Há dois novos capítulos na novela de Kanye West. No início desta semana, o jornal Capital B avançou que a frase “White Lives Matter” — que foi estampada pelo rapper numa linha de T-shirts apresentada no passado mês de outubro na Semana da Moda de Paris — tem marca registada, impedindo-o legalmente de comercializar as peças de roupa. Embora o rapper não tenha ainda reagido publicamente a esta notícia, na noite de quinta-feira anunciou através do Twitter que vai passar um mês sem falar com ninguém.
“Vou fazer uma purificação de 30 dias. Um jejum verbal. Sem álcool. Sem filmes para adultos. Sem sexo. A Deus louvamos. Amen. Mas o meu Twitter continua aceso”, pode ler-se no tweet onde fez o anúncio do silêncio auto-imposto — e depois do qual ainda publicou uma cadeia de outros 12 tweets, na sua maioria onde aponta acusações a celebridades como o personal trainer Harley Pasternack e o músico Drake.
https://twitter.com/kanyewest/status/1588293370018811904
A patente de “White Lives Matter”
Os direitos de “White Lives Matter” (em oposição ao grito do movimento antirracista Black Lives Matter) pertencem a dois radialistas negros do estado norte-americano do Arizona, impedido legalmente o rapper de comercializar nos Estados Unidos da América as peças de roupa que apresentou em Paris.
Quinton Ward e Ramses Ja são os dois homens a quem pertence a patente da frase, classificada como “discurso de ódio” pela organização de ativismo racial norte-americana Anti-Defamation League. A dupla, que reside no estado do Arizona, está à frente do programa de rádio Civic Cipher, que se foca em questões de justiça racial. A patente foi-lhes oferecida por um ouvinte que, segundo a CNN, registou os direitos comerciais da frase no mesmo dia em que West apareceu na Semana da Moda de Paris com uma T-shirt onde estampou uma imagem do papa João Paulo II na frente e “White Lives Matter” nas costas.
A mesma pessoa transferiu semanas mais tarde os direitos da marca “White Lives Matter” para a empresa de Ward e Ja, Civic Cipher LLC, tendo o processo de transferência sido finalizado no final do mês passado. O objetivo é impedir que a frase de ódio — popular entre grupos de supremacistas brancos, como o Ku Klux Klan — possa alguma vez ser legalmente usada.
Desde que apresentou as T-shirts (no plural, pois existe uma versão em branco e outra em preto), a fortuna de Kanye West desceu de 2 mil milhões para 500 milhões de dólares. Adidas, Balenciaga, a agência CAA, a revista Vogue e a JP Morgan Chase, entre outras empresas a que já se associou no passado, vieram declarar publicamente que não querem mais trabalhar com o rapper.
As polémicas começaram com o desfile surpresa que apresentou no início de outubro na Semana da Moda de Paris, durante o qual a editora da Vogue Gabriella Karefa-Johnson partilhou a sua indignação sobre a utilização da frase e várias críticas ao rapper nas redes sociais, atitude que levou West a contra-atacar com a publicação de uma foto da jornalista na sua própria conta de Instagram acompanhada de comentários jocosos sobre a sua imagem, incitando ao cyberbullying e levando a uma onda de solidariedade se levantasse para defender Karefa-Johnson.
A própria rede social da Meta restringiu o acesso de West por acreditar que as suas atitudes violaram as políticas comunitárias, situação que o levou a recorrer à sua conta de Twitter para escrever comentários anti-semíticos e ofensivos sobe a comunidade judaica. Mais recentemente, sugeriu que a morte de George Floyd (o homem que morreu asfixiado por um polícia, originando o movimento Black Lives Matter) se deveu ao consumo do opióide fenantil.