A Câmara de Lisboa aprovou esta segunda-feira, com os votos contra da liderança PSD/CDS-PP, uma moção do PS a apelar à Assembleia da República para a alteração do regime de alojamento local, para que as licenças tenham “um limite temporal”.

Na reunião pública da câmara, a moção dos vereadores socialistas, à semelhança do que já tinha acontecido com a proposta de suspensão de novos registos de alojamento local em 15 das 24 freguesias da cidade, foi aprovada com os votos contra dos sete membros da liderança PSD/CDS-PP – que governa sem maioria absoluta – e os votos a favor das restantes forças políticas que integram o executivo municipal, nomeadamente cinco do PS, dois do PCP, um do BE, um do Livre e um da independente do Cidadãos por Lisboa (eleita pela coligação PS/Livre).

Na apresentação da moção, a vereadora do PS Inês Drummond explicou que a ideia é apelar à Assembleia da República para que proceda à revisão do Regime Jurídico da Exploração dos Estabelecimentos de Alojamento Local (RJEEAL) para “estabelecer um limite temporal aos títulos de exploração de alojamento local, onde a escassez tenha sido criada – zonas de contenção atuais ou futuras”.

Esse prazo, segundo a moção, deve ter em consideração “o investimento realizado, segundo critérios de proporcionalidade”, e devem ser definidas regras para a atribuição de licenças, inclusive quando nas zonas de contenção se recue dos rácios definidos.

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Inês Drummond referiu que na cidade de Lisboa, segundo dados de novembro de 2021, “o peso do alojamento local relativamente ao alojamento familiar clássico é de 7,1%, ascendendo, a título de exemplo, nas freguesias de Santa Maria Maior e Misericórdia, respetivamente, a 52% e 39%”, o que significa que, nestes territórios, uma em cada duas e duas em cada cinco habitações são, atualmente, exploradas em alojamento local.

“Cada imóvel explorado em alojamento local é um imóvel que se subtrai ao stock de habitação permanente”, salientou a vereadora do PS, considerando que a regulamentação do alojamento local é um instrumento fundamental nas políticas públicas de habitação.

Sobre o prazo temporal a aplicar, que não é sugerido na moção, a socialista defendeu que não deve ser de dois ou três meses, mas sim de “quatro, cinco, 10 anos, o que se considerar equilibrado”.

O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), manifestou-se contra a moção do PS e alertou que ao “invés de estar a dar poder à câmara está a dar poder ao Governo”, lembrando que o executivo camarário está a trabalhar na alteração do atual Regulamento Municipal do Alojamento Local, e defendeu que se deveria esperar pela conclusão desse trabalho, que vai ser apresentado “dentro dos timings”, porque é uma “prioridade”.

Carlos Moedas destacou ainda a importância do setor do alojamento local na cidade, que “representa metade das dormidas no turismo”, receando que o prazo das licenças possa “ter efeitos bastante negativos para a economia” e criar mais burocracia no funcionamento desta atividade económica.

Antes da votação, a vereadora do PS sublinhou que a moção seria uma oportunidade para o presidente da câmara “fazer uma demonstração inequívoca se o equilíbrio que defende na cidade se é de natureza propagandista ou de natureza substantiva”, mas o social-democrata reforçou a ideia de que “não faz sentido dar uma licença por tempo”, ressalvando que “o alojamento local tem de ajudar a cidade e não retirar habitação da cidade”.

O vereador do PCP João Ferreira disse que “o problema da habitação vai muito para lá do alojamento local”, apontando a “política de licenciamento sem limites de unidades hoteleiras” e defendendo que o “mais útil” é fazer uma caracterização da atual ocupação dos imóveis na cidade, por considerar que a pandemia de covid-19 levou a desistências na atividade turística.

Da parte do BE, Ricardo Moreira recordou que foi preciso o PS perder a maioria absoluta na câmara para avançar no regulamento do alojamento local, referindo-se ao anterior mandato 2017-2021, em que os socialistas governaram a cidade num acordo com o BE, e reiterou que esta atividade de alojamento turístico continua a ser “um dos principais problemas no acesso à habitação”, sugerindo uma proposta que “seria um terramoto”: eliminar todas as licenças para se fazer um concurso para atribuição destes títulos de exploração assegurando o cumprimento do rácio.

Neste mandato, os vereadores da oposição aprovaram, por duas vezes, com os votos contra da liderança PSD/CDS-PP, a suspensão de novos registos de alojamento local, que se aplica em 15 das 24 freguesias da cidade, por um período total de 12 meses até à entrada em vigor da alteração ao regulamento municipal desta atividade.

A medida aplica-se “nas freguesias onde se verifique um rácio entre o número de estabelecimentos de alojamento local e o número de fogos de habitação permanente igual ou superior a 2,5%, atual ou que se venha a verificar no decurso da suspensão”.