Enviado especial do Observador em Doha, no Qatar

A certa altura da segunda parte, já com o resultado bem desnivelado para a Inglaterra, Carlos Queiroz, que esteve sempre na zona da frente da sua área técnica, virou-se para trás, andou até ao banco, foi um pouco mais para ao lado e começou a pedir o apoio do público com os braços. Uma, duas, dez vezes. Depois foi aplaudindo para a mesma zona entre central e lateral onde se ia concentrando em maior número a grande falange de apoio iraniana, enviou mesmo uns beijos para essa zona, voltou a pedir apoio aos adeptos. Estava ali uma mensagem que, naquela fase, valia mais do que o que estava a acontecer no relvado.

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Apenas num jogo o Irão sofreu tantos golos nas seis partidas que tinha realizado até agora em fases finais com Carlos Queiroz no comando (seis) e defrontando adversários como Argentina, Nigéria, Bósnia, Espanha, Marrocos ou Portugal. Da lesão madrugadora de Alireza num choque arrepiante com Majid Hosseini que levou a duas longas paragens até às pouco habituais falhas nos lances de bola parada defensivos, tudo correu mal a um Irão que no setor recuado esteve muito longe daquilo que é a sua matriz e que nunca conseguiu sair em posse também pelo mérito inglês de perceber onde e quando formar zonas de pressão.

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“Estou muito orgulhoso que os jogadores se tenham levantado e lutado, que tenham marcado dois golos à Inglaterra nestas circunstâncias. Não foi uma derrota para nós, foi um bom treino ao mais alto nível. Está tudo em aberto, pois ainda podemos somar seis pontos e conseguir a qualificação. Aprendemos lições, o que melhorar. Agora, só nos resta lutar nos encontros seguintes. Estamos mais preparados para o País de Gales”, comentou o técnico após o jogo, entre o orgulho nos jogadores e críticas a alguns adeptos.

“Os meus jogadores não estão no seu melhor em termos de concentração, pelos problemas que os rodeiam. Eles são seres humanos, têm filhos, têm um sonho que é jogar pelo seu país, pela sua gente e desfrutar. Há alguns anos tínhamos o apoio de todo o mundo. Agora não e não entendo que venham se não é para nos apoiar. Os que não nos quiserem apoiar, não necessitamos deles, é melhor que não venham, que fiquem em casa. Não necessitamos de gente que só nos apoia quando ganhamos”, atirou ainda o português.

Já Mehdi Taremi, que se estreou a marcar em fases finais de Mundiais e logo com dois golos, acabou por também um dos principais protagonistas do Irão. Pela forma como foi motivando os companheiros ainda no início da partida, como deu o mote entre uma decisão conjunta de ninguém cantar o hino que provocou aplausos, assobios e lágrimas de emoção nas bancadas, como foi sempre buscar a bola à baliza de Pickford mesmo tendo feito o 4-1 a 25 minutos do final e o 6-2 a acabar os descontos. No final, e à semelhança de todo o plantel iraniano, o avançado não parou na zona mista para falar e seguiu direto para o autocarro.

O jogador do FC Porto entrou para a história do Irão por ter sido o primeiro jogador de sempre a bisar num encontro a contar para a fase final do Campeonato do Mundo, terminando o jogo no Khalifa a usar da palavra naquela habitual roda entre todos os elementos no centro do relvado como está habituado no Dragão. Em paralelo, o número 9 tornou-se o sétimo jogador dos azuis e brancos a marcar em Mundiais, depois de Benni McCarthy, Álvaro Pereira, Raúl Meireles, Juan Quintero, Silvestre Varela e Jackson Martínez.