Por esta altura já os holofotes da moda estão apontados a Paris, mas antes que o sotaque francês invada totalmente a agenda falta recordar o que mais se destacou na Semana da Moda de Milão. Entre os dias 20 e 26 de setembro a cidade italiana foi palco de uma série de desfiles com as propostas para a próxima primavera/verão e houve uma série de momentos que fizeram notícia e eco nas redes sociais. Selecionamos cinco temas, alguns desfiles e uma performance que reúnem criatividade, espetáculo e celebridades, ingredientes que a moda adora.
Gémeos e mais gémeos na Gucci
O desfile da Gucci começou dividido em dois desfiles simultâneos de 68 looks. No final levantou-se uma parede e percebeu-se que os modelos eram pares de gémeos que estavam a desfilar ao mesmo tempo para duas plateias. Os pares juntaram-se, deram as mãos e começaram um segundo desfile. A coleção “Twinsburg” foi especialmente pessoal para o designer Alessandro Michele, cujo fascínio por gémeos tem origem no facto de ter crescido com uma mãe que tinha uma irmã gémea e ambas desempenharam um papel maternal na sua vida, embora a tia tenha morrido quando ele tinha sete anos. Foi uma ode à dualidade que existe em cada um de nós. “Às vezes encontro o meu outro eu no escuro da noite”, confessou à Vogue. Houve inspiração nos anos 80, houve Gremlins, uma investigação sobre os fatos masculinos e até política. Um dos pares usou umas calças de peitilho com a palavra “Fuori!” em jeito de grito estampada várias vezes. A palavra significa “fora”, é o nome da primeira organização homossexual italiana criada em 1971 e é uma reação à possibilidade (que se viria a confirmar) de que das recentes eleições saísse o governo mais à direita desde a Segunda Guerra Mundial.
O minimalismo chique de Prada e Fendi
O desfile teve lugar na Fondazione Prada, que estava forrada com papel negro, com pequenas “janelas” recortadas onde passavam vídeos, numa instalação criada pelo realizador dinamarquês Nicolas Winding Refn. A coleção de Miuccia Prada e Raf Simons preencheu os requisitos das coleções Prada, caracterizou-se por uma simplicidade que, como sempre, necessitou de muito trabalho para conseguir. Houve looks que pareciam uniformes de trabalho altamente sofisticados, peças delicadas com um brilho acetinado, malhas, vestidos que envolvem o corpo num efeito amachucado, transparências que denunciam uma camada interior do look. E claro, a elegância prática, que faz da Prada um farol para o que se irá usar na estação seguinte.
Na Fendi, Kim Jones criou uma coleção que consegue transportar-nos para os anos 90 e ser, simultaneamente, apetecível e atual. O designer britânico mergulhou nos arquivos da marca e navegou no trabalho produzido por Karl Lagerfeld durante anos a criar para a marca italiana. A coleção divide-se claramente através da paleta cromática, tendo por base tons neutros de bege e cinza, é pontuada por pinceladas de vibrantes tons de verde fluorescente, e depois azul pedra e rosa coral também em looks totais. Toda a coleção é composta por peças monocromáticas (salvo um efeito floral que atravessa cinco looks e um estampado manchado de um único vestido), e os conjuntos são construídos em camadas, sendo a dinâmica conseguida pela mistura de texturas e tonalidades.
O espetáculo de aniversário da Moncler em frente ao Duomo
A Moncler trocou os tradicionais desfiles de moda por uma performance única para celebrar os seus 70 anos. O cenário foi, simplesmente, o centro histórico de Milão, a Praça do Duomo foi o palco de uma coreografia de Sadeck Waff interpretada por 700 bailarinos e ainda com 200 músicos, um coro com 100 membros e 952 modelos, fazendo um total de 1952 pessoas, um número que é também o ano da fundação da marca.
Todos usaram o casaco Maya, numa versão atualizada para celebrar este aniversário, e que se revelou a melhor escolha para aquela noite chuvosa. “Um design que faz a ponte entre as origens e o futuro da marca”, escreve a Moncler. Uma série de celebridades internacionais não quiseram perder este verdadeiro espetáculo e ajudaram a compor uma audiência de 18 mil pessoas.
As bóias salva-humor da Moschino
Os desfiles de Jeremy Scott são uma promessa de surpresa e boa disposição. Nesta semana de moda em Milão, a apresentação da nova coleção da Moschino arrancou em modo clássico numa passerelle clássica, que até tinha uma fonte no meio, e com looks negros de inspiração na década de 1980, mas viria a acabar modo “pool party”. As aplicações em forma de coração vermelho insuflável denunciavam que algo maior estaria para vir, e assim foi. As bóias insufláveis apropriaram-se primeiro dos decotes e das bainhas e depois a coleção mergulhou num mood de verão. Mantendo a compostura com tailleurs, vestidos justos, e até fatos, o designer juntou pinceladas de amarelo, azul, rosa Barbie, verde ácido e, mais tarde, os estampados com bonecos. As bóias ganharam protagonismo e também diferentes formas. Primeiro foram redondas na cabeça, em jeito de chapéus, depois, nos vestidos compridos foram golfinhos ou cisnes. Mas há mais, e vale a pena ver.
https://www.youtube.com/watch?v=KfIq_DbVs-Q
As divas que subiram à passerelle em Versace e Dolce & Gabbana
Kim Kardashian passou de estrela da primeira fila dos desfiles a musa do desfile. O nome da coleção Dolce & Gabbana, “Ciao Kim” já o denunciava e o início do desfile, com um vídeo de Kardashian a comer um prato de massa, confirmou quem seria a estrela inspiradora da dupla de designers. Depois de desfilada uma coleção que, em grande parte poderia ser usada pela estrela do mundo da televisão e da beleza, a própria agraciou o palco e os convidados com a sua presença num vestido preto brilhante e acompanhada pelos criativos, quase como se de um happening se tratasse, tantos eram os telemóveis no ar na assistência para captar o momento.
No desfile da casa Versace coube a Paris Hilton encerrar o desfile. A famosa herdeira e estrela da reality Tv está habituada aos holofotes e brilhou ainda mais com um minivestido no seu cor de rosa assinatura e brilhante, com um véu como acessório dentro do tema da coleção, e uns sapatos num tom flúor da mesma cor. A coleção assinada por Donatella Versace teve um mood gótico, com velas a criar ambiente na passerelle, uma clara preferência pelo negro e pelo roxo e uma aposta na mistura de texturas com, por exemplo, rendas, franjas, brilhos e devorées.
Também Kate Moss vale uma referência especial. Afinal a modelo já goza de um estatuto de figura icónica nesta indústria e regressou à passerelle em Milão para o desfile de apresentação do novo designer ao leme da Bottega Veneta, Matthieu Blazy. Moss usou umas calças de ganga com um top branco e uma camisa aos quadrados e foi a segunda surpresa do desfile, depois do cenário, um ambiente criado pelo artista italiano Gaetano Pesce. O designer diz que quer vestir as clientes para todas as ocasiões, conta a Vogue, e a coleção de facto, apresentou soluções descontraídas e sofisticadas, com uma constante simplicidade refinada.