São duas das três equipas com mais vitórias em Mundiais, são duas das três equipas com mais pódios em Mundiais, defrontaram-se apenas duas vezes em finais dos Mundiais e com vitórias repartidas: em 1995, a Argentina venceu Portugal no Recife por claros 5-1; em 2019, na última edição da prova, foi Portugal que levou a melhor frente à Argentina em Barcelona no desempate por grandes penalidades. O “desempate” chegava este sábado (já madrugada de domingo em território nacional), com os sul-americanos a terem do seu lado um Pavilhão/Estádio Aldo Cantoni mais uma vez lotado com mais de 8.000 espectadores.

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Havia uma espécie de sentimento de “vingança” naquela que é considerada como a Meca do hóquei em patins, tamanha é a paixão dos locais pela modalidade, como se percebeu quando Gonçalo Alves foi tentar marcar um livre direto com a França nas meias-finais ainda com o resultado em 1-0 e todo o pavilhão foi assobiando para tentar desconcentrar o avançado. Não resultou, Portugal avançou mesmo para a partida decisiva com uma goleada por 4-0 e voltava a encontrar uma Argentina que se apresentava como a única formação só com vitórias neste Mundial depois do empate da Seleção com a Itália nos grupos.

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“O mais difícil já passámos, para mim as finais são os jogos mais fáceis. Só existe uma vontade, que é ganhar. Sabemos que vamos dar tudo para conseguirmos revalidar o título. Esse é o foco. Estamos com uma ambição e uma vontade muito grandes. Queremos honrar o hóquei em patins português e vamos dar muita luta. Se jogarmos como temos feito, não será fácil alguém ganhar-nos. Vamos aproveitar um ambiente fantástico. Isto é único, com adeptos fervorosos, que apoiam a sua seleção de início ao fim. Mas também são apaixonados por hóquei. A Argentina é muito forte, com muitas soluções mas tudo faremos para contrariar o seu favoritismo”, tinha destacado o selecionador Renato Garrido antes do jogo.

Depois da surpresa, uma goleada das antigas: Portugal “atropela” Alemanha e joga meias do Mundial com França (que afastou a Espanha)

Como o técnico também recordou, era quase uma cimeira entre companheiros de equipa ou adversários na Liga portuguesa tendo em conta o número de jogadores que atuam em clubes como Benfica, Sporting, FC Porto ou Óquei de Barcelos, casos de Carlos Nicolía, Pablito Álvarez, Lucas Órdoñez, Nolito Romero, Matías Platero, Eze Mena ou Conti Acevedo (Matías Pascual, um dos poucos que não joga em Portugal mas que é companheiro de João Rodrigues e Hélder Nunes no Barcelona, sofreu uma gravíssima lesão frente à Itália e estava fora da final). E, depois da vantagem nacional, acabou por cair para os argentinos com três golos no segundo tempo, permitindo o sexto título mundial na história. Contra 10, era difícil. Contra 10.000, a lotação aproximada de um Pavilhão (ou Estádio) claramente superada com mais pessoas, era ainda mais complicado. Contra 10.002 com a arbitragem a ter decisões erradas em momentos chave, tornou-se impossível. Com isso, Portugal falhou a hipótese de igualar o número de troféus da Espanha.

O encontro dificilmente poderia ter começado melhor para Portugal, que foi fazendo ataques mais longos para colocar algum gelo na partida e marcou logo no primeiro remate à baliza com Henrique Magalhães a colocar sem hipóteses para Conti Acevedo (2′). O golo mexeu com o jogo, numa luta entre o sangue quente dos argentinos (que podiam ter visto marcado um penálti sobre João Rodrigues e um cartão azul sobre Hélder Nunes) e o sangue frios dos portugueses, que ainda apanharam um susto num golo invalidado a Pablito Álvarez por ter marcado com a perna (6′). Os minutos passavam, Ângelo Girão estava intransponível na baliza e até foi Hélder Nunes a ter a melhor oportunidade travada por Conti Acevedo (8′), numa fase em que as duas equipas começavam a rodar jogadores entre duas paragens técnicas dos técnicos.

Mesmo com formas de jogar antagónicas, as chances sucediam-se no mesmo minuto nas duas balizas, com João Souto a acertar no poste e logo de seguida Girão a fazer uma defesa fantástica a dois tempos de costas a remate de Eze Mena. Foi neste contexto que Henrique Magalhães, num bom trabalho coletivo com Diogo Rafael, rematou de meia distância para o 2-0 com Conti Acevedo a ficar mal na fotografia (16′). Páez dava de novo indicações aos argentinos para jogarem largo e aproveitarem os trabalhos a partir da parte de trás da baliza mas seria João Rodrigues a ver Acevedo negar-lhe o golo em duas ocasiões nos minutos finais havendo pelo meio o golo de Argentina por Pablito Álvarez num remate ao ângulo (24′).

O segundo tempo começou com as mesmas características mas com Portugal a responder à insistência dos argentinos com melhores saídas em transição 3×2 que deram oportunidade a João Rodrigues de continuar a tentar o golo perante as “bombas” de Romero da meia distância e os trabalhos perto da área de Pablito Álvarez. Qualquer pormenor poderia fazer a diferença e foi de bola parada que a Argentina empatou com Carlos Nicolía a “sacar” um cartão azul a Telmo Pinto e a marcar de livre direto (31′). A partir daqui, o jogo ficava em aberto para qualquer um dos lados, entre mais algumas decisões no mínimo duvidosas dos árbitros como mais um toque claro sem bola de Romero sobre João Rodrigues não sancionado.

Foi neste momento que a Argentina teve também a sorte do jogo, num lance que não costuma acontecer muitas vezes com Portugal mas que surgiu numa fase crítica: Hélder Nunes, sendo o último homem, teve um remate de meia distância que ficou prensado, Pablito Álvarez surgiu isolado 1xo contra Ângelo Girão, o guarda-redes ainda conseguiu travar o remate mas a bola resvalou para dentro da baliza (39′). A Seleção foi depois arriscando um pouco mais, os argentinos prolongaram as posses e passaram a sair mais pela certa, Girão ainda travou um livre direto de Carlos Nicolía pela décima falta (47′) mas, a 12 segundos do final, a jogar 5×4 sem guarda-redes, o remate de Gonçalo Alves ficou prensado e Eze Mena fez o 4-2.