O chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, vai discursar esta quinta-feira numa sessão solene comemorativa dos 200 anos da independência do Brasil, no Congresso Nacional brasileiro, em Brasília.
Estão previstas intervenções nesta sessão do Presidente da República do Brasil, Jair Bolsonaro, e dos presidentes do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, assim como dos responsáveis pelas comissões constituídas nas duas câmaras brasileiras para estas comemorações.
Nesta sessão solene estará presente o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, segunda figura do Estado português, que participa nas comemorações do bicentenário da independência do Brasil a convite do presidente do Senado Federal brasileiro.
Marcelo Rebelo de Sousa chegou a Brasília na terça-feira para participar nas comemorações dos 200 anos da independência do Brasil, a convite de Bolsonaro, com quem teve nesse dia um encontro bilateral de cerca de 20 minutos no Palácio Itamaraty.
O Presidente português defendeu que “seria incompreensível que Portugal não estivesse representado ao mais alto nível” nas comemorações dos 200 anos do Brasil e rejeitou a possibilidade de ficar associado à campanha eleitoral brasileira, sustentando que “são duas coisas completamente separadas”.
Cabo Verde e Guiné-Bissau são os outros dois países representados nas comemorações do bicentenário da independência do Brasil pelos respetivos chefes de Estado, José Maria Neves e Umaro Sissoco Embaló.
Na quarta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa assistiu ao desfile cívico-militar do 7 de Setembro, no centro da tribuna de honra, ao lado de Jair Bolsonaro, e ofereceu um jantar a representantes de países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) presentes em Brasília.
Marcelo diz estar no Brasil a representar Portugal num “momento histórico” e nega desconforto
As comemorações do bicentenário da independência do Brasil acontecem quando está em curso a campanha oficial para as eleições presidenciais brasileiras de 2 de outubro, com uma eventual segunda volta em 30 de outubro, às quais são candidatos, entre outros, Jair Bolsonaro e o ex-Presidente Lula da Silva.
O programa do Presidente português no Brasil termina com uma receção à comunidade portuguesa no Navio Escola Sagres, no Rio de Janeiro, na sexta-feira.
Sessão solene no Congresso brasileiro para celebrar bicentenário da independência
O Congresso brasileiro acolhe esta quinta-feira uma sessão solene com a presença dos chefes de Estado do Brasil, Portugal, Guiné-Bissau e Cabo Verde para celebrar os 200 anos do famoso grito “Independência ou morte!”, de D. Pedro.
Em declarações à Rádio Senado, o presidente da comissão do bicentenário do Senado Federal, Randolfe Rodrigues afirmou que é importante o país fazer uma reflexão sobre os 200 anos como nação.
“O Brasil formou-se como nação com todas as suas vicissitudes enormes. Essas vicissitudes da nossa formação têm que ser confrontadas. Nós temos que enxergar para superá-las. Nós queremos daqui a 200 anos legar um país muito melhor do que nós recebemos até aqui, produto do que foi construído nesses 200 anos”, declarou.
Antes de se dar início à sessão solene, que arranca às 10h00 locais (mais quatro horas em Lisboa), os convidados lusófonos vão ser recebidos na rampa do Palácio do Congresso Nacional pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e pela guarda dos dragões da independência, unidade do Exército Brasileiro que guarnece as instalações da Presidência da República.
Logo de seguida serão encaminhados para a abertura da exposição “200 Anos de Cidadania: O Povo e o Parlamento”, que estará aberta ao público a partir de 10 de setembro.
Às 10h00 dá-se então início à sessão solene com a mesa das festividades a ser composta por Rodrigo Pacheco, Arthur Lira, o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, o chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-secretário da Mesa do Congresso Nacional, deputado Luciano Bivar.
No plenário deverão ainda marcar presença o presidente da Assembleia da República de Portugal, Augusto Santos Silva, ex-presidentes brasileiros – Lula da Silva não marcará presença – e ainda os chefes de Estado de Cabo Verde, José Maria Neves, e da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló.
