Subiu para 31 o número de pessoas mortas no Irão, na sequência dos protestos que há seis dias ocupam as ruas de várias cidades do país do Médio Oriente, incluindo a capital Teerão. O número é avançado pela AFP, que cita a Iran Human Rights, uma Organização Não Governamental (ONG) sediada em Oslo, na Noruega. “O povo iraniano desceu às ruas para se bater pelos direitos fundamentais e a sua dignidade humana (…) e o Governo respondeu a estas manifestações pacíficas com balas”, declarou, em comunicado, Mahmood Amiry Moghaddam, diretor desta ONG. A televisão estatal iraniana dá um número inferior, indicando 17 vítimas mortais.
Em causa está a morte de Mahsa Amini, mulher de 22 anos que terá morrido às mãos da “polícia da moralidade” iraniana (que nega, atribuindo à fatalidade um ataque cardíaco) por vestir “roupas inadequadas” — teria o véu colocado de forma incorreta. Ebrahim Raisi, presidente iraniano, anunciou esta terça-feira uma investigação à morte da jovem. “Tenho certeza, uma investigação será certamente aberta”, disse, acrescentando, no entanto, que o relatório do médico legista não referia abusos da polícia. Estas declarações foram feitas à margem da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.
#UPDATE At least 31 civilians have been killed in a crackdown by the Iranian security forces on protests that erupted after the death of Mahsa Amini who had been arrested by the morality police, according to the Oslo-based Iran Human Rights NGO. pic.twitter.com/muMM4qHJMT
— AFP News Agency (@AFP) September 22, 2022
Apesar de o Instagram, o WhatsApp e grande parte do acesso à Internet ter sido bloqueado pelo regime deste país, imagens e vídeos vão chegando ao Twitter e dando pistas daquilo que ali se vive: mostram massas de civis nas ruas e vários gestos em sinal de protesto — gestos que simbolizam os direitos que, aos olhos daquela lei, são negados à mulher. Queimam o hijab (véu islâmico), cortam os cabelos, dançam e, mais novas ou mais velhas, sem nada que lhes tape a cabeça, desafiam as autoridades, mantendo-se paradas à sua frente. Há ainda registos de vítimas de violência, carros de polícia queimados, pedras atiradas às autoridades. Do lado destes, detenções em massa e utilização de gás lacrimogéneo para dispersar as multidões.
https://twitter.com/Sara75486609/status/1572652501416960002
https://twitter.com/nikoqol/status/1572613206014660608
#Iran: a woman sits on a utility box and cuts her hair in Kerman to protest Masha Amini’s murder.
Protesters chant, “Death to the dictator.”#MashaAmini #مهسا_امینی pic.twitter.com/0SaT5Hse73
— Fazila Baloch????☀️ (@IFazilaBaloch) September 21, 2022
#OpIran an elderly Iranian woman who took off her #hijab in the northern city of Rasht. #Iran #IranProtests2022 #MashaAmini pic.twitter.com/1iy5EkVQNx
— 0PS INFORMATION | WORLD HUMANITY |???? (@NewAnon0ps) September 21, 2022
#OpIran women dance in the streets
Here the place of telecommunications of Saveh#Iran #IranProtests2022 pic.twitter.com/YDRbRNGbIU
— 0PS INFORMATION | WORLD HUMANITY |???? (@NewAnon0ps) September 21, 2022
This picture and this brave woman will remain in the history. Being silent, she is sitting without Hijab right in front of the special forces.
Be the voice of Iranian people. The internet is shut down by the government.#MahsaAmini #MahsaAminii #مهسا_امینی #IranProtests2022 pic.twitter.com/E2rM4kDMeM— Ś H (@SDSDHON) September 21, 2022
A divisão de elite das forças armadas iranianas pede ao poder judicial o julgamento daqueles que disseminam “rumores e mentiras”: “Pedimos ao judiciário que identifique os que disseminam rumores e mentiras nas redes sociais e nas ruas e atue decididamente contra eles”.
Em Nova Iorque, Raisi pede a jornalista para usar véu por “questão de respeito”. Ela recusa e entrevista não acontece
Na terça-feira, Christiane Amanpour, jornalista britânica de origem iraniana da CNN, preparava-se para questionar o presidente do Irão Ebrahim Raisi, nos Estados Unidos, acerca dos protestos e da morte de Amini, naquela que seria a primeira entrevista dada por este chefe de Estado em solo americano.
Foram, escreveu a jornalista no Instagram, “semanas de planeamento e oito horas a montar equipamentos de tradução, luzes e câmaras”. Mas Raisi nunca chegou a aparecer. “40 minutos após o início da entrevista, um assessor aproximou-se. O presidente, disse ele, sugeriu que eu usasse um lenço na cabeça, porque são os meses sagrados de Muharram e Safar”, escreveu nesta rede social.
A jornalista recusou: “Estamos em Nova Iorque, onde não há lei ou tradição sobre lenços de cabeça. Salientei que nenhum presidente iraniano anterior exigiu isso quando os entrevistei fora do Irão.”
Depois disto, o assessor deixou claro que a entrevista não aconteceria sem que a jornalista usasse o véu, dando como argumento uma “questão de respeito” — referindo-se, inclusivamente, à situação vivida no Irão. Amanpour voltou a negar e a entrevista não aconteceu: “E assim fomos embora”, escreveu. “À medida que os protestos continuam no Irão e as pessoas estão a ser mortas, teria sido um momento importante para falar com o presidente Raisi.”
Presidente do Irão acusa Ocidente de “duplos padrões” relativamente a direitos
No mesmo dia, quando discursava na 77.ª Assembleia Geral das ONU, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, Raisi acusou o Ocidente de ter “padrões diferentes” em matéria de direitos das mulheres — rejeitando os “duplos padrões de alguns governos relativamente a direitos das mulheres e direitos humanos.”
As Nações Unidas, a Amnistia Internacional e vários países do Ocidente já mostraram preocupação em relação à situação no Irão, acusando as autoridades deste país de repressão brutal das populações.
Mahsa Amini foi detida a 13 de setembro pela “polícia de moralidade”, quando se encontrava de visita a familiares no Teerão, por alegadamente trazer o véu de forma incorreta. Foi transferida transferida para uma esquadra, com o objetivo de assistir a “uma hora de reeducação”. Chegou ao hospital três dias depois em coma, após sofrer um alegado ataque cardíaco, atribuído, pela autoridades, a problemas de saúde. Família rejeitou esta versão.