É um jogo que conta tanto como os outros, é um jogo que vale muito mais do que os outros. A mensagem nem sempre passa, mas os treinadores têm uma especial preocupação em todos os encontros que surjam a anteceder uma paragem para seleções. Por norma, são menos de duas semanas; agora, com o Mundial, será mais do que um mês. E era por isso que, na sequência do regresso às vitórias na receção ao V. Guimarães em Alvalade, Rúben Amorim colocava tanto o enfoque na necessidade de novo triunfo na deslocação a Famalicão, por sinal um dos campos onde o técnico nunca ganhara (2-2 em 2020/21 no ano do título, 1-1 na última temporada) e que tinha marcado a despedida de Silas antes da sua chegada aos leões.

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“Temos isso dentro das nossas cabeças. A paragem vai ser longa e é muito importante vencer este jogo. Já sentimos isso com o Boavista. Vínhamos de uma sequência boa e perdemos com o Boavista antes de uma paragem. É um jogo importante e difícil, como treinador ainda não vencemos. É uma equipa com vários talentos mas que demora sempre algum tempo a criar ligação com as mudanças de treinador, o que é normal. Mas os jogadores gostam destes jogos, que são sempre difíceis. Tivemos uma semana longa e Vamos fazer um excelente jogo de certeza”, destaca Amorim na antevisão da partida em Famalicão, tendo ainda espaço para abordar as coisas boas e más da paragem e o atual contexto da equipa no Campeonato.

“A paragem não muda assim tanto, pode mudar algumas alternativas. O Sotiris, apesar de ir à seleção, volta mais cedo. É o jogador que precisa mais de treino. Temos jogadores que jogaram na equipa principal do Sporting e foram convocados para os Sub-19. Isso é que é difícil de entender. Há jogadores como Dário [Essugo] que vão ter mais tempo com a equipa principal devido às ausências no meio-campo. Tirando o Coates, podemos fazer uma ou outra alteração na defesa. Defender cinco ou com quatro. Vamos aproveitar cada minuto para melhorar a equipa no seu todo. Na minha cabeça, Sotiris é quem precisa de mais tempo para se nivelar ao resto da equipa em termos de entendimento de jogo”, admitiu o treinador leonino.

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“Começamos já a preparar a próxima época. Tenho claro as prioridades da equipa. A paragem passa por melhorar os jogadores. Há um ano, Ugarte não tinha nem cinco minutos e acabou época como um dos titulares. Precisamos de mais tempo, não podemos pensar em fazer uma coisa em maio que depois não temos hipótese de tratar. Tanlongo? Em relação ao Mateo não é jogador do Sporting, não sei se virá a ser. Seguimos os jogadores que estão em fim de contrato, porque é um fator importante, e todos os jogadores talentosos que nos possam ajudar no futuro quer a jogar ou em mais valias. Está referenciado mas não sei se vai chegar”, acrescentou sobre o médio argentino de 19 anos do Rosario Central que deve mesmo ser confirmado nos próximos dias como primeiro reforço do Sporting na reabertura de mercado em janeiro.

Partindo para esta jornada a 12 pontos do líder Benfica, a quatro do FC Porto e a três do Sp. Braga (neste caso olhando para um limite mínimo no Campeonato que passa por uma terceira posição que dê acesso à terceira pré-eliminatória da Champions), e sabendo que já está eliminado da Taça de Portugal e da Liga dos Campeões – ainda que tenha passado para o playoff de acesso aos oitavos da Liga Europa –, o Sporting colocava um ponto final na primeira parte da época já com um olho na próxima e sem perceber ao certo quem irá interpretar o projeto a partir de 2022/23 com uma deslocação que tem sido complicada mas que podia valer uma segunda vitória seguida, algo que não acontecia desde setembro entre todas as provas. Era também por isso que não havia sinais de poupanças nem mesmo entre os três “mundialistas”.

St. Juste entrou para a defesa fazendo com que Matheus Reis voltasse à ala esquerda, Francisco Trincão também ocupou o lugar de Arthur no ataque. E acabou por ser o jogador cedido pelo Barcelona a fazer a diferença enquanto esteve em campo. “Só vimos metade do Trincão, é uma questão mental e não tem de ter pressa. Quando estiver desbloqueado mentalmente é, quanto a mim, um grandíssimo jogador. Vai ter o tempo dele. Ainda não vimos nem 50% dele”, dissera Amorim. Se antes do anúncio de Fernando Santos ninguém acreditava que fosse possível uma chamada ao Mundial, os 70 minutos em que esteve em campo mostraram que tinha potencial para isso até pelas características que mostra e pela posição que ocupa. No entanto, o facto de o Sporting só ter subido ao quarto lugar com a vitória em Famalicão explica muito do que foi a primeira metade da época – e as escolhas da Seleção. Se ninguém dúvida que Ricardo Horta merece estar onde está, jogos como este mostram que Trincão tem capacidade para outros patamares.

