Nova resposta a Carlos Costa? Em mais uma aparição pública, o governador do Banco de Portugal Mário Centeno sublinhou as melhorias “dos últimos anos” na banca portuguesa, sobretudo desde 2015. A única coisa que não mudou para melhor, diz Mário Centeno, é que “há uma dimensão onde ainda mantemos o mesmo velho hábito, que é o hábito de reescrever a História com os dados censurados“. “E, na verdade, vos digo que parece que gostamos muito disso”, acrescentou o governador do Banco de Portugal.
As declarações foram feitas na conferência “Banca do Futuro”, organizada pelo Jornal de Negócios. “A evolução do setor bancário nos últimos traduziu-se num reforço da posição de capital, dos níveis de liquidez e de melhoria da qualidade do crédito e do aumento da rentabilidade. O que mais se pode dizer, da banca de um país, além disto?“, questionou Mário Centeno, sublinhando que isso só foi possível porque houve um esforço “coletivo” que incluiu o Governo (do qual foi ministro das Finanças) que, entre outras coisas, obteve a decisiva melhoria dos ratings da dívida pública portuguesa.
Já na semana passada Mário Centeno tinha dito, também sem citar nomes, que é preciso respeitar as instituições que se representam não só enquanto se está no cargo mas, também, quando se abandonam essas funções. Essa terá sido uma frase dirigida a Carlos Costa, tanto que na apresentação do livro “O Governador” o próprio Carlos Costa disse que o livro de memórias contribui para o reforço do respeito pelo Banco de Portugal.
Sobre a situação macroeconómica atual, Mário Centeno diz que ela é marcada pela “incerteza”. E acrescentou: “O cenário prolongado de inflação trará incerteza, perda de confiança e uma inevitável recessão”, disse Mário Centeno, sublinhando que a “inevitável recessão” só acontecerá se houver o tal “cenário prolongado de inflação”.
“Por isso, a inação não é uma opção”, afirma Centeno, lembrando que “o papel do Banco Central Europeu é muito claro neste domínio: o objetivo é trazer a inflação para 2% no médio prazo”.
Os efeitos da política monetária tendem a ser desfasados no tempo, mas estou certo, que no médio prazo o objetivo será alcançado.
O governador do Banco de Portugal reiterou, também, o que já tinha dito numa entrevista recente e avisou que “se não controlarmos a inflação, o comportamento dos agentes económicos induzirá uma recessão e a inflação eliminará os ganhos significativos nos salários, emprego e poupança dos últimos anos”.
“Não agir teria um custo recessivo maior do que aquele que o aumento das taxas de juro pode provocar”, afirmou o Governador do Banco de Portugal.
No final do discurso, Mário Centeno alertou os bancos que o “reflexo das subidas das taxas de juro deve fazer-se sentir nos depósitos, para que a poupança passe a ter outro significado”.