O presidente da Federação Portuguesa do Táxi (FPT), Carlos Ramos, manifestou-se insatisfeito com as respostas dadas pela Comissão Europeia aos taxistas que se manifestaram esta quinta-feira em Bruxelas na sequência do caso “Uber Files”.

Associações portuguesas dos táxis em manifestação europeia do setor em Bruxelas

Milhares de táxis, entre os quais portugueses, concentraram-se neste dia, pelas 09h00, junto à sede da Comissão Europeia, em Bruxelas (Bélgica), para exigir que seja feita uma investigação a eventuais atos ilícitos cometidos pela multinacional norte-americana.

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Representantes de taxistas de vários países da Europa e da América Latina foram esta tarde recebidos pela comissária europeia dos Transportes, Adina Valean, e pela comissária da Coesão Social, Elisa Ferreira, mas, segundo adiantou à agência Lusa o presidente da Federação Portuguesa de Táxi, Carlos Ramos, as respostas dadas foram “toscas e infantis“.

“As respostas não foram satisfatórias. Foram evasivas e infantis. À pergunta ‘como podemos concorrer com uma empresa que todos os anos apresenta milhares de prejuízos, porque faz dumping (prática de venda de produtos ou serviços a preços muito abaixo do valor de mercado)’, a comissária disse que não podia responder porque não estava presente a comissária da Concorrência (Margrethe Vestager). Isso é um bocado tosco”, observou Carlos Ramos.

O presidente da FPT disse ainda que os taxistas vão tentar perceber os contornos de uma recomendação que, segundo eles, “vai liberalizar o setor do táxi”.

“Sobre essa questão, a resposta é que aquilo não é uma recomendação, mas sim uma mera nota. Se assim é, que se anule essa nota”, defendeu.

Face à ausência de respostas, Carlos Ramos adiantou que o grupo de taxistas que promoveu esta manifestação em Bruxelas reúne-se na sexta-feira para discutir novas formas de luta.

“Nós amanhã [sexta-feira] vamos reunir e vamos, naturalmente, dar seguimento ao que se passou neste dia. Não podemos ficar por aqui. Vamos estudar outras formas de luta porque nós não ficamos satisfeitos com isso“, apontou.

“Quando acabou a conferência e estava a cabeça da manifestação a chegar ao parlamento, a polícia deteve, durante uma hora, o nosso principal represente. Foi para nos destabilizar”, lamentou.

No dia 10 de julho passado, um trabalho do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI) revelou que a empresa norte-americana Uber concebeu uma estratégia de expansão que recorreu a lóbi político junto de governos, mas também formas ilícitas para ludibriar autoridades.

A investigação “Uber Files” envolveu 40 meios de comunicação em 29 países (Portugal não está nesta lista de ‘media partners’, embora o caso português tenha sido abordado) e analisou mais de 124 mil documentos.

Mark MacGann, o ex-lobista da Uber responsável pela divulgação de documentos que revelam práticas controversas

No final, concluiu que, entre 2013 e 2017, o então CEO da plataforma de transporte, Travis Kalanick, deu aval a uma estratégia (inclusive em Portugal) que explorava a violência contra motoristas da Uber para promover a imagem da empresa contra os taxistas e os governos que criavam problemas ao seu negócio.

O plano começou a ser desenhado em 2015, quando os estrategos da empresa norte-americana perceberam que poderiam beneficiar com os atos de violência contra os motoristas, ganhando a simpatia da opinião pública, foi referido.

A investigação citou um dos lobistas da empresa, Christian Samoilovich, numa mensagem enviada a um colega, em março desse ano, em que reconhece que a Uber poderia usar a seu favor a violência contra os motoristas, depois de um conselheiro da Comissão Europeia ter escrito na rede social Facebook que um Uber em que viajara tinha sido atacado por taxistas.