A Companhia Nacional de Bailado (CNB) vai celebrar 45 anos de existência com uma exposição iconográfica dedicada ao coreógrafo e mestre de bailado Jorge García (1935-2021), em dezembro, no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa.
A mostra evocativa da vida e obra de Jorge García irá ficar patente entre 3 e 23 de dezembro, no foyer do São Carlos, com entrada livre, e aberta ao público durante o mesmo período de espetáculos de “Giselle”, clássico de bailado também escolhido para a programação no âmbito da celebração dos 45 anos da CNB.
Esta exposição tem por objetivo “dar a conhecer o percurso artístico daquele que é considerado, por muitos, o maior professor de dança clássica que trabalhou em Portugal no século XX”, e ainda “revelar algumas facetas menos conhecidas” do mestre coreógrafo, sublinhou a companhia, num comunicado enviado à agência Lusa.
O seu nome, inicialmente associado ao Ballet Gulbenkian, no início dos anos 1990, ficou também conhecido em Portugal pelo trabalho que, durante quase duas décadas, desenvolveu na Escola Artística de Dança do Conservatório Nacional e, em simultâneo, na CNB.
O legado artístico e pedagógico do coreógrafo e bailarino de origem cubana Jorge Fausto García – que a partir de 2001 passou a utilizar, como segundo nome artístico, Georges Garcia, inscrito no seu passaporte francês -passou por Portugal, França, Bélgica, Itália, Brasil, Canadá e Estados Unidos da América, entre outros países.
A sua obra coreográfica mais conhecida, “Majísimo”, foi dançada em vários destes países, enquanto as suas versões dos clássicos – como “Giselle” – “foram reconhecidas, sobretudo, pelo seu rigor estilístico”, recorda a CNB sobre o coreógrafo, nascido a 19 de dezembro de 1935 em Guaimaro, na província de Camaguey, em Cuba.
“Todos os que foram alunos de Jorge García, num conservatório ou numa companhia profissional, sabem que era um mestre meticuloso, exigente, com um sentido musical raro e um humor, por vezes, acutilante“, aponta o responsável pela conceção, António Laginha, antigo bailarino e professor, sobre o homenageado.
Jorge García também estudou piano, canto e dança em Havana, acabando por se tornar bailarino da companhia nacional cubana.
A CNB recorda ainda as aulas “inspiradoras e orgânicas“, com um “sentido de pedagogia e de justiça [que] eram inquestionáveis”, e também o seu desejo “incansável” pelo estudo da arte e cultura, sobretudo da música e da ópera.
Em 1966, já com uma carreira consistente, deixou a companhia cubana e viajou para Paris, onde acabaria por pedir asilo político alegando constantes perseguições aos artistas do seu país.
Foi bailarino principal da Ópera de Marselha, e em 1972 foi contratado como professor de dança para o Grupo Gulbenkian de Bailado, vindo a fazer parte da comissão artística do Ballet Gulbenkian.
A partir do início dos anos 1990, Jorge García foi convidado para ser professor principal da Escola de Dança do Conservatório Nacional de Lisboa, continuando também a colaborar com companhias estrangeiras, nomeadamente o Ballet da Ópera de Lyon.
Esta exposição de homenagem, com conceção e direção de António Laginha, e montagem da CNB e do Teatro Nacional de São Carlos, deverá depois seguir para a Universidade de Miami, no estado da Florida, Estados Unidos, em 2024, segundo a CNB.
As celebrações dos 45 anos da CNB incluem ainda a apresentação da versão coreográfica de Jorge García do clássico “Giselle” (1841), estreada em 1987, a partir do argumento de Theóphile Gautier, que conta a história de uma jovem camponesa que se apaixona pelo seu vizinho Loys, sem suspeitar, no entanto, que este é, na verdade, Albrecht, Duque da Silésia.
A CNB foi criada a 22 de junho de 1977, por despacho do professor, escritor e então secretário de Estado da Cultura David Mourão Ferreira, tornando-se uma das primeiras instituições públicas no domínio das artes performativas a ser criada de raiz, após o fim da ditadura.