Ricardo Sá Pinto chegou ao Irão em junho para orientar o Esteghlal mas viveu bem mais episódios limite apenas em três meses de competição do que poderia pensar. Na parte desportiva, tudo tem sido “normal”: começou a Liga a perder com o Sepahang, não mais voltou a ter qualquer desaire, ocupa a segunda posição à 11.ª jornada com 22 pontos, apenas menos dois do que o Persepolis. Em tudo o resto, e quase sempre de uma forma indireta, as coisas nem sempre têm mantido essa “normalidade” – mas continuou a ganhar.

Além de já ter sido expulso do banco, num momento em que a própria direção do clube veio defender que tinha sido provocado pelos elementos da equipa contrária, o técnico decidiu colocar o lugar à disposição depois do afastamento por motivos políticos do presidente que o tinha contratado, Mostafa Ajorlou, foi convencido pelo novo líder, Ali Fethullahzadeh, a permanecer no clube e ganhou esta quarta-feira o seu primeiro título no Irão, a Supertaça, após vencer o Nassaji por 1-0 com golo de Amir Motahari (52′).

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No entanto, no final da partida, os jogadores não fizeram qualquer festejo pela vitória na primeira prova da temporada por protesto perante toda a instabilidade social e política que o país tem vivido. Mais: quando percebeu que os jogadores do Esteghlal iriam receber o troféu sem qualquer tipo de comemoração, a TV estatal iraniana decidiu cortar mais cedo a emissão, não mostrando os momentos que se seguiram a essa entrega. E o jogador Mehdi Ghayedi foi mesmo mais longe, fazendo uma publicação no Instagram com a foto de uma camisola que dizia “Em memória de Milad Zare”, um adepto do Esteghlal que foi morto durante os protestos que têm aumentado de escala no Irão ao longo das últimas semanas.

“Com tudo o respeito, eu sou um estrangeiro no vosso país, não viram hoje a alegria que devia haver por ganharmos o que ganhámos. Gostávamos de estar mais felizes mas as circunstâncias à volta do país não são assim tão felizes. Por isso, dedico a minha pequena parte desta vitória às mulheres e aos homens do Irão que estão a sofrer muito. Espero que possam ter a felicidade que merecem. Amo este país, amo estas pessoas, a vida está acima do futebol. Que as pessoas possam ser felizes, que possam viver felizes, esse é o meu maior desejo”, explicou Ricardo Sá Pinto na conferência após o encontro.