Os primeiros dias mais complicados a digerir a derrota no Bessa frente ao Boavista, as sessões seguintes a trabalhar melhor com alguns dos jogadores mais jovens que ganham espaço para se mostrarem nas fases das seleções, os derradeiros treinos para preparar estratégia e mudar o chip que mexeu há duas semanas no último encontro. As duas semanas que Rúben Amorim queria evitar a todo o custo por saber o peso de um mau resultado antes de uma paragem nas competições foram as duas semanas com que teve de conviver com essa realidade mas nem por isso o técnico mudara o foco do que disseram depois do último desaire: mais do que exibições, o problema é a falta de ligação entre o que se faz e o que se consegue.

Sporting regressa aos triunfos frente ao Gil Vicente e encurta à condição distância para os rivais diretos

“Não podemos podemos ficar nervosos com a tabela classificativa mas temos noção de onde estamos. Se durante dois anos fomos tão exigentes e consideramos a época passada escassa, temos de ter noção. Temos de ganhar jogos, é o nosso futuro e o do clube, mas temos de manter a consistência exibicional, temos de melhorar os resultados. Mais vale jogar mal e ganhar porque andamos a jogar bem e por vezes não ganhamos”, voltou a focar, olhando em paralelo para a classificação e para o atraso em relação aos rivais diretos, nomeadamente o líder Benfica. “São 11 pontos, são muitos pontos, e estamos na oitava jornada. Não vale a pena fazer contas. No ano passado senti a equipa ansiosa com três pontos de atrasos. O Sporting é sempre candidato a título, mas sabemos o momento em que estamos, no fim faremos as contas. Há muitos pontos e títulos em disputa, não há que pensar na tabela”, voltou a reforçar Rúben Amorim.

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A receção ao Gil Vicente, equipa que chegava a Alvalade com os três resultados possíveis nos últimos três jogos, era apenas o início de um ciclo que pode definir o resto da temporada com 12 encontros em mês e meio entre Campeonato, Taça de Portugal e o fim da fase de grupos da Liga dos Campeões a começar já pela deslocação a França para defrontar o Marselha numa atípica partida à porta fechada por castigo dos gauleses pelo comportamento dos adeptos. Também por isso, o técnico verde e branco foi deixando por mais do que uma vez mensagens contra qualquer sinal de ansiedade, ciente de que mais do que a equipa fazer depressa e bem era conseguir fazer bem para ascender depressa a todos os níveis.

“Já passámos por esta situação. São difíceis em clubes grandes mas demos a volta. Não estamos a ser consistentes nos resultados mas nas exibições temos mantido um bom nível. Se olharmos aos jogos que perdemos, o resultado foi injusto, mas isso vale o que vale. Trabalhámos durante a semana com os jogadores que tivemos, aproveitámos todos os minutos para alterar coisas que tivemos de alterar, relembrar coisas que aconteceram no Boavista, olhamos para esses lances. Temos noção do momento em que estamos, os objetivos passam por vencer os jogos todos e depois no fim faz-se as contas. Quando uma equipa grande perde, a paragem não é boa porque se quer sempre jogar no dia a seguir. Sabemos da nossa responsabilidade, da minha responsabilidade, terei sempre a minha ideia. Se no ano passado foi escasso, este ano estamos atrasados no que temos de fazer”, destacara a esse propósito.

Rúben Amorim sabia que, perante os cinco ausentes por lesão (Pedro Porro, Coates, Luís Neto, Jovane Cabral e Daniel Bragança) mais a condição ainda em evolução de St. Juste que iria começar no banco, teria de fazer algumas alterações. Foi nesse sentido que, sem retirar essa necessidade de regressar aos triunfos pela distância na classificação e pelas três derrotas nas últimas cinco jornadas, o técnico abordou a partida com um voto prévio de confiança à luz da necessidade de fazer alterações por elementos em estreia ou em busca de maior confiança, como acontecia com José Marsà e Ricardo Esgaio, sendo que a essas acrescentou ainda a promoção de Paulinho às opções iniciais no ataque em vez de Marcus Edwards.

Em tudo o resto, nada de novo quando alguma imprensa apontava novidades. No entanto, foram os dois elementos que poderiam estar envolvidos nessas mexidas que surgiram como principais protagonistas do regresso às vitórias do Sporting. Nuno Santos, que tinha sido o melhor no Bessa, voltou a fazer um grande jogo por toda a ala esquerda mas houve um Morita a fazer outros movimentos e a ocupar outros espaços que conseguiram desequilibrar uma equipa minhota a jogar no risco e que valeram um golo e também uma assistência pela primeira vez em Portugal. No entanto, foi Pedro Gonçalves, o tal que estava ventilado para ocupar uma posição no meio-campo ao lado de Ugarte, a encontrar os espaços para desequilibrar, a fazer rolar a dinâmica ofensiva e a catapultar os leões para uma exibição sólida no 100.º jogo na Liga.

