Num comunicado tornado público na manhã desta terça-feira, a Adidas anunciou o fim da sua parceria de vários anos com Kanye West por causa dos comentários ofensivos e anti-semíticos partilhados pelo rapper ao longo das últimas semanas nas redes sociais. A situação levou a empresa alemã a iniciar no princípio deste mês de outubro um processo de deliberação sobre o futuro desta colaboração, que foi agora concluído.

“Depois de uma revisão intensiva, a empresa tomou a decisão de terminar imediatamente a parceria com Ye, terminar a produção de produtos da marca Yeezy e parar todos os pagamentos a Ye e às suas empresas. O negócio Yeezy termina com efeito imediato”, escreveu a empresa no comunicado desta manhã, que pode ser consultado no site.

A marca alemã declara ainda que espera um impacto negativo a curto prazo que poderá atingir os 250 milhões de euros no rendimento líquido da empresa em 2022, “dada a elevada sazonalidade do quarto trimestre”. Segundo David Swartz, analista do Monrnigstar citado pelo The Washington Post, o negócio com Kanye West gerava uns estimados 2 mil milhões de euros por ano, representando cerca de 10 por cento do rendimento anual da empresa.

O fim desta parceria acontece depois da empresa ser alvo de pressão pública para terminar a relação com Kanye West, que também já foi banido do Twitter e do Instagram devido aos mesmos comentários anti-semíticos que violaram as políticas comunitárias das empresas.

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O que se passou com Kanye West?

As polémicas começaram com o desfile surpresa apresentado pelo rapper no início deste mês na Semana da Moda de Paris. A coleção que levou para a passerelle inclui uma T-shirt estampada com a frase “White Lives Matter”, em oposição ao movimento antirracista “Black Lives Matter”, que teve um enorme impacto social nos Estados Unidos da América.

Durante a apresentação, a editora da Vogue Gabriella Karefa-Johnson partilhou a sua indignação e várias críticas ao rapper nas redes sociais, atitude que levou West a contra-atacar publicamente com a publicação de uma foto da jornalista no seu próprio Instagram acompanhada de comentários jocosos sobre a sua imagem que o levaram a ser acusado de bullying.

A discussão tornou-se pública. Várias celebridades correram para as suas redes sociais para criticar West, como a modelo Gigi Hadid, que escreveu no Instagram: “Quem te dera ter uma percentagem do intelecto dela.”

O post que originou a polémica.

Na mesma semana, o Instagram restringiu o acesso do rapper por acreditar que este teria violado as políticas comunitárias. West recorreu então à sua conta de Twitter para escrever ameaças e comentários anti-semíticos. “O engraçado é que eu não posso ser anti-semítico porque os negros são também judeus. Vocês brincaram comigo e tentaram tirar de jogo qualquer pessoa que se oponha à vossa agenda.”

Também aproveitou o mesmo post para dizer a Mark Zuckerberg “como é que me expulsaste do Instagram? Costumavas ser o meu ‘nigga'”.

Numa entrevista que deu a Piers Morgan pela Sky News Australia a 19 de outubro, pediu desculpa publicamente pelos comentários sobre o povo judeu, mas defendeu que o que disse “não é racismo, para esclarecer a verdade.” Depois da entrevista, partilhou uma captura de ecrã entretanto apagada onde acusava o músico Sean “Diddy” combs de ser “controlado pelos judeus”, post após o qual foi expulso definitivamente do Instagram.

Documentário em fase final sobre o rapper já não vai ser distribuído

A CAA, agência de talentos que representava Kanye West, terminou a sua colaboração com o rapper esta segunda-feira, na mesma altura em que o estúdio MRC anunciou que já não iria distribuir o documentário finalizado sobre Kanye West.

Numa nota publicada pela revista Variety, os responsáveis declararam que “após debaterem com os seus realizadores e parceiros de distribuição” decidiram não avançar com a distribuição do documentário.

“Não podemos apoiar qualquer conteúdo que amplifique a sua plataforma”, escreveram os representantes da MRC, acrescentando: “O silêncio de líderes e corporações no que toca a Kanye ou antissemitismo em geral é desanimador, mas não é surpreendente. O que é novo e triste é o medo que os judeus têm de falar em sua defesa.”