“Temos detetado que há cada vez mais uma entrada para este tipo de práticas de idades mais precoces. Vamos observando crianças que têm 11 e 12 anos que já começam a trazer algum volume em termos quantitativos de ocorrências, que vão sendo atores durante o ano letivo e por vezes com uma violência que não era expectável para uma criança desta faixa etária”, disse à agência Lusa o intendente Hugo Guinote, chefe da Divisão de Prevenção Pública e Proximidade da PSP.

Esta realidade decorre da análise das ocorrências por delinquência juvenil feita pela Polícia de Segurança Pública.

O oficial da PSP avançou que as ocorrências por delinquência juvenil estão a diminuir este ano, quando comparadas com os números antes da pandemia de Covid-19.

No entanto, sustentou que a idade dos jovens a entrar neste tipo de crime está a diminuir e que a tendência para uso de armas brancas está a aumentar.

Hugo Guinote explicou que as ocorrências por delinquência juvenil integram roubos ou furtos, usando os jovens armas brancas, bastões e barras de ferro e sobretudo atuam em grupo, o que permite “ter vantagem em relação às vítimas”.

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“Estes jovens de 11 e 12 anos participam em grupos que têm essas armas brancas e às vezes eles próprios também as têm. Infelizmente é uma tendência que estamos a assistir é que há cada vez mais uma generalização do recurso a armas brancas nestes episódios de violência”, precisou, frisando que a delinquência juvenil não é detetada no âmbito do programa Escola Segura, sendo crimes cometidos fora do espaço escolar.

Hugo Guinote afirmou igualmente que houve “uma alteração dos padrões de comportamento” dos jovens após a pandemia, nomeadamente a tendência para o uso de armas brancas.

“O recurso a armas brancas era algo que ainda não estava propriamente implementado no modo de convívio dos jovens e na forma como interagiam em momentos de conflito, mas já acontecia há algumas décadas em alguns países europeus. Uma tendência que chegou tardiamente a Portugal”, disse.

O oficial da PSP ressalvou que as armas brancas não são só utilizadas para roubos, sendo também usadas “para qualquer tipo de confronto”, como “ajustes contas” e “disputas de diálogos nas redes sociais que por vezes acabam na rua”.

Hugo Guinote acrescentou também que, entre os jovens mais velhos, “o convívio à noite é neste momento frequentado por portadores de armas brancas”.

De acordo com a PSP, as ocorrências reportadas por delinquência juvenil obedecem a um padrão ao longo do ano, sendo maior no início e do fim do ano letivo.

A PSP tem manifestado preocupação com a delinquência juvenil e esta semana, na cerimónia do dia do Comando Metropolitano de Lisboa da Polícia de Segurança Pública (Cometlis), o comandante do Cometlis, Paulo Pereira, abordou este problema.

“A PSP enfrenta os seus efeitos no terreno debatendo-se com uma conflitualidade e violência crescente na prática de crimes com o envolvimento de pessoas cada vez mais jovens”, disse.

O comando do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP deu conta que, em 2021, a polícia sinalizou às Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) 4.324 casos de crianças e jovens para que fossem tomadas “as medidas mais adequadas”.

O aumento da criminalidade grupal e delinquência juvenil em 2021 levou o Governo a criar, em junho, a Comissão de Análise Integrada da Delinquência Juvenil e da Criminalidade Violenta.

Esta comissão para a delinquência juvenil aprovou em outubro nove recomendações para serem incluídas na Estratégia Integrada de Segurança Urbana, que deverá ser em breve aprovada pelo Governo.