O Presidente do Irão acusou esta quinta-feira o Ocidente de ter “padrões diferentes” acerca dos direitos das mulheres, criticando a morte de uma jovem detida pela polícia iraniana, mas mantendo distância em casos no Canadá ou em Israel.

No seu discurso na 77.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, que está a decorrer em Nova Iorque, Estados Unidos, Ebrahim Raisi rejeitou “os duplos padrões de alguns governos relativamente a direitos das mulheres e a direitos humanos”.

As declarações foram feitas numa altura que o país árabe se confronta, há cinco dias, com violentas manifestações contra a chamada “polícia de costumes” na sequência da morte de uma jovem de 22 anos detida por usar mal o véu islâmico (“hijab”).

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Tanto as Nações Unidas como vários países ocidentais sublinharam estar preocupados com o caso e a forma violenta como as manifestações têm sido reprimidas pelas autoridades de Teerão.

O líder iraniano aproveitou também o seu discurso na ONU para garantir que o país vai continuar “a procurar justiça” para o assassinato do general Qassem Soleimani, morto em 2020, num ataque com um drone norte-americano.

O anterior Presidente dos EUA Donald Trump assinou a autorização para o crime selvagem“, mas a “procura de justiça não será abandonada”, afirmou, acrescentando querer que seja realizado “um julgamento justo”.

Num apelo implícito à união de todos os Estados da região, nomeadamente à Arábia Saudita, potência regional aliada dos norte-americanos, Ebrahim Raisi sublinhou que Trump disse terem sido os Estados Unidos que criaram o grupo terrorista Estado Islâmico para “criar o caos” na região.

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Acreditamos firmemente que, para enfrentar injustiças, temos de ser coesos”, disse, adiantando que “qualquer ação de opressão constitui uma ameaça para todo o mundo”.

A opressão foi, aliás, uma palavra-chave do discurso do Presidente iraniano que também criticou os Estados Unidos por terem abandonado o acordo sobre a política nuclear do Irão, assinado em 2015.

Quando a América abandonou o acordo do nuclear vimos uma nova face dos crimes contra a humanidade“, disse.

Segundo o líder iraniano, esse foi mais um episódio que ensinou o Irão a não confiar em ninguém.

O Irão aprendeu a não confiar em ninguém. A lição foi aprendida durante as duas guerras mundiais, quando o Irão declarou a sua neutralidade, mas, nos dois casos, foi objeto de ocupações estrangeiras. Depois, nos anos 50, quando confiou na América para alcançar o sonho de nacionalizar o petróleo, foi traído também. Mais recentemente, depois de o acordo sobre o nuclear ter sido assinado e aceite no Conselho de Segurança das Nações Unidas, viu que esse acordo foi contornado unilateralmente”, enumerou Raisi.

A semana de discussões de alto nível da Assembleia Geral das Nações Unidas começou na terça-feira, na sede da ONU em Nova Iorque, e irá prolongar-se até à próxima segunda-feira, com a presença de dezenas de chefes de Estado e de governo.

Esta é a primeira Assembleia Geral desde o início da guerra na Ucrânia e a primeira em formato presencial desde o início da pandemia de Covid-19.