Foi o primeiro Jardim Zoológico de Londres – a chamada Menagerie – e ainda hoje há descendentes desses animais no Regent’s Park, atuais instalações do Zoo de Londres, inaugurado a 27 de abril de 1828.
Foi o rei João que iniciou a tradição nos anos 1200, já que era habitual os monarcas trocarem oferendas de animais exóticos e selvagens. O urso polar foi uma das maiores extravagâncias e viveu acorrentado na Torre de Londres em plena Idade Média. O rei Haakon IV da Noruega achou que seria a prenda ideal para o rei Henrique III de Inglaterra, uma vez que o animal já figurava como símbolo das sagas dos exploradores nórdicos. Por essa altura, a Islândia e a Gronelândia estariam sob o domínio da Noruega. Não se sabe se terá vindo com laço de embrulho, mas o que é certo é que a encomenda foi entregue com um tratador norueguês, o único que podia colocar o açaime e corrente ao urso para cumprir a rotina de todas as manhãs. O capricho do rei Henrique III de Inglaterra não saía barato e era ordenado aos xerifes locais que tratassem de providenciar a quantia necessária às necessidades nutricionais do urso branco que para o animal de grande porte não seriam suficientes. O rei lembra-se então de autorizar o urso a caçar e nadar no rio Tamisa, ritual cumprido todos os dias, com a ajuda preciosa do seu tratador que teria direito a roupa quente e seca no final da tarefa, facilmente encharcado com os seus salpicos.
Para evitar qualquer tentativa de fuga rumo aos glaciares, levavam-no preso numa corda comprida para ter espaço e distância para se banhar. O momento atraía muitos estupefactos curiosos e até visitantes que iriam de propósito para as margens do rio. Afinal, não seria todos os dias que se via um urso polar de trela no Tamisa, algo só equiparado pela vinda dum elefante africano em 1255.
A casa nova do elefante
Pensa-se que branco e polar só terá sido este, mas outros ursos figurariam na coleção de animais insólitos na Torre de Londres, correndo a lenda de que a aparição “fantasmagórica” de um deles tenha causado a morte de um guarda na Torre.
Mas terão sido os felídeos os primeiros a entrar. Em 1235, Henrique III teve o prazer de ser presenteado com três leopardos, ainda que não haja certezas, podem também ter sido leões. Terá sido o Santo Imperador romano Frederico II a presentear o rei.
Ao longo dos anos, a coleção de animais foi crescendo, e além do lendário urso polar, ter-se-á juntado um elefante africano em 1255. Os londrinos nem queriam acreditar no paquiderme enviado pelo rei de França. Apesar de ter tido um guardião dedicado e uma “casa” novinha em folha para o receber, com um majestoso pé direito, o elefante só aguentou dois anos de cativeiro. Os leões e tigres é que acabaram por ter crias.
A Torre dos Leões
Foi Eduardo I que criou um novo lar permanente para os leões na entrada ocidental da Torre, a chamada Torre do Leão, onde seria preciso atravessar uma ponte levadiça para avistar os big cats. Há notícias de que o cheiro e os sons aterradores das bestas amedrontavam os visitantes.
Mais silenciosas e já no século XVII, juntaram-se três águias, mas o fascínio por felinos manteve-se com a aquisição de dois pumas, um tigre e um chacal, assim como mais leopardos e leões, as incontestáveis atrações do zoo. A ideia era mantê-los à vista de todos e foi no reinado de James I, no século XVII, que o monarca ordenou umas obras de remodelação da toca dos leões para que os visitantes os pudessem ver de cima a rondar os seus aposentos e a comer e a tomar banho na “grande cisterna”.
Supõe-se que as distâncias de segurança não terão sido cumpridas, já que houve notícias de guardas, soldados e visitantes feridos ou mortos por se aproximarem demasiado dos animais.
As esculturas de metal
No início do século XIX, a Menagerie estava em declínio, até ser revitalizada pelo enérgico anfitrião Alfred Cops, o tratador-mor e um dedicado anfitrião das visitas guiadas aos animais. Conseguiu adquirir cerca de 300 e foi ele que reavivou a Torre como atração turística, muito bem interpretado por estes dias num episódio de podcast da dramaturga inglesa Anita Sullivan.
No entanto, apesar de todo o esforço e resiliência, as despesas com os animais eram muitas e com a criação da Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals (RSPCA) a mais antiga organização de bem-estar animal fundada em Inglaterra, em 1824, a Menagerie foi definitivamente encerrada onze anos depois.
Muitos animais foram realojados no Regent’s Park, outros vendidos para circos e zoológicos. Em 1936, escavações à volta do fosso da Torre revelaram dois crânios de leões datados da época medieval. As provas genéticas sugerem que pertenceram a uma subespécie de leão da Barbária que em tempos viveu em África, entretanto extinto.
Atualmente, restam as instalações de metal da conceituada artista inglesa Kendra Haste que recebeu uma encomenda dos Palácios Históricos Reais para criar 13 esculturas de arame galvanizado expostas nas antigas instalações dos animais na Torre. A mostra inclui uma família de leões, o urso polar, um elefante e alguns babuínos.