“Há quase 200 anos nos tornamos um país livre, soberano, independente. É um momento único para relembrarmos nosso passado, nossa história, reconhecermos e identificarmos os nossos valores e reafirmarmos o nosso compromisso com a liberdade”, afirmou, em declarações à Radio Senado, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
Marcelo fala de Portugal e Brasil como realidades inseparáveis com territórios partilhados
O chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, falou esta quinta-feira de Portugal e do Brasil como realidades inseparáveis com territórios partilhados, exaltando o contributo dos portugueses para a nação brasileira desde a sua chegada.
Num discurso na Associação Portuguesa de Brasília, em Taguatinga, no Distrito Federal, Marcelo Rebelo de Sousa justificou uma vez mais a sua presença nas comemorações dos 200 anos da independência do Brasil e destacou um aspeto do desfile do 7 de Setembro a que assistiu de manhã ao lado do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.
“Que orgulho, que orgulho ver desfilar hoje nas avenidas de Brasília as bandeiras de Portugal desde a fundação, as bandeiras do tempo da monarquia portuguesa até ao momento em que o Brasil se separou de Portugal. Pois o Brasil ao comemorar essa separação faz um desfile com as bandeiras de Portugal que eram também do Brasil antes da separação. Porquê? Porque assume a sua História”, declarou.
O Presidente português acrescentou que “já havia Brasil quando Pedro Álvares Cabral aqui chegou, já havia, mas o Brasil passou a ser diferente também com o contributo dos portugueses após essa chegada, e durante séculos aqui se criou uma amizade fraternal para sempre, para sempre”.
“Há 200 anos foi um português quem proclamou o grito do Ipiranga, um filho de rei, príncipe, que se rebela contra o seu pai, dando voz àquilo que era a vontade de independência do povo brasileiro”, referiu, recebendo palmas da audiência composta por emigrantes portugueses e luso-brasileiros.
D. Pedro assumiu em 1822 “a missão difícil de ser o primeiro imperador do Brasil” e é preciso compreender “a importância desse gesto”, defendeu.
“A Espanha também esteve aqui, na América Central e na América do Sul, só que não nasceu um Estado dessa presença, nasceram vários Estados. Aqui há um só Estado, poderoso, unido, feito por brasileiros e feito por portugueses bandeirantes que percorreram quilómetros e quilómetros para o interior levando as fronteiras do futuro Estado até onde elas estão — e chegaram a ir mais além, como sabem”, prosseguiu.
Segundo o Presidente português, “a unidade do Brasil tem muito a ver com o facto de a corte de Portugal ter vindo para o Brasil”, situação singular em que “Portugal passou a ser durante um tempo em termos políticos colónia do Brasil: a corte estava aqui, as instituições de poder do império estavam aqui”.
No seu entender, “isso contribuiu para a unidade territorial, mas contribuiu também para uma relação secular entre as nações irmãs”.
Ao chegar à Associação Portuguesa de Brasília, criada em 1962, Marcelo Rebelo de Sousa disse que “isto é Portugal” e depois na sua intervenção retomou a ideia de que se encontrava “em território português” e sustentou que as duas realidades “são inseparáveis, onde há Portugal há Brasil, onde há Brasil há Portugal“.
O chefe de Estado português levou esta imagem mais longe, afirmando que “todo o Brasil no fundo é território português, e todo o Portugal é território brasileiro“.
“Mas há territórios que são especialmente portugueses: a embaixada, os consulados, e onde estiver um português, uma comunidade de portugueses, uma associação portuguesa. Aqui é chão português”, reforçou.
Marcelo Rebelo de Sousa elogiou as “várias gerações” de emigrantes portugueses no Brasil, “aqui contribuindo para a ordem e progresso que está no lema da nação brasileira”, e assinalou a recente vaga de imigração do Brasil para Portugal, concluindo que existe uma ligação que “é imparável” quaisquer que seja os presidentes e os governos.
“O que têm os responsáveis dos povos é de perceber a realidade e atuar em função dela, de acordo com ela”, argumentou, para justificar a sua presença nas comemorações deste bicentenário, que coincidem com a campanha para a eleição do próximo Presidente do Brasil. “Eu tenho a impressão que muitos não entendem o momento histórico”, lamentou-se.
Marcelo Rebelo de Sousa quer estar na posse do próximo Presidente do Brasil