O bloco alto e a boa circulação de bola não demoraram a colocar o Sporting por cima do jogo, com uma confiança em posse como se a equipa estivesse num daqueles períodos de vitórias consecutivas em que tudo o que pode sair bem, sai melhor. Paulinho, com um bom trabalho individual na área a preparar o remate de pé esquerdo, obrigou Luiz Júnior à primeira grande defesa da partida logo a abrir (4′) e as ameaças verde e brancas não ficariam por aí, com Francisco Trincão a rematar ao poste após jogada com cruzamento de St. Juste da direita com amortecimento de Paulinho (10′), Pedro Gonçalves a não pegar bem na bola num tiro rasteiro de fora da área à figura (12′) e Trincão a atirar para nova defesa de Luiz Júnior (14′). O domínio sem dar hipótese de saída ao Famalicão era evidente mas o nulo mantinha-se no resultado.

As oportunidades não ficariam por aí, com os leões a mostrarem também capacidade de construção pelo meio tendo Morita a lançar Pedro Gonçalves que, depois de uma finta de corpo que permitiu que ficasse isolado na área, voltou a ver Luiz Júnior evitar o primeiro golo com uma defesa para canto (18′). Só depois dos 20 minutos foi possível ver um pouco mais de Famalicão (ainda que sem qualquer oportunidade de perigo), conseguindo um par de saídas que levaram Ugarte e Gonçalo Inácio a ficarem tapados com cartão amarelo e deram uma sensação de maior equilíbrio no jogo ainda que com mais posse dos leões.

O futebol não tem propriamente muita lógica mas a lógica acabou por imperar num jogo de futebol que virou por completo nos últimos minutos do primeiro tempo (e podia ter virado mais). Fruto de mais uma zona de pressão alta à saída da área do Famalicão, Morita conseguiu intercetar uma tentativa de passe de Pelé, Paulinho picou por cima de Luiz Júnior e Trincão, de uma forma meio tímida mas para garantir que não havia azares, encostou em cima da linha para o 1-0 (42′). Pouco depois, o ala esquerdino conseguiu rodar e arrancar pela direita, cruzou, Rúben Lima cortou com o braço e Pedro Gonçalves não falhou de grande penalidade (45+3′). Se antes era só criar sem proveito, nessa fase houve 100% de eficácia.

Após o apito final de Artur Soares Dias, sobrou a confusão: Matheus Reis atingiu Puma Rodríguez com um pontapé sem necessidade, houve uma grande confusão entre jogadores com três amarelos à mistura e o lance ficou mesmo a ser revisto pelo VAR, que acabou por “poupar” o brasileiro do Sporting a outros males. À semelhança do que acontecera em 2020/21, com um final de jogo entre empurrões e muita confusão no campo e na zona dos balneários que viria a dar o mote para a frase “Onde vai um, vão todos” de Rúben Amorim que marcou a época do título, os ânimos voltavam a aquecer mas o descanso e a chuva que apertou e de que maneira no reatamento vieram arrefecer esse período de maior exaltação dos dois conjuntos.

Arrefeceu tanto que o segundo tempo teve menos motivos de interesse. Nos 20 minutos iniciais, houve um cabeceamento de Jhonder após cruzamento de Francisco Moura que saiu à figura de Adán mas foi depois anulado por falta do avançado (49′), a lesão na coxa de Matheus Reis que levou à entrada de Arthur (59′), um remate do brasileiro na primeira vez que tocou na bola que quase fez o terceiro golo, um lance de 3-0 anulado a Morita num canto que parecia estar em linha mas o VAR anulou por 18 centímetros. Pouco depois, Luiz Júnior voltou a ganhar o duelo a Paulinho (70′). No entanto, e quando a história do encontro já estava parecia estar contada, Iván Jaime marcou num pontapé acrobático que desviou em St. Juste e reabriu o jogo (78′), que terminaria com o Sporting a sofrer mas com o Famalicão em criar hipóteses.