“Criar sonhos é uma profissão séria” e é assim que Marco Balich assume ganhar a vida. Foi ideia sua pôr os Pink Floyd a darem um concerto num palco flutuante na cidade de Veneza, de onde é natural, no ano de 1989. Este domingo, toda a cerimónia de abertura do Mundial do Qatar, que decorreu no Estádio Al-Bayt, teve assinatura deste diretor artístico especialista em eventos de larga escala.

Se gerir as 900 pessoas que participaram neste espetáculo parece um desafio hercúleo, Marco Balich revelou capacidade para executar a tarefa. As experiências que somou ao longo dos anos ajudaram. Em 2016, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, teve que comandar 900 pessoas que participaram, atrás das câmaras, na cerimónia de abertura da eclética competição e ainda 12.000 bailarinos e coreógrafos. Para se ter noção da dimensão dos eventos que comanda enquanto diretor executivo, a logística do evento do Rio obrigou a que três fábricas tivessem que se dedicar exclusivamente, durante seis meses, ao fabrico dos 12.000 pares de sapatos que os participantes usaram.

Espetáculos como o que realizou no Brasil são o dia a dia de Marco Balich que foi responsável pelas cerimónias de um número recorde de 14 Olimpíadas. Começou em 2002, nos Jogos Olímpicos de inverno, em Salt Lake City, e está responsável pelas cerimónias dos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024. A especialização em eventos de larga escala, que, conta, demoram dois anos a preparar, valeu-lhe um Emmy, em 2006, e um Compasso d’Oro (prémio de design industrial), em 2017.

Em todos os eventos que Marco Balich realiza há um denominador comum, a emoção que une milhões de pessoas. “A emoção é a chave para uma experiência bonita e as emoções são um momento social. Não podes ter um momento de alegria pura sozinho”, confessou numa entrevista, em setembro, a Alain Elkann. Numa apresentação que faz no site da empresa Balich Wonder Studio, acrescenta: “Acreditamos que as emoções são a essência da nossa identidade e nós expressamos a nossa identidade em tudo o que fazemos”.

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Serve-se do sentimento para apimentar os eventos desportivos que celebra, mas a inspiração chega de outras áreas. “Na Páscoa, o Papa Francisco celebrou uma missa para uma praça vazia. Ele estava sozinho, mas todos sentimos que aquilo foi forte. Foi emocional. Foi uma tomada de posição. Um idoso sentado numa cadeira a fazer as bênçãos de Páscoa foi algo que me tocou e não sou particularmente religioso. É o exemplo perfeito do que precisas para que algo seja especial. É por isto que os eventos desportivos são a única coisa que as gerações jovens veem na televisão, porque, independentemente de ser a Fórmula 1, futebol ou os Jogos Olímpicos, o que se está a ver está a acontecer efetivamente ali, naquele momento”.

Por força das circunstâncias, as polémicas que envolvem o campeonato do mundo deste ano proacabaram por dividir mais do que unir. Marco Balich admitiu, na referida entrevista a Alain Elkann, que promover um espetáculo deste tipo tem sempre como objetivo “fazer o país que acolhe a competição orgulhoso e divulgar valores e símbolos culturais”. Ao jornal a Marca, sobre a cerimónia de abertura do Mundial, o diretor artístico disse que as críticas ao Qatar são “justas”, mas que “é preciso valorizar o esforço do país para se mostrar ao mundo. “O Qatar quer dizer ao mundo que conserva as suas tradições, mas que o país olha para o futuro”, garantindo que “o futebol une ricos e pobres”.