Ficha de jogo

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Sporting-Gil Vicente, 3-1

8.ª jornada da Primeira Liga

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Tiago Martins (AF Lisboa)

Sporting: Adán; Gonçalo Inácio, Marsà (St. Juste, 72′), Matheus Reis; Ricardo Esgaio, Ugarte (Alexandropoulos, 72′), Morita, Nuno Santos; Francisco Trincão (Marcus Edwards, 64′), Pedro Gonçalves e Paulinho (Rochinha, 78′)

Suplentes não utilizados: Franco Israel, André Paulo Fatawu e Arthur Gomes

Treinador: Rúben Amorim

Gil Vicente: Andrew; Danilo, Rúben Fernandes, Lucas, Tomás Araújo (Matheus Bueno, 46′), Adrian Marín; Kevin (Boselli, 57′), Vítor Carvalho, Fujimoto; Murilo (Elder Santana, 79′) e Fran Navarro

Suplentes não utilizados: Kritciuk, Né, Carraça, Mizuki, Pedro Tiba e Henrique Gomes

Treinador: Ivo Vieira

Golos: Morita (16′), Pedro Gonçalves (22′), Rochinha (82′) e Fran Navarro (90+3′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Nuno Santos (18′), Matheus Bueno (61′), Esgaio (61′), Pedro Gonçalves (65′) e Paulinho (76′)

O encontro começou sem grandes oportunidades (melhor, nenhuma oportunidade) mas com as formações a deixarem um cartão de visita para o que queriam do encontro. Por um lado, o Sporting apostava naquela dinâmica habitual ofensiva a dar grande projeção aos alas pelos laterais e com muita mobilidade entre os três da frente, sendo que com Paulinho existia ainda assim uma referência mais fixa no eixo. Por outro, o Gil Vicente assumia uma linha defensiva a três muito subida a reduzir quase o jogo a meio-campo, tendo a exploração das zonas entre linhas e os movimento de Fran Navarro na frente como armas ofensivas. O que queriam era isto, o que aconteceu foi oposto. Os leões ainda tiveram duas aproximações com perigo ao último terço falhando no último passe mas o quarto de hora inicial resumiu-se junto das balizas a um golo anulado pelo VAR a Paulinho após assistência de Nuno Santos (11′). Estava dado o mote para o resto.

A possibilidade de colocar a bola na profundidade tendo em conta o adiantamento da linha dos minhotos estava sempre em cima da mesa mas também as variações rápidas do centro do jogo e as desmarcações de rutura surgiam no cardápio de opções ofensivas – e foi através das duas últimas que surgiram os golos nos minutos seguintes em Alvalade. Primeiro, na sequência de um passe longo de Pedro Gonçalves da direita para a esquerda deixando Nuno Santos numa situação de 1×1, o canhoto parou no peito, rematou cruzado e Morita apareceu ao segundo poste para desviar e fazer o 1-0 (16′). Depois, após um lançamento para a entrada a romper de Morita que foi cortada mas ficou na mesma a pingar no último terço, o japonês fez a assistência de calcanhar para a entrada de Pedro Gonçalves que trabalhou na área e encontrou espaço para rematar cruzado para o 2-0 que colocava os leões na sua zona de conforto (22′).

Os minhotos quase aproveitaram um mau atraso de Ricardo Esgaio para Adán que obrigou o espanhol a sair de carrinho da baliza mas só mesmo nas iniciativas de Fran Navarro conseguiam a arte para fintar o defesa que lhe saía pela frente e rematar (aos 27′ passou ao lado, aos 42′ saiu forte mas à figura de Adán). No entanto, o Gil Vicente juntava ao risco da defesa subida uma série de erros na saída em construção e nos posicionamentos que iam sendo aproveitados da melhor forma pelo Sporting, que viu Andrew negar o golo a Trincão isolado na área descaído sobre a direita com pouco ângulo (39′), Pedro Gonçalves a rematar à figura quando tinha Paulinho a fazer a desmarcação na diagonal (43′) e Ricardo Esgaio a surgir de rompante ao segundo poste após um passe tenso de Nuno Santos para nova defesa de Andrew (45+2′).

Ivo Vieira ainda tentou reentrar na partida desfazendo ao intervalo a linha de três atrás com a saída de Tomás Araújo para a entrada de Matheus Bueno mas foi o Sporting, pelo meio ou pelas laterais, a criar os espaços que permitiam entradas no último terço muitas vezes sem um bom último passe como acontecera no arranque do encontro. Pedro Gonçalves teve uma oportunidade soberana para marcar após assistência de Trincão mas o remate saiu por cima (55′) e Francisco Trincão viu um golo anulado (desta vez com o VAR a confirmar a decisão do árbitro assistente) por estar em posição irregular no passe de Paulinho (64′). Tudo parecia fácil mas de tão fácil que parecia podia ter-se complicado e muito nos minutos seguintes.

Antes desse golo invalidado, Murilo já tinha surgido na área em boa posição para um remate travado por Adán (61′). Depois, na sequência de um canto com desvio ao primeiro poste, Fran Navarro conseguiu ainda desviar na pequena área mas o guarda-redes espanhol voltou a fazer a “mancha” que evitou o 2-1 que podia abrir a partida (69′). Em dois momentos, o Gil Vicente teve oportunidade de reentrar numa partida que o Sporting podia ter resolvido muito antes mas, entre cruzamentos que foram saindo de forma desacertada com jogadores em boa posição na área e uma tentativa de Edwards sem efeito, Rochinha entrou para receber um grande passe na profundidade de Esgaio para marcar o 3-0 (83′). O jogo estava de vez fechado e o máximo que o Gil Vicente conseguiu foi mesmo reduzir pelo inevitável Fran Navarro no último minuto de descontos (90+3′), sendo que antes Boselli tinha acertado na trave (87′).