumulação de cartões amarelos após simular uma grande penalidade já nos derradeiros 10 minutos.

O resumo do jogo, porém, poderia ser feito tendo somente em conta o período de descontos. Mario Hermoso abriu o marcador com muita sorte à mistura, com o pontapé à entrada da grande área a desviar em João Mário para trair Diogo Costa (90+1′), Uribe empatou de grande penalidade após o mesmo Hermoso tocar com a mão na bola na área espanhola (90+6′) e o balde de água fria para os portugueses apareceu já para lá dos 100 minutos. No derradeiro lance da partida, após um canto cobrado na esquerda, Witsel ganhou ao primeiro poste e Griezmann apareceu ao segundo a desviar de cabeça para dar a vitória aos colchoneros (90+11′).

No fim, o Atl. Madrid venceu o FC Porto no Wanda Metropolitano e provocou o primeiro desaire aos dragões na Liga dos Campeões, sendo que o Club Brugge derrotou o Bayer Leverkusen na Bélgica. Num autêntico dia de loucos, com três golos no período de descontos, uma expulsão e uma lesão grave, bastou a Griezmann ter cabeça para gelar a equipa de Sérgio Conceição.