Quando a sirene que marca as 12 horas tocou ainda não havia sinal do presidente da câmara de Lisboa. Já os primeiros trabalhadores tinham saído da cantina dos serviços de Higiene Urbana da autarquia quando Carlos Moedas chegou. Afinal, o ritmo de trabalho para estes funcionários obriga a almoçar às 11 horas, quando ainda Moedas estava na Cimeira do Turismo Português, mas o segundo turno — dos vários diários — já estava sentado nas várias mesas. Ironia da agenda: o aumento do turismo é um dos pontos apontados pela câmara para o agravar da pressão sobre a recolha de lixo na cidade. E se Moedas não tem problemas em sentar-se à mesa mesmo sem ser convidado, desta vez também apareceu sem aviso.

O dia é de efeméride. Há precisamente um ano, Carlos Moedas cumpria a primeira promessa eleitoral e entrava no mesmo refeitório para almoçar com os funcionários daquela área da autarquia na condição de presidente da Câmara eleito. Esta terça-feira, já depois de ter desbloqueado 18 milhões para as freguesias, voltou a ouvir algumas queixas e a solidarizar-se com os problemas dos trabalhadores.

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Numa espécie de speed dating, Moedas foi saltando de mesa em mesa, partilhando a refeição de tabuleiro com vários trabalhadores. Garante ser um especial fã de sobremesas, mas esta terça-feira ficou-se pela maçã assada. Na manga trazia também uma novidade: quer uma reforma estrutural da recolha de lixo na cidade.

Recusa, para já, avançar o que tem pensado, optando pela habitual estratégia de “ouvir todos” antes de revelar, mas frisa que “é preciso deixar responsabilidades claras” no que compete à Câmara Municipal e às Juntas de Freguesia. Se estiver sujo, pelo menos, será possível apontar o dedo “claramente” ao culpado. O pingue-pongue entre a limpeza das ruas ou dos caixotes do lixo ficará, idealmente, com os dias contados. Prazos? Por enquanto não há.

Primeiro problema? Com as juntas de freguesia maioritariamente nas mãos de socialistas, Carlos Moedas quer garantir que “as boas relações continuam” e que os presidentes das juntas são ouvidos. Não será tempo de comprar mais uma guerra e fazer crescer a oposição à governação num tema tão caro à cidade.

À mesa, Moedas ainda comenta que “os turistas chegam a Lisboa e comentam que é uma cidade muito limpa”, embora reconheça que aos olhos dos próprios lisboetas “a ideia é completamente diferente.” Para os que cá estão mostra-se atento.

“Aquilo que eu vejo é que não há também da parte das pessoas respeito pelo vosso trabalho, já vi pessoas largarem os cães para irem fazer as necessidades nos sítios onde estão as pessoas a limpar”, comenta Moedas logo numa das primeiras mesas onde se senta. De volta recebe agradecimento pela proximidade e pelo respeito a um trabalho que poucos estão interessados em fazer. Mas a hora de almoço já terminou e é tempo de levantar, mesmo que ao lado o presidente da Câmara ainda agora tenha começado.

E como na recolha de lixo nem tudo se faz de camiões com cheiro desagradável e vassouras nas mãos, Carlos Moedas não perde muito tempo depois de almoçar para passar aos cumprimentos a “todos os setores”. No pólo dos Olivais há amplas oficinas, com dezenas de carros à espera de reparação. Há quem ali esteja há mais de 25 anos e quem já veja a meta perto: no próximo dia 1 de outubro, o senhor Garcia passará à reforma.