Um consorte real é o cônjuge do rei ou rainha em funções. No Reino Unido, estão isentos de poder ou estatuto constitucional, mas podem assumir posições de influência. A rainha Carlota ocupa a segunda posição da tabela com o serviço de consorte mais longo, atrás do Príncipe Filipe, marido de Isabel II. Era amiga de Mozart e teve aulas de piano com Bach. Adorava plantas e era calorosa para as amas e empregadas da corte.
O duque de Edimburgo foi príncipe consorte durante quase 70 anos, o mais longo ao serviço da corte britânica. Esteve ao lado de Isabel II – caminhando sempre atrás da Rainha em momentos oficiais – desde a sua coroação a 6 de fevereiro de 1952, até à sua morte, a 9 de abril de 2021, aos 99 anos.
A princesa Sofia Carlota ocupa a segunda posição. Nasceu a 19 de maio de 1744, no ducado de Mecklenburg-Strelitz, a norte da Alemanha. Foi mulher do rei Jorge III e rainha consorte do Reino da Grã-Bretanha e Irlanda desde 1761 até à sua morte, a 17 de novembro de 1888, aos 74 anos. O casamento durou 57 anos e gerou quinze filhos, treze dos quais chegaram à idade adulta. É a avó paterna da rainha Vitória do Reino Unido. Também foi eleitora consorte do Eleitorado de Hanôver e, posteriormente, rainha consorte da atual capital do estado alemão da Baixa Saxónia. Era filha de Carlos Luís Frederico de Meclemburgo-Strelitz, Príncipe de Mirow e da sua esposa, a princesa Isabel Albertina de Saxe-Hildburghausen.
A rainha da estrelícia
Tinha nas artes e na botânica as suas grandes paixões. Teve aulas de piano com Bach, conhecia bem Mozart e era muito próxima de Maria Antonieta. Adorava plantas e flores e ajudou a expandir os reais jardins de Kew– hoje património mundial da UNESCO — onde até batizou uma planta em sua homenagem. É a estrelícia ou ave do paraíso cujo termo científico é Strelitzia reginae. Também foi ela que introduziu a árvore de Natal em Inglaterra, em 1800, um costume que trouxe da sua infância passada na Alemanha.
O seu filho mais velho foi apontado para o trono como príncipe regente, em 1811, devido ao agravamento do estado de saúde mental do pai. Jorge III sofria dum transtorno mental e pensa-se que tivesse também porfiria, uma doença do fígado que causava urina de cor diferente. Também pela condição débil – e muitas vezes violenta — do rei, o casamento nunca foi feliz, cenário que terá sido agudizado pela manipulação e controlo da sogra, mãe do rei, a princesa Augusta.
Tímida sem british accent
Quando Jorge III assumiu o trono da Grã-Bretanha, a seguir à morte do seu avô, Jorge II, tinha 22 anos e estava solteiro. Não só a sua mãe mas também os conselheiros recomendaram um casamento imediato e a princesa Carlota, com 17 anos, era uma pretendente à altura, não só porque provinha dum nortenho ducado alemão pouco relevante, e daí não ter quaisquer interesses políticos ou intrigas “partidárias”. Restassem dúvidas por parte da princesa, o rei fez questão de a lembrar que não se deveria “intrometer” nos assuntos da Coroa, logo a seguir ao casamento, uma premissa que veio ao encontro do seu agrado. A cerimónia aconteceu na Capela Real do Palácio de St James, a 8 de setembro de 1871. Apenas as respetivas famílias e alguns convidados estiveram presentes. As aulas de inglês vieram logo a seguir ao casamento, dominou rapidamente a língua, mas sempre com forte sotaque alemão. Era tímida, mas falava bastante quando rodeada de pessoas que conhecia bem, segundo contam testemunhos da época.
Passado um ano, deu à luz o seu primeiro filho, a 12 agosto de 1762. Jorge, príncipe de Gales, teria 14 irmãos, apenas Octávio e Alfredo morreriam de doença muito pequenos, com quatro e um ano, respetivamente. O rei teria muitas alucinações e episódios de loucura associados aos seus filhos mortos. Carlota mostrava-se muitas vezes aterrorizada por estes surtos e assumia ter medo do rei. Evitava ficar a sós com ele.
Não era muito bonita, mas tinha um rosto expressivo e demonstrava grande inteligência. O olhar era luminoso e brilhante, irradiava vivacidade numa figura esbelta. Os dentes eram brancos e muito direitos e o cabelo tinha um bonito tom de castanho claro. Era conhecida por ser amável e calorosa com as amas das crianças, como se pode ler no excerto desta sua carta dirigida à assistente da governanta: “Minha querida Miss Hamilton, o que posso eu dizer-lhe? Não muito de facto. Apenas desejar-lhe um bom dia, no pequeno quarto azul e branco, onde tenho o prazer de me sentar e ler consigo O Eremita, um poema que já li duas vezes este verão. Oh que bênção a sua companhia, não teria conhecido este poema se não fosse por sua causa!”
Morreu nos braços do filho Jorge, a 17 de novembro de 1818, aos 74 anos. O rei que provavelmente não se apercebeu da sua morte, morreu um ano depois.